Temporal e Natal

Saí por uns minutos para comprar pão e quando voltei, o portão do jardim não funcionava.
Uma rajada de vento atirou-o no sentido contrário, saltou a peça que o segura e fiquei sem poder entrar.
Tentei de todas as formas colocá-lo no sítio, mas não tive força.
Pedi ajuda a uma vizinha e o esforço das duas foi insuficiente para o voltar a colocar no lugar.
Por fim, com uma alavanca, o marido da vizinha lá conseguiu fazê-lo funcionar.
Já deitada, ainda pensava na força terrível do vento que conseguiu fazer uma acção daquelas em segundos.
Adormeci tarde e ainda não tinha dormido uma hora, quando começou o temporal.
Vento assustador fazia abanar como leques os estores, os gradeamentos das casas ao lado, parecia que ia fazer voar as casas como penas de passaritos.
Foram horas de susto, em que só ouvia os vasos do meu quintal serem projectados e partirem-se como ovos.
O som dos grandes potes, que eu tanto estimava, a bater no chão e a partirem-se, fazia-me tremer de medo e de pena.
Tentava identificar o que se ia estragando a cada rajada de vento e comecei a pensar em descer as escadas e ficar no rés-do-chão, lugar que considerava mais seguro.
Fiquei encolhida na cama e esperei que o vento amainasse e a chuva parasse de cair.
Só pela manhã foi sossegando aos poucos e me deixou passar pelas brasas, ainda com a preocupação do que iria encontrar quando abrisse a porta.
Sem electricidade, sem aquecimento, sem TV, sem coragem... lá fui ver o que restara da terrível noite.
As telhas da vivenda ao lado, voaram.
As grades do jardim da outra vizinha, que seguravam as trepadeiras, partiram-se em bocadinhos
que se espalhavam por todo o lado.
Os meus potes de barro, com plantas tão bonitas, jaziam como soldados agonizantes no campo de batalha, com as entranhas de fora e partidos de tal forma que nem deixavam mostras do que tinham sido as suas formas.
Restava-me o consolo de que tudo aquilo tinha remédio...
A lareira fez companhia e uma vela ajudou a não andar contra as paredes.
Foram 24 horas sem electricidade, mas mesmo assim com sorte, pois na cidade ao lado, 48 horas depois ainda estava tudo apagado.
Uma véspera de Natal triste e desconfortável.
A Natureza começa a vingar-se!

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