A vida é um minuto!

Está quase terminado o ano de 2009.
É um minuto, a vida!

Os dias sucedem-se, formando meses e anos.
E nem damos por isso.
O maior desperdício ainda é o tempo que passamos a dormir.
No fim de 60 anos, só foram vividos 40!
Dormir... dormir para quê? Acho que deveria dormir quem quisesse, quem gostasse, como o faz quem fuma, viaja ou vai à praia.
E o trabalho, a despesa e o tempo gasto para nos alimentarmos?
Gastamos 6 horas por dia, no mínimo, para preparar e tomar as refeições, já não falando no tempo para fazer as compras necessárias par tal, acabando por somar mais de 90 dias por ano, que nos tais 60 anos vai dar a bonita soma de mais de 14 anos.
O ideal seria comermos uma vez por semana, ou vá lá, uma vez por dia.
É que os anos passam a correr.
Não sobra tempo para ler todos os livros que gostaria, para ver todos os filmes, para ouvir todas as músicas.
E quando é que poderemos passear, viajar, fazer uma sesta, conviver com os amigos, com a família?
Passar 20 anos a dormir? É um desperdício.
Se descontármos os 20 anos que temos que trabalhar... lá se vai a nossa vida entre trabalhar, comer e dormir.
Pouco resta para tudo o mais.
E se pensássemos aproveitar melhor esta passagem por cá?

Temporal e Natal

Saí por uns minutos para comprar pão e quando voltei, o portão do jardim não funcionava.
Uma rajada de vento atirou-o no sentido contrário, saltou a peça que o segura e fiquei sem poder entrar.
Tentei de todas as formas colocá-lo no sítio, mas não tive força.
Pedi ajuda a uma vizinha e o esforço das duas foi insuficiente para o voltar a colocar no lugar.
Por fim, com uma alavanca, o marido da vizinha lá conseguiu fazê-lo funcionar.
Já deitada, ainda pensava na força terrível do vento que conseguiu fazer uma acção daquelas em segundos.
Adormeci tarde e ainda não tinha dormido uma hora, quando começou o temporal.
Vento assustador fazia abanar como leques os estores, os gradeamentos das casas ao lado, parecia que ia fazer voar as casas como penas de passaritos.
Foram horas de susto, em que só ouvia os vasos do meu quintal serem projectados e partirem-se como ovos.
O som dos grandes potes, que eu tanto estimava, a bater no chão e a partirem-se, fazia-me tremer de medo e de pena.
Tentava identificar o que se ia estragando a cada rajada de vento e comecei a pensar em descer as escadas e ficar no rés-do-chão, lugar que considerava mais seguro.
Fiquei encolhida na cama e esperei que o vento amainasse e a chuva parasse de cair.
Só pela manhã foi sossegando aos poucos e me deixou passar pelas brasas, ainda com a preocupação do que iria encontrar quando abrisse a porta.
Sem electricidade, sem aquecimento, sem TV, sem coragem... lá fui ver o que restara da terrível noite.
As telhas da vivenda ao lado, voaram.
As grades do jardim da outra vizinha, que seguravam as trepadeiras, partiram-se em bocadinhos
que se espalhavam por todo o lado.
Os meus potes de barro, com plantas tão bonitas, jaziam como soldados agonizantes no campo de batalha, com as entranhas de fora e partidos de tal forma que nem deixavam mostras do que tinham sido as suas formas.
Restava-me o consolo de que tudo aquilo tinha remédio...
A lareira fez companhia e uma vela ajudou a não andar contra as paredes.
Foram 24 horas sem electricidade, mas mesmo assim com sorte, pois na cidade ao lado, 48 horas depois ainda estava tudo apagado.
Uma véspera de Natal triste e desconfortável.
A Natureza começa a vingar-se!

Sara

Um sonho...

Tenho andado pouco por aqui, porque tenho passado mais tempo nas minhas recordações em Tempo Diferente.
Talvez seja esta Quadra Natalícia, talvez a solidão de que sofro em recaídas como se fosse doença crónica, talvez a procura de quem fui, da força que pensava ter e dos sonhos que me empurravam para a frente.
Ora passo o meu tempo a ver filmes, ora leio, leio, leio, sem encontrar um tema que me afaste desta insatisfação, ora consumo música até ao cansaço... sempre com a esperança de ocupar o lugar que continua vazio.
Deveria ser preso, quem mata um sonho.

"Eu conheço um país..."

Nicolau Santos, Director - adjunto do Jornal Expresso, In Revista "Exportar"

"Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade mundial de recém-nascidos, melhor que a média da UE.
Eu conheço um país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores.
Eu conheço um país que é líder mundial na produção de feltros para chapéus.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventa jogos para telemóveis e os vende no exterior para dezenas de mercados.
Eu conheço um país que tem uma empresa que concebeu um sistema pelo qual você pode escolher, no seu telemóvel, a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventou um sistema biométrico de pagamento nas bombas de gasolina.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventou uma bilha de gás muito leve que já ganhou prémios internacionais.
Eu conheço um país que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, permitindo operações inexistentes na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos.
Eu conheço um país que revolucionou o sistema financeiro e tem três Bancos nos cinco primeiros da Europa.
Eu conheço um país que está muito avançado na investigação e produção de energia através das ondas do mar e do vento.
Eu conheço um país que tem uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para toda a EU.
Eu conheço um país que desenvolveu sistemas de gestão inovadores de clientes e de stocks, dirigidos às PMES.
Eu conheço um país que tem diversas empresas a trabalhar para a NASA e a Agência Espacial Europeia.
Eu conheço um país que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas.
Eu conheço um país que inventou e produz um medicamento anti-epiléptico para o mercado mundial.
Eu conheço um país que é líder mundial na produção de rolhas de cortiça.
Eu conheço um país que produz um vinho que em duas provas ibéricas superou vários dos melhore vinhos espanhóis.
Eu conheço um país que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de pagamento de pré-pagos para telemóveis.
Eu conheço um país que construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pelo Mundo.
O leitor, possivelmente, não reconheceu neste país aquele em que vive...
PORTUGAL
Mas é verdade.Tudo o que leu acima, foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses.
Chamam-se, por ordem, Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Out Systems, WeDo, Quinta do Monte d'Oiro, Brisa Space Services, Bial, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Portugal Telecom Inovação, Grupos Vila Galé, Amorim, Pestana, Porto Bay e BES Turismo.
Há ainda grandes empresas multinacionais instalada no País, mas dirigidas por portugueses, com técnicos portugueses, de reconhecido sucesso junto das casas mãe, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal e a Mc Donalds (que desenvolveu e aperfeiçoou em Portugal um sistema que permite quantificar as refeições e tipo que são vendidas em cada e todos os estabelecimentos da cadeia em todo o mundo).
É este o País de sucesso em que também vivemos, estatisticamente sempre na cauda da Europa, com péssimos índices na educação, e gravíssimos problemas no ambiente e na saúde... do que se atrasou em relação à média UE...etc.
Mas só falamos do País que está mal, daquele que não acompanhou o progresso.
É tempo de mostrarmos ao mundo os nossos sucessos e nos orgulharmos disso."

Humanidade robot

Quantas crianças das nossas cidades já viram uma galinha viva?
Quantas já viram como se semeia, rega e arranca uma cenoura da terra, ou um ninho de passarinho com filhotes de olhos pretos e bicos escancarados?
E o nascer do Sol ou o seu adormecer alaranjado atrás dos contornos do horizonte?
Pensam que os frangos nascem e crescem sem cabeça, sem roupa e manetas, tal como os podem ver no supermercado, único local onde contactam com alguns elementos da natureza.
Para os nossos filhos mais novinhos o porco é bifana, costeleta ou chouriço.
Nos desenhos animados conhecem os porquinhos, mas estes falam, vestem e brincam como eles, diferindo apenas nos narizes mais redondos que o habitual e as orelhinhas cor de rosa.
As alfaces, as bringelas, as cenouras e as batatas são feitas pelos homens nas fábricas, tal como eles moldam a plasticina no jardim escola.
O sumo de ananás vem do supermercado, assim como o de morango e o de pêssego.
Até a água boa para beber de lá vem, em garrafas e garrafões, já que a que sai da torneira, dizem-lhes que não serve para beber e a que provam no mar é salgada e cheia de lixo.
A chuva vem do céu e é uma seca, porque impede que brinquem no pátio. Às vezes é gira, porque faz lama e charcos onde podem meter os ténis de marca, à saída do colégio, quando vão a correr para o carro, arrastados pelos pais. A utilidade da água, além de ser para beber, talvez arrisquem a dizer que é para lavar os carros, encher as piscinas e regar a relva do jardim da vivenda.
Embora digamos constantemente que as nossas crianças sabem tudo de computadores, de canais da TV Cabo e de telemóveis, dá tristeza ver como crescem longe da natureza.
Nunca viram um riacho, a correr límpido entre os seixos do seu leito e nas suas margens, a pequena vegetação a mergulhar a folhagem na água de cristal.
Nunca ouviram o arrolhar dos pombos no telhado do palheiro, nem o galaró cantar ao amanhecer. Não dormiram à sombra duma árvore, em tarde de calor, nas traseiras da casa, respirando o oxigénio com que ela generosamente os presenteia, sem cobrar qualquer taxa.
E à noite, em vez de luzes coloridas de publicidade animada, nunca ficaram na varanda a olhar o céu estrelado, medindo apenas a imensidão do universo e o silêncio - o silêncio tão ausente dos seus dias.
As fontes estão poluídas, os rios cheiram mal, não podem andar descalços por causa dos vidros, das latas e dos arames.
Até olhar o firmamento, já não é possível sem tomar os satélites, por estrelas.
E se os olhos não sentem a ausência das cores da natureza, por terem as tintas que as imitam, se os ouvidos se habituaram aos sons das baterias, violas eléctricas e estereofonias, em vez do canto dos pássaros e das canções trauteadas pela mãe nos seus trabalhos domésticos, o olfato perde o cheiro da terra molhada pela chuva na tarde de Verão e o paladar nem adivinha o que é uma cereja colhida da árvore, estalar entre os dentes e suculenta, deixar escorrer o sumo que nos tinge a camisola da cor do sangue.
O pôr do Sol é tão habitual, que nunca pararam para o ver e só dariam conta que o Sol nasce, se um dia ele não nascesse.
E assim o progresso vai roubando, aos poucos, a humanidade das gerações que chegam.

Pessimismo?


Telenovelas

Há já algum tempo que as telenovelas deixaram de ser histórias de amores e enganos, de truques e armadilhas.
Neste momento tiro o chapéu às telenovelas brasileiras.
Os assuntos que nelas são tratados, a abordagem dos problemas sociais feita de forma tão lúcida e acessível, a oportunidade de ensinar, de chegar às grandes massas, são notáveis.
Por outro lado, os actores cada vez são mais fantásticos. Que maravilhosas representações!
Depois vem a fotografia, a música, os cenários.
Quem se lembra do jovem actor que representava um doente de esquizofrenia?
Quem pode ter vergonha de dizer que vê telenovelas, quando elas são já verdadeira arte de fazer teatro, televisão e cinema?

Pobre de espírito


O senhor não vê que ao boicotar o trabalho de alguém, não está a mostrar a incompetência dessa pessoa, mas a sua?

A tarefa mais simples que dependa da sua colaboração, arrasta-se no tempo e é mal feita ou fica incompleta, para a prejudicar.

Não vê que isso não prova que a pessoa que o senhor quer deixar mal vista, não sabe fazer o que lhe foi pedido, mas sim, que o senhor não é um profissional?

Se ela tem de montar um jornal de parede e o senhor é chamado para colocar uma simples luz que o ilumine, se para tal leva 3/4 meses... não mostra que ela não é capaz de escrever os artigos, dar forma ao jornal, mas sim que o senhor não corresponde ao que deve ser a sua função - a de electricista na sua forma mais simples, que apenas tem de esticar um fio e montar uma lâmpada!
Quer provar à viva força com o seu trabalho mal feito, que ela não sabe fazer o dela???

Isso é o que se chama pobreza, pobreza de espírito.

Música especial

O original

Georg Friedrich Haendel (1685-1759), ópera Rinaldo. Aria “Lascia la Spina”.
A interpretação (talvez) mais fiel à partitura original é a da mezzo-soprano Cecilia Bartoli, “menina bonita” do Quadratim e do Pretérito Mais-Que-Perfeito.
No PmqP foi publicado a 23.Fev.2009, a propósito do aniversário do nascimento de Haendel, este clip de um espectáculo de Bartoli, acompanhada, salvo erro, pos “Les Musiciens du Louvre”, grupo de câmara que frequentemente acompanha a mezzo-soprano italiana nas suas (muitas) interpretações do canto barroco.

Uma bonita versão
A interpretação de Lascia la Spina pelo soprano Sarah Brightman, que “aproxima” mais a leitura original da obra das versões que modernamente são apresentadas em filmes, telenovelas, etc.
A peça é por vezes apresentada com o título “Lascia ch’Io Pianga”





No vídeo reproduzido acima, uma versão da aria de Haendel arranjada por Paul Schwarz, com o título “Lascia” e utilizada recentemente na telenovela “Viver a Vida”, realizada pela Rede Globo e transmitida em Portugal pela SIC.

A magia das palavras

"O Sorriso

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso. "

Eugénio de Andrade

Lenga lenga

Outra lenga lenga da minha infância


Ana Badana
Roca de cana
Fita vermelha
Rabo de ovelha
Mija no pote
Faz vinagre forte.


A música dos nomes em ana...

Israel, tão distante.

Sou católica e pouco sei da religião Judaica, mas quando era miúda queria ir para Israel ajudar a construir a nova Nação dos Judeus.
Li todos os livros de Leon Uris, li tudo sobre os Kibutz, era apaixonada pela luta e pelas vitórias daquele povo que sofrera o Holocausto.
As mulheres militares, os laranjais a crescer no deserto, a união que faz a força... eram temas que me empolgavam.
No entanto, mal conhecia o terror que o meu país vivia sob a ditadura de Salazar.
Cresci com as palavras do meu pai bem gravadas no meu ouvido de que a política é para os políticos e nós, simples mortais, teríamos de aceitar a nossa sorte calados, para não sofrer as consequências. As paredes tinham ouvidos...
Era o medo instalado anos e anos a fio.
A política não fazia parte da nossa vida e apesar de se viver em democracia há mais de 3 décadas, continua a não fazer parte.
Poucos portugueses conhecem a ideologia dos partidos que traçam o caminho da nossa Nação.
Sabemos alguma coisa pelo que vamos lendo nas letras gordas dos jornais, pelo que vamos ouvindo nos noticiários televisivos, mas não nos empenhamos em aprender, em compreender e principalmente, em ajudar a construir um país melhor.
Não enfrentamos os problemas... não nos comprometemos.
Fazer parte de um grupo que defende a Natureza, que defende um Povo, que luta por alguma coisa que melhore a breve existência do ser humano, dá trabalho, tira tempo, é cansativo e muitas vezes frustrante.
Mas falar, criticar, exigir... é a nossa especialidade. Mesmo sem sabermos o que estamos a dizer!
Quem defende o Homem do poder destruidor do Homem?
Quem nos defende de nós próprios?

Fernando Pessoa

"Deve chamar-se tristeza"

"Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.

Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe estará uma estrela
E ao perto está não a Ter.

Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó."


Poesias inéditas - F. Pessoa

Muro de Berlim

A criatividade do ser humano não tem limites e explode mesmo nas condições mais difíceis.

Para quem tem a liberdade na alma,
não há muro suficientemente alto para evitar que o sonho nasça e se realize.
Para quem tem a esperança no
coração, a tirania dos homens é um muro que eles próprios derrubarão.
O sonho, a força e a paixão levam sempre a melhor... Os que não conseguem ouvir os seus sentimentos, ficarão para trás.

Cisjordânia.


Mas o homem cria outros muros.
Cisjordânia é assim.

São 6 mts de altura para ilustrar o ódio, a raiva, a vingança...

O que ensinamos aos nossos filhos?

Berlim... 20 anos.

Muro de Berlim, Cortina de Ferro, Muro da Vergonha.
Mais de 5000 pessoas foram tentadas a saltá-lo... 200 perderam a vida atrás do seu desejo de ser livre.
Balas, minas, arame farpado, jactos de água...
Como deve ser triste viver a sonhar com uma liberdade que nos negam, só porque têm mais força... mais armas.
Um país derrotado, uma cidade dividida, famílias separadas, sonhos mil vezes adiados.

Caiu, finalmente, o Muro da Vergonha. E em 2 dias, mais de 2 milhões de pessoas atravessaram de Berlim Leste para Berlim Oeste, festejando esse momento tão importante para toda a humanidade.

Foi há 20 anos. Continua a ser festejada.
A festa da liberdade!

Natal...Já?

Já se fala em Natal!
Eu sei que o tempo passa num instante, mas cada vez começa mais cedo esta barafunda nas ruas, nas lojas, nas cabeças das pessoas.
Hoje pensei fazer doce de abóbora e como não tinha açúcar suficiente, nem nozes, fui tomar um café e aproveitei para dar um salto ao supermercado.
Quando entrei, fiquei parada no meio do hall. Não queria acreditar que aquela gente toda estava à espera para fazer embrulhos de Natal!
Acho um pouco demais.
No ano passado, quando no princípio de Dezembro fui às compras normais para casa, fiquei assustada ao ver os carrinhos à minha frente cheios de caixas de chocolates e de garrafas de bebidas.
Primeiro, pensei que me distraíra na data e que já estava na véspera de Natal. Depois fiquei admirada com a quantidade daquelas coisas que as pessoas levavam.
Uns carrinhos tinham dificuldade em equilibrar a montanha de compras, outros eram o transporte de quantidade imensa de caixas de Ferrero Rocher e de garrafas de scotch.
O que ia mesmo junto a mim, levava mais de 30 ou 40 caixas de chocolates e de vinho, apenas.
Pensei na despesa, mas fiquei mais chocada quando vi pagar com recurso ao crédito.
Oferecer o que não temos, fazer vista com o que teremos de pagar durante meses... Não me entra na cabeça!
Não é Natal, é disparate.

A Tradição

"A tradição já não é o que era"
Esta frase concebida, penso eu, pelos especialistas de publicidade, é excelente.
Todos os dias há situações que me fazem repeti-la.
Lembrei-me dela ainda há pouco tempo quando pensei no "adeus" aos funcionários dos nossos serviços, quand são transferidos ou aposentados.
Com dias de antecedência já se organizava o almoço de despedida.
Depois era o alvoroço na hora da saída, todos juntos no cortejo dos carros a caminho do restaurante, as risadas e as conversetas na hora de escolher lugar nas mesas, a sala repleta só com o "nosso" grupo!
Um de nós mandava fazer o ramo das flores com toque especial para oferta, outro escolhia o cartão com cuidado e fazia-o circular para que fosse assinado por todos. Durante o almoço, cuja ementa também merecera alguma atenção, contavam-se as velhas histórias passadas nas horas de trabalho e todos riam, mesmo que já as tivessem ouvido dezenas de vezes.
Depois da sobremesa, era o momento dos brindes e do discurso.
A despesa era dividida por todos sem problemas de orçamento.
Mas parece que a crise já chegou às despedidas.
Até essas são agora a seco!
A tradição já não é o que era, realmente!

"Os narcísicos" de Daniel Sampaio

E agora... a reflexão.
"Portugal anda cheio de chefes narcísicos. Querem dominar tudo e todos e não mostram qualquer empatia pelos problemas dos que os rodeiam.
A principal característica destas pessoas é um sentimento grandioso da sua importância. Hipervalorizam todos os dias as suas capacidades e exageram tudo em que participam, exigindo que os outros dêem o mesmo valor ao que atribuem a si próprios. Embora o disfarcem com cuidado, desvalorizam as realizações alheias, sendo frequentes os comentários de que foram os primeiros a realizar os feitos de que - às vezes - são os únicos a ter orgulho.
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Os comportamentos arrogantes e altivos destes chefes são característicos. Muitas vezes mostram desdém e atitudes de complacência, considerando que os sentimentos dos outros são sinais de fraqueza ou vulnerabilidade, por isso não se detêm no caminho que os levará à glória.
Quando não são servidos como desejam, ou quando alguém ousa uma crítica, respondem com agressividade, como se estivessem a ser atacados.
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Para manterem a ilusão de auto-suficiência (necessária por causa do temor que os afectos positivos possam conduzir à destruição do sentido de si próprios), não se relacionam profundamente com ninguém, porque assim julgam controlar tudo à sua volta e evitar a destruição psíquica da sua (afinal) frágil pessoa.
Estes chefes não são verdadeiros democratas: falta-lhes o sentido do reconhecimento do outro, a partilha e a capacidade de amar que caracteriza os verdadeiros líderes: podem mandar, mas não serão amados, apenas tolerados, mais tarde ou mais cedo cairão do pedestal que construíram para si próprios.

(Nota: Esta crónica contém fragmentos da DSM-IV-R, classificação americana das doenças mentais.)"

Daniel Sampaio

Adeus

Não gosto de despedidas.
Faço os possíveis para me escapar à hora derradeira da despedida com abraços e adeus de olhos molhados.
Mas, se consigo evitá-las, também fico aborrecida, porque aquele momento da separação é importante para continuar em frente sem problemas.
Parece que fico com a ideia de que ainda não houve a separação, que a qualquer momento vou ver de novo quem já partiu.
Por isso, o melhor é mesmo enfrentar o sofrimento e levar um lenço no bolso para não fungar com o pingo da comoção.
Adeus, boa viagem, conduza com cuidado, avise quando chegar. E a seguir... um momento de nostalgia e a saudade a crescer.
Como é que vou ultrapassar mais um momento doloroso de adeus? Fum, fum.
Já começo a pensar na hipótese de o evitar... lá vem o dilema.

Lenga-Lenga

Hoje lembrei-me de uma lenga-lenga que cantava na minha infância e apeteceu-me recordá-la aqui.
Os sons, as imagens e os costumes que me trazem à memória a minha terra, a minha família e principalmente os meus dias de despreocupação , dão-me alento para aguentar tantas tristezas deste meu dia a dia.
Procurei uma imagem que ilustrasse as minhas recordações e hoje, por momentos, voltei a ser a garota de cabelo cortado à rapaz, que subia a Rua da Cale, a saltitar ora numa perna ora noutra e cantava:

Joaninha voa, voa
que o teu pai foi para Lisboa
para comprar uma sardinha
para dar à joaninha.

Um momento de melancolia

A vida tem momentos difíceis de definir.
Não há nada que os mostre diferentes, porque não há tumultos, não há desgraças, não há mudanças, não há nada que os diferencie de todos os outros vividos recentemente, no entanto, nós sentimos mais a solidão, lembramos mais as coisas que nos magoaram, temos menos esperança, não queremos continuar a lutar.
A realidade aparece de repente nua e crua a nossos olhos e instala-se no nosso peito, não nos deixando respirar, consumindo as energias que constantemente renovamos para ultrapassar isso. Faz-nos companhia a tristeza, o silêncio e o desamparo.
Continuar obriga a uma força que não temos e ficar, uma desistência que nos derruba.
Neste momento tudo parece igual à minha volta, mas nada é o que eu quero, o que eu quis ou o que eu sonhei.
Parecia tudo como desejei, mas num instante apenas, a realidade mostra-se e eu sinto-me perdida. Como se este lugar não fosse o meu, nem este presente fosse o que procurei.
A tristeza vem, magoa e vai-se embora a rir-se de mim.

???

Tenho inveja das pessoas que sabem bem o que querem.
Sabem e acreditam mesmo naquilo que escolheram.
Uma pessoa que escolhe para seu clube o Benfica, ou o Sporting, que escolhe o PS ou o PSD, que segue o Reino de Deus ou os Adventistas do Sétimo Dia, que escolhe e luta pela sua escolha com todo o seu entusiasmo, não duvidando nunca que é essa a melhor opção, a única 100% certa, sem qualquer dúvida ou excepção, deixa-me enternecida por tamanha fé, tão forte convicção.
São pessoas que discutem, gritam, zangam-se, espumam e quase dão a vida pelo seu clube, partido ou religião, sem esmorecerem no seu entusiasmo nunca (jamais, como diria o outro).
Fico invejosa das suas decisões e curiosa por saber como conseguiram estudar, analisar, comparar, provar e comprovar, até atingirem o grau de conhecimento que lhes dá essa força.
Ou então será apenas uma escolha de cor, de simpatia, de musicalidade, de moda?
Mas uma opção de cor ou moda, é capaz de fazer assim tanta efervescência?
A verdade é que, seja apenas fé ou antes muito conhecimento, me deixam triste com as minhas interrogações, as minhas hesitações e invejosa com tais certezas.

Bon Jovi




O que é bom, é bom para sempre!

Nada vale a pena...

Sinto que nada do que faça vale a pena.
Muito menos o que sonho.
Um sábio dizia "tudo vale a pena, se a alma não é pequena".
Se assim é, eu tenho a alma pequena!
Cumprir os objectivos não é suficiente. Superá-los, não é relevante.
Ser justo é relativo. Se estás comigo, posso arranjar-te uma justiça. Se não estás, a justiça terá de ser outra, tem lá paciência!
Estudar, avançar... Só interessa a mim mesmo.
Há sucessos por aí, que eu tento compreender e não consigo.
Nem pela qualidade, nem pela originalidade, pela beleza ou outra característica qualquer, se destacam, merecem a atenção que de repente têm. Procuro o segredo, mas ainda não descobri. Sabia-me bem, nem que fosse uma vez por outra.
Não chego lá, por mais que me esforce.
Por isso acho que não vale a pena.
A minha alma é pequena, definitivamente.

Pedro Álvares Cabral


Quantas vezes Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil, terá ficado nesta janela a olhar a Serra da Estrela e a recordar o verde mar que o levara a Terras de Vera Cruz?

Belmonte


Belmonte- a terra de Pedro Álvares Cabral, o homem que navegou até ao Brasil pela primeira vez.
Não era a Índia, mercado além-mar que o navegador português procurava, mas também encheu de riqueza e glória o reino de Portugal.
Pedro Álvares Cabral é o orgulho da sua terra- Belmonte.
Tudo está agora preparado para receber os turistas que chegam todos os dias para olharem as pedras do seu castelo e as inúmeras igrejas que o rodeiam.
Ao passar frente a uma pequena capela, reparei que estava aberta. Atrevi-me a entrar para ver, claro.
Logo que passei a porta, vi uma senhora atrás de um pequeno balcão montado junto da pia da água benta. Dei os bons dias juntamente com um passo para o centro da pequenina capela. Ela chamou-me e comunicou-me que para ver a capela teria de pagar.
Mas eu já estou a ver a capela, respondi admirada. De tão pequena, com um altar a meio e outros dois de cada lado, bastava um olhar para ficar toda vista.
A senhora insistiu que eu tinha de pagar e depois teria direito a ver outras existentes em Belmonte.
Não aceitei e saí, dando para trás o passo que me permitira entrar.
Eu queria ver Belmonte vivo, onde as pessoas viviam e conviviam.
Encontrei então uma bela casa de pedra, com a entrada que fotografei, sob o olhar sorridente da proprietária.

Fundão, a terra da minha mãe


Fundão e Cova da Beira - o vale entre a Serra da Gardunha e a Serra da Estrela é a terra da minha mãe e a terra minha mãe.

Visto da Serra dos castanheiros e das cerejeiras, o Fundão é o coração da Cova da Beira.

Aldeias da Cova da Beira

Logo a seguir à Aldeia de Joanes, aparece-nos a Aldeia Nova do Cabo.

Como a placa mostrava "Aldeia Nova do Cabo 1" indicando que esta se encontrava a 1 km dali, nós diziamos por brincadeira "Aldeia Nova do Cabum".

É muito bonita esta aldeia.
A Igreja está situada numa parte mais alta e tem a toda a volta um pátio com belas Tílias.


A escola com as características colunas de granito e grades de ferro, é um belo edifício, num espaço magnífico, na encosta da Serra da Gardunha.
Quanto não se terá conversado e namorado nesta varanda de beleza sem igual?

A terra do meu pai


A Cova da Beira encheu-me de mimo na minha juventude e eu nunca esqueci isso.

Acho-a linda e estou convencida que é linda, apesar de saber que a vejo com os olhos do coração.
Um destes fins de semana tive uma manhã livre e fui dar uma vista de olhos. Fui matar
saudades.
A aldeia do meu pai é logo ali, à saída do Fundão- Aldeia de Joanes.
Esta é a Igreja, simples mas acolhedora, com altares de talha dourada, bancos de madeira e sempre enfeitada com flores angariadas nos jardins da aldeia.

A Junta de Freguesia funciona nesta casa lindíssima, que a capela denuncia como afidalgada.
À saida, uma casa particular que mostra como o granito é característica da Beira e como torna as suas aldeias tão belas.

Árvores, pedra e muita simpatia, lá estavam, como na minha infância.

Chuva

Emigrantes

Há alguns anos atrás, por esta altura, já a Beira estava cheia de carros com matrículas de França, da Alemanha, da Suíça e do Luxemburgo, principalmente.
No mercado, logo pela manhã, esgotavam-se todos os produtos frescos, pedidos em português misturado com palavras estrangeiras já bem conhecidas doutros Verões.
A roupa que a mulher da Beira vestia, raramente fugia ao tom escuro, negro a maioria das vezes, mas nesta altura tudo mudava. As ruas enchiam-se de cores claras, garridas e brilhantes, os tecidos eram também mais leves, de fibras quase transparentes e sem necessidade de serem passadas a ferro.
As lojas estavam sempre apinhadas na manhã de sábado, quando vinham comprar os alimentos para o fim de semana e aproveitavam para procurar as roupas de cerimónia, que vestiriam nos casamentos marcados para o mês em que a família estaria toda reunida.
Com frequência se viam carregar cerveja em grades, mostrando uma abundância que não era comum nestas terras de gente sem recursos.
Todos os fins de semana havia cortejos com fanfarra de buzinas e fitas de tule nas antenas dos carros, anunciando que mais uns noivos tinham sido abençoados.
Tudo era uma mostra daquilo que o trabalho no estrangeiro podia dar, valendo a troca de muitas saudades, por bons salários.
Era um cenário já habitual. Nós desdenhávamos, chamando-lhes franciús.
Hoje, sábado, a Beira está vazia e o comércio fechado por não valer a pena abrir as portas.
Nas ruas não se vê uma única matrícula estrangeira e o pouco movimento que se vê, é rotina de todo o ano.
Em vez de franciú, fala-se nas fábricas que fecharam, nas lojas em liquidação total, no desemprego e nas prestações em atraso.
Não se fala em viagens, na ida para as praias para escapar ao Verão tão agreste do interior, na compra de móveis e electrodomésticos, como era usual nesta época.
Vejo muita gente a viver com necessidades e a resolver problemas cada vez maiores.
No centro comercial ao lado da minha casa só a pastelaria está aberta e a única pessoa que vi, foi a empregada, que atrás do balcão, mostra ar de enfado.
Olho os preços das montras reduzidos a 50% e a 70%...
A loja dos queijos da Serra já não tem filas à porta e as prateleiras da perfumaria mostram uma pobreza de stock embaraçosa.
Talvez esteja enganada... As pessoas têm boas casas com piscina, vão aos supermercados fora de portas e estarão no Algarve.
Talvez eu esteja enganada, mas sinto falta de vida, neste Verão.
Sinto que o interior de Portugal está triste.

Einstein

Como podemos sofrer uma vida inteira por não aceitarmos como somos!
Há quem não aceita ser feio. Quem aceitaria, pergunto eu.
Há quem não aceita ser gordo demais, ser magro demais, ser alto demais, ser baixo demais... o que é demais, é demais!
Há quem não aceite ser pobre. Natural, claro. Quem gosta de ser pobre?
Há quem não aceita ser gago, ser vesgo, ser coxo, ser marreco, ser fanhoso. Natural!
Há quem não aceita ser preto, ser mulato, ser branco, ser amarelo, ser vermelho.
Há quem queira sempre ter outra coisa que não tem, ser outra pessoa que não é.
Fazemos dietas para emagrecer e dietas para engordar. Já se usaram ligaduras a achatar os seios... agora fazem-se implantes de silicone para os aumentar!
Fazemos cirurgia plástica, terapia da fala, esticamos os ossos, usamos roupa e calçado que disfarcem o que não gostamos.
Mentimos, fingimos, dissimulamos.
Fazemos burlas para ter o que queremos, ou furtos, ou roubos, ou assaltos à mão armada.
Tudo depende de como nos vemos, de como nos vêem, do que está na moda.Lutar pelo que desejamos, toma a forma que queremos, não a que seria indicada, a maior parte das vezes.
Será tudo tão linear?
Acredito que rouba, quem gosta de roubar e não porque é o único meio de deixar de ser pobre. Senão, todos os ladrões seriam os pobres (e os honestos, os ricos!!!)
Acho que sofre por causa da sua imagem, quem não tem outra coisa em que pensar, quem não se realiza noutras actividades, quem não consegue chamar a atenção senão pelo físico.
Resolvemos alguns dos nossos sofrimentos com as frases "não sou capaz", "não sei", "não tive quem me desse", "não tenho sorte", etc.
Eu, por exemplo, tenho o hábito de dizer que tenho pena de não saber música. Durante anos e anos tenho dito isso. Entretanto, já tive tempo de fazer 2 ou 3 cursos superiores de música!!!
Assumir que somos ignorantes, que somos cobardes, que somos preguiçosos, que somos vaidosos, que somos criminosos, que somos fracos... é difícil.
Cada ano que passa, sinto que damos valor ao que não interessa e desvalorizamos o que nos pode tornar mais felizes nesta passagem que é a vida.
Não fazemos o pic-nic, acusando as formigas...
Cada um de nós tem a medida apenas do que conhece, do que julga conhecer.
Ser rico, por exemplo: Qual é a minha medida de ser rico?
Ser bonito: Como se mede a quantidade de beleza? O que é para mim "ser bonito"? (Diz o povo que quem feio ama, bonito lhe parece...)
Ser perfeito: O que é isso?
Dizia há dias uma amiga minha, que mesmo com notas baixas no serviço (injustas), continuava feliz, pois o marido e os filhos davam-lhe sempre a nota máxima.
Sofrer uma vida inteira por ser baixo, por ser gordo ou por ser gago, é esquecer de apreciar a vida, de viver.
Tudo porque precisamos de ser aceites pelos outros, de caber nos padrões estipulados não sei por quem, nem porquê.
Tudo é relativo. Einstein foi sábio.

Ser feliz

Os pássaros são os seres mais felizes da Terra.
Podem voar, experimentar a cada instante a liberdade de planar nos céus e ver toda a imensidão de vales, montanhas, rios e mares, do alto das nuvens, sustentados por brisas suaves, ou tomar velocidade em voos mais audazes.
Pisam a terra fresca, acabada de lavrar, com a mesma segurança e àvontade como ainda há pouco eram embalados no ar.
Banham-se nos riachos, nas fontes, em simples goteiras, ou em charcos que a chuva formou.
Vivem em bando, mas sempre junto do seu parceiro, no ninho construído de novo, na ramada mais segura e maternal, que os acolhe sem cobrar renda.
Visitam jardins de mil cores, parques de sombras acolhedoras e ecos inspiradores, searas ondulantes de espigas douradas e papoilas de faces coradas, sem pagar portagem ou mostrar passaporte.
Poisam tão descontraídos no beiral da velha casa no largo da aldeia, onde já não os afugenta o cansado sino que balança na torre da Igreja quando toca a casamentos, baptizados, rebate, finados, ou apenas a reunir cristãos para a Missa dominical, como na varanda sofisticada do palácio senhorial.
Não têm preconceitos, nem escala social, atrevendo-me a afirmar que nem conhecem a escala musical. E cantam maravilhosamente, mesmo quando mais discretos e recatados, fazendo-o quando lhes apetece, sem aspirarem a favores da crítica ou a top de vendas.
Não precisam de roupa, calçado, carros e cartões dourados, porque não querem impor-se.
Não usam jóias ou bijutaria. Não lêem livros, não vêem filmes, não frequentam raves.
Não amontoam bens supérfluos, fazem escrituras ou contratos. Não usam moeda, não têm reforma, nem serviço de saúde, não conhecem a bolsa, as acções ao portador, os títulos do tesouro, talvez adivinhando que tudo cá fica no dia que partirem.
Não conhecem o consumismo, não fazem dieta, não têm crises de identidade, nem precisam de psicólogo.
Não são religiosos de qualquer fé, políticos de qualquer partido, adeptos de qualquer clube.
Ignoram o fanatismo, a corrida ao armamento, o ódio e a guerra.
Não sofrem preocupações, humilhações, pressões ou desilusões.
Graciosos, têm sempre aspecto de estar de bem com a vida, de dançarem e cantarem só por ter nascido o Sol, uma vez mais, cada manhã, sem precisarem de coreografia ou estereofonia.
Não questionam a existência, julgam o passado ou projectam futuros que chegarão ou não.
Apenas nascem, crescem, procriam, morrem, aprendendo com os pais e transmitindo ao filhos a fazê-lo da melhor maneira possível.
Apenas vivem, vivem e vivem, enquanto a vida dura.

Ismael

Pela 1ª vez, dei conta que alguém em Caracas entrara no meu espaço.
Imaginei que fosse o Ismael.
Ismael é um venezuelano de sorriso franco e dentes alvos, que voltou para a Venezuela há pouco tempo.
Sei que telefonou a dar notícias, mas não me encontrou. Espero que esteja bem e que a vida lhe sorria finalmente.
Há períodos de grande sofrimento na nossa vida e ele já teve a sua conta.
Sei que vai ter sorte, pois inteligência e força não lhe faltam.
Ismael, lá tão longe e bastará um www. que o satélite tornará perto. Fico à espera.

Parabéns

Um voto de parabéns nunca pode ser um voto triste.
Nunca pode ser triste um voto dirigido a quem queremos bem, a quem queremos dar tudo, a quem sabemos digno de tudo o que de melhor queremos para nós próprios.
Aos 23 de Junho de 2009 passou um aniversário especial. Especial para ti, porque é diferente de todos os outros. Especial para nós, os teus, porque é o teu.
Ao bater da meia-noite quis estar contigo de viva voz. Mas melhor o faria com quem me estivesse mais distante. Para ti, eu sei, um aniversário é apenas uma data de lembrança obrigatória. Não tinha que sê-lo para mim - mas era-o para o teu repouso, para o teu amanhã de trabalho tão sério como o de todos os dias.
Ficou o abraço para depois. Quem sabe à hora do jantar, essa refeição tão asada para se comemorar um dia de anos. Ficou.
Ao final da tarde veio um atropelo. Diana, menina de 27 anos, esposa de poucos meses, adversária do cancro de muitos meses, teve dificuldade de respirar. E foi a última dificuldade com que lutou - e foi a última luta. Diana, menina do trabalho de todos os dias da minha filha mais nova, morreu. A vida, a vida madrasta e injusta, negou-lhe o ar depois de lhe ter negado tudo. E tirou-nos um pedaço do oxigénio que nos faz viver a todos nós, roubou-nos um sorriso que era a única coisa que sabíamos dar-lhe.
Não passou em vão mais uma meia-noite. Esta, que passou há pouco, deu-nos mais uma lição - uma lição cruel, mas real - a do valor da vida.
A vida, minha irmã, é uma festa - uma medonha mas fantástica aventura. Porque a vida não é só grande, não é só muito - é tudo. Quem a tem, tem pouco, mas tem tudo: espaço, luz e cor; passado, presente e futuro; sonho, projecto e realização; Amor que se dá, Amor que se recebe, Amor que se tem.
Cada vida vale aquilo que vale quem a usa. As palavras que se reúnem para conforto de não importa quem; o trabalho que se faz para valorização do destino de não importa quem; o carácter que se ousa para exemplo de não importa quem.
A tua vida vale duas vidas que urdiste, cem lugares que perfumaste, mil sorrisos que regeneraste, um milhão de actos de amor que propiciaste, um universo de silêncios que reanimaste.
A tua vida vale, acima de tudo, a felicidade que ajudares o mundo a construir, na parte que te toca.
Pela parte que me toca, não prescindo dessa continuidade.
Por tudo, este não é um voto triste - senão pelo espaço demasiado que nos toca, pelo tempo demasiado que se intrometeu neste dia 23 de Junho. Um dia triste por quem não temos? Não! um dia grande, por tudo o que temos, um dia especial, por quem temos. Um dia que faz desta data uma data feliz.
Sê feliz, por todos os que te querem feliz.
Parabéns e uma longa vida.
Um beijo, do teu irmão mais pequeno.

Uma luta de todos nós

Rui Pedro tem hoje 14 anos. Tem, certamente. Porque todos acreditamos que está vivo - porque todos o queremos vivo, porque todos o queremos de volta para os pais, de volta para a sua vida.

Desapareceu em 1998. Em 2001 os pais viram-no num site de pornografia. Há 11 anos que os pais e a polícia o procuram. Há 11 anos que pedem ao mundo inteiro que devolva a vida a Rui Pedro, que devolva Rui Pedro à sua vida.

Recebi pela internet a mensagem - mais uma - dos pais que não desistem do seu direito, que não renunciam ao direito mais elementar e sagrado de Rui Pedro.

É nosso dever restituir-lhes, ao Rui Pedro e aos pais, esse direito. É dever de nós todos. Sob pena de perdermos o nosso próprio direito a sermos homens.



1 de Junho, dia da Criança

Desaparecida

Dia 25 de Maio é o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas.
Dia das crianças desaparecidas, das crianças que levaram à força dos que as amam, das crianças que viviam com o carinho da sua família e que foram arrancadas dos seus braços.
Tantas crianças a precisar de abrigo, de comida, de cuidados, de medicamentos... e mentes perversas vão destruir as que estão bem, para fins que não me atrevo sequer imaginar.
É isso que eu odeio nos seres a que pertenço - o poder de destruição, a indiferença pelo sofrimento, a subserviência ao poder e ao dinheiro.
Para esses, esses que fazem desaparecer crianças do seio das suas famílias... a pena de morte!

Dor

Crianças que sofrem. Penso muito nisso, mas...
Confesso que podia pensar, mas devia fazer mais.
Quantas vezes não me afastei daquelas que pedem esmola junto da porta do supermercado, por estarem sujas e andrajosas?
Quantas vezes passei por aquelas que estão sentadas no chão, no passeio da rua das principais lojas, à volta da mãe, com o irmão mais pequeno dentro duma caixa de papelão e olhei as montras, fingindo não ver as mãos estendidas, os olhos tristes pedindo ajuda.
Quantas vezes me contrariou que viessem pedir-me "uma moeda para matar a fome"?
Quanto esbanjei em roupa que visto raramente, em pares de sapatos que não preciso, em malas, relógios, anéis e outras futilidades, que não servem para nada, que não me tornam melhor, que não me ensinam nada, que não me retribuem nada?
Ah! Dou a roupa que já não quero, para um colégio... que grande avaria! Arranjo lugar nos roupeiros para outras que já penso comprar e ainda alivio a minha consciência.
Dou alguns pacotes de massa ou de arroz para o banco alimentar... e tento esquecer a quantidade de guloseimas que me enchem o carrinho e me vão adoçar os serões, depois de ter jantado tudo o que me apeteceu.
Dou uma moeda ao arrumador, é verdade, para que ele não me risque o carro e resmungo contra o vício que engolirá a moeda no minuto seguinte.
E resmungo porque tenho preconceitos, sem o admitir, contra todos os que são diferentes, os que não conheço, não reconheço ou não pertencem à minha tribo.
Acho que me falta admitir que se for "um diferente", mas filho de alguém famoso, importante, a quem eu reconheça valor, até sou capaz de achar graça. -"Hum, que querido!"
Talvez exagere um pouco, mas sinto que, de uma maneira ou doutra, protejo os meus e ignoro ou evito os estranhos.
Arrepio-me com as fotos das crianças esqueléticas, moribundas, cobertas de moscas, mas nada faço para minorar a fome, já não digo desses milhões de seres que morrem todos os dias de inanição, mas apenas daqueles que me estendem a mão na porta do supermercado.
Sou uma bela moralista, não haja dúvida!

Dia 1 de Junho- Dia de todas as Crianças

Hoje é o Dia Mundial da Criança.
Da criança que frequenta a escola, e da que... não tem quem se preocupe com o seu futuro.
Da criança que tem pais, irmãos, amigos e da que... está sozinha.
Da criança que tem comida, demasiada comida e da que... passa fome.
Da que tem médico de família, da que é vacinada e ainda da que... sofre com doenças que já se podem prevenir.
Da que tem quem lhe dê mimo, a abrace, a ouça, mas também da que... é espancada, abusada, esquecida, abandonada.
Hoje é dia de todas as crianças. Na TV só mostram as que brincam no pátio da escola, as que escolhem presentes, as que são levadas ao Jardim Zoológico, ao Teatro, ao cinema, as que riem, que riem muito.
Que passem a ser lembradas as que sofrem e que a indiferença habitual comece a transformar a tristeza, em sorrisos.
Sejamos adultos... no Dia Mundial da Criança.

Os amigos virtuais

Para quem tiver dúvidas de que a internet é uma invenção do caneco, talvez possa ajudar a esclarecer.
A internet, além de ser uma enciclopédia maravilhosa, com som, imagem e que procura os temas por nós, tem mil coisas que podem dar-nos imenso prazer (e não falo de nus, nem de anedotas picantes).
Uma pessoa que conheço, muito mais nova que eu (e que nem quer pensar na altura em que tiver a minha idade!!!) criticava-me por eu ter comprado um portátil e começar a dar os primeiros passos na internet. Dizia, alto e bom som, que na internet só andavam as pessoas levianas e se era um meio de consulta, como eu lhe afirmava, as filhas nunca iriam estudar assim.
O mafarrico estava a ouvir... Veio o plano tecnológico e a possibilidade dos estudantes comprarem os portáteis ao preço da uva mijona. Então, em vez de 1, passou a haver 3 computadores na sua casa e a ser orgulho de modernidade o facto das suas meninas navegarem no ciberespaço, como Vasco da Gama nos mares do Adamastor (ou melhor ainda).
Aos leitores da minha idade, que já casaram os filhos, que estão sozinhos ou como se estivessem, aos que gostam de estar informados, de investigar, de rir, de comparar, aos que gostam de fotografia, de teatro, de cinema, de escrever, de ler, a internet é o meio que devem passar a usar para ocupar utilmente o seu tempo de forma barata e com tudo ali mesmo à mão de semear. Tudo se aprende e isto não é nenhum bicho de sete cabeças, principalmente para quem passou a vida neste país, a fazer investigação por conta própria para conseguir educar os filhos, pagar a hipoteca da casa e não ter credores à porta.
Além disso, quem gosta das mesmas coisas que nós, vai andando por perto, criando um abraço amigo e ficando atento ao pulsar do nosso coração.
Quem não gosta, também pode vir, ler, interpretar à sua maneira e aborrecer...
Mas isso acontece menos, pois ter de ler só para encontrar por onde pegar, também é chato!
Há dias atrás, eu estava triste. Tive então a mensagem de um amigo bloguista, que dizia: "Estou aqui, desabafa comigo, sabes que não me aborreces e que terei todo o gosto em te ouvir."
Hoje, depois de deixar o último post, recebi a mensagem que podem lá encontrar e que me dá o carinho que só uma amiga pode dar. A Lili, como eu lhe chamo, apesar da sua juventude, dos seus muitos afazeres, tem sempre tempo para me dizer uma palavra amiga e me puxar para cima. É bom.
Obrigada Nuno, eu sei que estás sempre aí, como só os amigos estão.
Obrigada Lili. Prometo que vou ver de uma escola de dança ( já frequentei uma ou duas, mas desisti por falta de par) dessas que me sugeres, embora o par seja importante para aprendermos e até para nos sentirmos motivadas (não te rias, estou a falar no bom sentido).
Não sei porquê, mas os homens não têm coragem de ir aprender a dançar. Aprender, é isso mesmo... é não saber e passar a saber! É duro, para eles, passarem pelo vexame dos primeiros passos! Preferiam nascer logo como bons pés de dança. Arrisco-me a afirmar, para os animar, que até o Fred Astaire passou por isso!
Um dia, numa escola onde andei, calhou-me um par que era bastante mais baixo que eu. O professor dizia que as mãos deviam estar dadas à altura do ombro do homem... então no nosso caso, tinha de ser à altura do ombro da mulher.
Caramba, gosto das coisas como deve ser. Comigo, tradição é tradição!
Ele comandava, porque na dança é o homem que manda, (na dança!) mas a postura tinha que ser pelo meu ombro, ou dançava marreca!
O destino resolveu-me o problema. Caí das escadas abaixo, fiquei doente de um pé e pronto...
Gostar de escrever, no nosso caso, é o elo que nos une. E faz-nos bem, acredite quem tem a mania que a internet só é usada para encontrar namorados. (Mesmo que fosse, já não era mau, mas há mais, muito mais a aproveitar deste meio que os homens iluminados souberam dar-nos).
É uma questão de escolha, como tudo na vida.

Baile das velhas

Tenho pena de estar a envelhecer.
Qualquer pessoa tem, claro, mas não é por ter a pele manchada e engelhada, esquecer constantemente os nomes das pessoas e das coisas e não caber na roupa que mais gosto.
Tenho pena de não ter tempo de experimentar tantas coisas novas que chegam a todo o momento, de não poder fazer o que os jovens hoje têm como usual e que para mim, quando com a sua idade, era impensável.
Posso dar um exemplo simples. Adorava dançar. Não havia discotecas na província e se havia, eram mal afamadas. Se eu tivesse agora 20 anos, estaria numa escola de dança, iria a todas as discotecas e dançaria em tudo o que é festa.
Hoje, nem tenho par, nem tenho coragem de ir sozinha, nem coração para ser esquecida numa cadeira da sala!
Prefiro ficar-me pelo que me é mais cómodo... mesmo que menos agradável.
Há por aí muitas discotecas ou "bailes das velhas" como usam chamar a grandes salões, com música ao vivo, mulheres que entram em grupos e muitos homens sem par.
As senhoras ficam a conversar umas com as outras, assim como quem não quer a coisa.
Os homens encostam-se ao bar e medem-nas da cabeça aos pés.
Olham, uns e outros, também os pares que já dançam. Elas procuram quem saiba dançar e tentam descobrir se o par é para a noite toda. Eles procuram outras coisas, embora saber dançar seja importante.
Depois que a música para e os pares se desfazem, em segundos chegam a conclusões do que interessa e do que não vale a pena. A música recomeça e já as damas trocam ideias com as amigas, despreocupadamente, enquanto os cavalheiros avançam para aquela que coube nas suas medidas.
Um baixar de cabeça e o convite está feito. Um sorriso e está aceite.
(Estou a ver-me abanar a cabeça para recusar o generoso convite e o cavalheiro ir a resmungar pelo caminho de volta ao bar, quem raio penso que sou, para não querer dançar com ele o tango argentino. Humilhado com a minha recusa, roga-me todas as pragas num segundo apenas e deita-me um último olhar que me fulmina e me faz cair ali mesmo, junto à mesa onde espera o meu sumo, que todos julgam estar envenenado.)
Lá vão. Serão 15 minutos a rodopiar no salão, aos encontrões com os pares mais frenéticos ou menos ajeitados, talvez haja uma troca de nome, de naturalidade, de piropos se a "coisa" resultou. Ou apenas a troca de suor das mãos, de perfumes quentes, de "desculpe" a qualquer engano ou pisadela.
Usualmente uma música dura 3 a 4 minutos, mas um Kizomba ao vivo, dura no mínimo um quarto de hora, as voltas são muitas e no final, os bofes estão de fora... quem diz um Kizomba, diz um Tango ou um ChaChaCha.
Calor, ar saturado, caras desconhecidas, mãos quentes e grossas nas nossas costas, bafo de "mini", desodorizante de supermercado, é o que me vem logo à ideia.
Ou na melhor das hipóteses, gente nova, bons dançarinos, after shave de qualidade, mas ficar sentada só a ver, pois serei rotulada de cota, de peça de museu.
Também me lembro da frase duma amiga em relação a esses espaços a que chamam baile das velhas: - Se entrassem ali as mulheres daqueles homens todos, era a maior barafunda, era tabefe que fervia, seria debandada geral!
Por essa razão, bailes, bailes das velhas ou discotecas sem companhia, não são a minha opção.
Se não me apetecer dançar sozinha na sala de jantar, terei de ficar a ver um filme.
E que graça tem dançar sozinha entre a mesa do jantar e o sofá?
É por isso que a roupa que eu gosto não me serve e já vi os filmes todos dos milhentos canais da Cabo.
Cada um tem o que merece, dirá o homem a quem dei uma tampa!

Um suspiro na noite.

Deixa-me sentar a teu lado, quieta, em silêncio e ouvir-te apenas respirar.
Deixa-me encostar no teu peito e sentir o bater do teu coração.
Dá-me a tua mão para que possa entrelaçar os meus dedos nos teus e amparar na tua força, a minha fraqueza.
Cerca o meu corpo com o teu, sê árvore, nuvem, pedra e espuma.
A vida lá fora marcha em parada militar, fenece em fogueira de raivas e ódios, desfalece de lutas vãs, amanhece cansada de ilusões e ri-se de ingénuas esperanças.
A música embala o meu sonho e eu deito no teu colo toda luz que o luar não quer.
Fica assim, no escuro, adivinha apenas como me deleito com a tua existência e deixa que te considere meu, que te mostre as minhas lágrimas, os meus suspiros, os meus temores.
Abraça-me e mesmo que amanhã voltes a partir, respira comigo a quietude da madrugada.
Suporta no teu peito o peso do meu cansaço, do meu desamparo, dos momentos tão tristes que a lua apaga, dos gritos sem som, dos gestos de estátua, dos projectos desfeitos, dos desejos adiados.
Fica comigo esta noite. Para ti é uma noite... para mim, a vida.
Se ficares, faz-me acreditar por uma vez, que és só meu.
O vento a cantarolar nas ramadas do jardim, é o suspiro que o meu peito solta nesta ilusão.
Fica comigo e que eu deixe de respirar.

Frase do dia:

"Há espaço para todos os afectos no coração, como para todas as estrelas no céu."

Victor Hugo

Nanda


A vida é muito complicada, mas se não fossem as complicações, como é que íamos conhecer bem os que nos rodeiam?
É que nos momentos bons, na felicidade, todos são amigos... mas na adversidade é que se conhece bem o íntimo de cada um.
A mentira, o disfarce, a bajulação, a canalhice não são formas de vida que eu admire.
Se não é novidade, para mim, a falta de carácter de muita gente, foi uma surpresa muito grande conhecer uma pessoa boa e íntegra - a Nanda. Só por isso já valeu a pena o trabalho que tive.
Foi uma surpresa boa para mim. Conhecia-lhe a simpatia, mas não lhe conhecia tantas outras qualidades já raras, como a educação, a sensibilidade, o aprumo, o gosto pela perfeição e pela verdade, a meiguice, a coragem. É uma Senhora, um ser humano de primeira.
Fica no meu coração. Tem em mim uma amiga com que pode contar na sua vida.
Estou mais rica com esta última experiência, porque pude conhecer uma pessoa maravilhosa, além de ter concluido mais um projecto em que enfrentei mil dificuldades.
A mediocridade, a maldade e a ingratidão, magoaram-me muito, mas não me mataram, só me fortaleceram…
Para si, Fernanda, esta rosa.

Maio

Maio, Maio, Maio.
Mês das flores,
das cores.
Da coragem, da luta, do dia primeiro
De joelhos na peregrinação, no décimo terceiro
E sempre engalanado de rosas, orquídeas, margaridas e papoilas,
Vai aquecendo os dias longos, rosadas moçoilas.
Pequena flor roxa no pinhal algarvio, Maios sorridentes.
Manhãs brilhantes de sóis incandescentes.
Verdes de todos os tons
Trinados de todos os sons.


Mês de Alegria
Mês de Maria
Ladainha de bem aventurança, dolente
Rosário de jasmim, ciclame, lírio e hortense.
Maio dourado
Maio encarnado
Maio, Maio, Maio.

Dia da mãe




Mãe


A amarra, a força, a bonança

Porto seguro, abrigo, aconchego, segurança

O silêncio, olhar perdido há muito dado

O sonho forjado, esquecido, adiado

A desistência

Contigo no wc

O Carlos gostava de ouvir as notícias logo de manhã, quando ainda estava na casa de banho e para isso colocou um pequeno rádio em cima do armário das toalhas, que sintonizou no Rádio Clube Português e que ligava quando acendíamos a luz.

Um dia, a minha tia Fernanda visitou-nos.
Na primeira ida à casa de banho, acendeu a luz num gesto simples e usual, entrou e fechou a porta.
Um minuto depois, saiu a correr, aos gritos.
O locutor, de voz forte e sensual, dava os bons dias e anunciava o tempo.
A minha tia assustou-se, convencida que dividia aquele lugar, onde já estava com as saias levantadas até à cintura, com um homem que, displicentemente, a cumprimentava e fugiu descomposta e atarantada.

Um revolucionário


No feriado do 25 de Abril estive em casa e vi um pouco de TV.
Falaram de vários nomes que se destacaram pela sua postura solidária e democrática na vida.

Vi um programa sobre a AMI e fiquei maravilhada.

Como é que um homem que tem todas as condições para viver confortavelmente, se afasta de títulos, cidades e conforto para se dar aos mais fracos, necessitados e sofredores da terra?


Não parei de pensar na obra do Dr Fernando Nobre e da sua entrega a uma missão tão grande e tão bonita.

É um homem assim que é capaz de fazer com o seu exemplo, com o seu ideal, com a sua força, uma Revolução.

Médico, marido, pai e cidadão do mundo.

Para mim, um revolucionário.

AMI



Fundação Assistência Médica Int (AMI)
http://www.fundacao-ami.org/



"Actuação
setor: ONG / Associação
ramo: ajuda humanitaria

A Fundação AMI foi criada em 1984 por um médico português que estudou na Bélgica e actuou nos Médecins sans Frontieres belgas e franceses.Inicialmente dedicava-se a acções de ajuda humanitária em zonas de necessidade extrema em todo o mundo (guerras, fome, catástrofes naturais) tendo desenvolvido missões de ajuda humanitária em mais de 50 países do mundo inteiro.Em 1994, iniciou uma vertente interna, em Portugal e Ilhas, de apoio social, médico e jurídico aos sem abrigo, imigrantes, terceira idade, crianças e outros necessitados, tendo presentemente 10 centros a laborar em todo o território nacional. A AMI tornou-se uma referência nacional e internacional pelo seu trabalho meritório, honesto, devotado, chegando em primeiro lugar ou entre os primeiros agentes de ajuda humanitária aquando de catástrofes como o Furacão nas Honduras, o maremoto no Sri Lanka, o fratricídio no Rwanda, a independência de Timor, etc.. Com pessoal no terreno ou com ajuda material, a AMI procura fazer a diferença e combate activamente a intolerância e a Indiferença que considera os males principais deste sec. XXI.

Mercadorias que vende:
Saúde, formação, alimentação, reconstrução, escolas, orfanatos, oficinas, esperança, confiança e certeza num futuro mais rico, porque partilhado com quem nada ou pouco tem.
Interesses de compra:
Voluntariado, donativos, ajuda sob quaisquer formas.

Contato
envie uma mensagem
email: fundacao-ami@mail.telepac.pt
telefone: 218 362 100
página oficial: http://www.fundacao-ami.org/


O cirurgião Fernando Nobre, fundador da AMI - Assistência Médica Internacional em Portugal, conhece melhor do que ninguém essas realidades de dor, miséria, guerras, epidemias e catástrofes, tendo dedicado a sua vida a tornar mais suportável a vida dos outros.
Ao assinalar mais de 25 anos de dedicação às causas humanitárias nos quatro cantos do mundo, Fernando Nobre pode considerar-se um médico do mundo.

Fernando Nobre nasceu em Luanda em 1951. Em1964 mudou-se para o Congo e, três anos mais tarde, para Bruxelas, onde estudou e residiu até 1985, altura em que veio para Portugal, país das suas origens paternas. Doutor em Medicina pela Universidade Livre de Bruxelas, onde foi assistente, é especialista em Cirurgia Geral e Urologia. É Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Foi administrador dos Médicos Sem Fronteiras na Bélgica e fundou em Portugal a AMI – Assistência Médica Internacional, à qual preside. Participou como cirurgião em mais de duzentas missões de estudo, coordenação e assistência médica humanitária em cerca de sessenta países de todos os continentes.
Recebeu vários prémios e distinções em Portugal e no estrangeiro, entre os quais a Medalha de Ouro para os Direitos Humanos da Assembleia da República e o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito. "

Revolução






Numa manhã de Primavera, quando me preparava para tomar duche, ouvi nessa mesma rádio a canção de Zeca Afonso "Grândola, Vila Morena".
No espaço de meia hora ouvi a mesma canção 4 vezes e fiquei desconfiada.
Fui ao quarto e chamei a atenção do Carlos:
- Carlos, deve estar a acontecer alguma coisa, estão a passar na rádio, constantemente, uma canção do Zeca Afonso, a "Grândola, vila morena".
Zeca Afonso logo pela manhã, já era estranho... Repetidamente, era muito, muito estranho.
Mal acabara de dizer a frase, lá estava outra vez aquele som de marcha em que os soldados batem com as botas pesadas no chão.
O Carlos saltou da cama num ápice e foi ouvir os outros canais. Só se ouvia a voz pesada e séria de Zeca Afonso:
"Grândola, vila morena,
terra da fraternidade,
o povo é quem mais ordena,
dentro de ti, ó cidade!"
- Passa-se qualquer coisa, passa-se qualquer coisa...
Só mais tarde as notícias começaram a chegar e nós acatámos a recomendação do locutor para ficarmos em casa.
Todo o dia estivemos juntos com a nossa filha, ainda bébé e à medida que ouviamos as notícias, a repetição da "Grândola..." tornava-a numa canção de mais alegre, mais viva, em que as palavras "fraternidade" e "o povo é quem mais ordena" ganhavam novo significado.
Passámos o dia de 25 de Abril a ver as notícias que nos chegavam aos soluços pela TV e a ouvir todos os canais de rádio que conseguiamos sintonizar.
A Revolução estava na rua, com os soldados, o povo e os cravos vermelhos, que as floristas deixavam nos canos das espingardas.
Foi um dia confuso, seguido por outros cheios de emoções fortes, de entusiasmo, de lágrimas e muita, muita esperança.
Os heróis de Abril que falam agora na TV, estão envelhecidos, maduros, o povo está desiludido e pouco crédulo na política, mas todos acalentamos ainda no fundo do peito, aquela que é sempre a última a morrer - a Esperança.

Pedras no caminho?

Fernando Pessoa
(Lisboa, 13 de Junho de 1888 - Lisboa, 30 de Novembro de 1935)

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrarum oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um 'não'. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."