O sexo do saber!

Joana Carneiro, a maestrina.
Com uma profissão em que os homens eram os únicos, Joana sobressai, apesar da sua idade e do seu sexo.
Sentada na plateia a assistir a um concerto, perguntaram-lhe o que fazia.
Quando respondeu, ouviu o comentário:- "Mas essa não é profissão de uma esposa!"
Dirigir uma orquestra não era profissão de mulheres, como não era a medicina, a magistratura ou a condutora de taxis.
Joana Carneiro, além de maestrina, já é considerada muito importante.
O saber deixou de ser característica do sexo masculino, definitivamente!

Silêncio

Deus é amigo do silêncio.
As árvores, as flores e as ervas crescem em silêncio.
Olhem como as estrelas, a Lua e o Sol convivem em silêncio!

Madre Teresa

Saber

"Terra pequena nunca fez homem grande", diziam na Beira quando eu era pequena.
Nasceram muitos homens grandes em terras bem pequenas, mas não chegaram a grandes ficando por lá. As oportunidades estavam nas grandes cidades.
Para estudar era preciso ir para as cidades e ter dinheiro para poder fazer fase às grandes despesas que isso implicava. Quem tinha dinheiro... continuava, quem não tinha... ia para a serra com os rebanhos, ou para as oficinas aprender uma profissão.
Claro que depois diziam que uns eram inteligentes e os outros não o eram.
Isso tudo acontecia nas aldeias e vilas de Portugal do interior, onde não havia transportes capazes, onde não havia indústria e como tal, as pessoas viviam dos pequenos pedaços de terreno que cultivavam e que lhes assegurava pouco mais do que a panela da sopa diária.
Vendiam o leite de uma vaca que cuidavam como se fosse gente e os queijos do leite que tiravam às ovelhas do rebanho a que não faltavam com a ração, mesmo que não houvesse fartura na mesa para a família.
Vendiam as couves, os espigos e as alfaces, as batatas, as cebolas e as cenouras, que cultivavam na horta atrás da casa.
Faziam o vinho da meia dúzia de videiras, que faziam latada em frente da casa, onde nas noites abafadas de Verão tomavam a fresca no fim de um dia de estafa ao Sol.
As crianças, antes de irem para a escola, ajudavam a tratar dos animais e à tarde, quando regressavam a pé, iam recolher as folhas velhas das couves, os saramagos e outras verduras para alimentarem de novo os coelhos, as galinhas, os patos mudos e os porcos.
Aprender mais do que a ler e a escrever, era um luxo.
Não havia TV, nem se ia ao cinema, à biblioteca e não havia tempo sequer para se ouvir rádio.
Cantava-se no campo enquanto se regava a horta ou se mondava o milho.
Bebia-se um copo na taberna onde ao domingo se ouvia o relato do futebol.
Isto tudo parece que foi há muitos anos atrás, séculos talvez, mas não!
Quem assim vivia, está vivo e tenta adaptar-se aos tempos modernos em que se compram as batatas pré-fritas, os pratos já cozinhados e congelados, em que não se pode fazer o fumeiro, porque as chouriças e as morcelas têm de ter um selo de garantia, em que os filhos estudam o que querem, mal fazem 18 anos "tiram a carta" e fazem férias em terras em que se fala uma língua desconhecida.
Nasceu em terras da Beira, Eugénio de Andrade, mas muito cedo foi para Lisboa.
O mesmo terá acontecido com Miguel Torga, Ferreira de Castro, Aquilino Ribeiro, etc.
Então eu corrijo: Terra sem instrução, não faz homem grande.

Ufa!


Já o Natal se foi.
E a passagem de ano também.
Já começa a cheirar a Carnaval e eu sem ânimo para aqui voltar a escrever.
Tem sido muito trabalho, muita pressão.
Para se ganhar tão pouco, não era preciso tanto.
E há quem ganhe tanto, a fazer tão pouco!




Ainda uma mensagem de Natal

S.


Tantas coisas más que passámos.Tantas horas dolorosas, intermináveis, em que a esperança parecia ter-nos abandonado paa sempre.
Tantas revoltas combatidas, vencidas e renascidas.
Tantos nãos. Tantos nuncas. Tantos nadas. Tantas incertezas. Tantos desesperos. Tantas desistências.
Mas os homens bons renascem todos os dias na força, na vontade, na tentativa, na luta, na aceitação, na recusa, na escolha, na doação.
O S. já renasceu mil vezes e continuará a fazê-lo, porque tem à sua espera a vida que foi adiando durante muitos anos.
Força. Bom Natal.
(A Magia do Teatro- mensagem para alguém que conseguiu livrar-se duma escravatura e encontrar, no fim de 25 anos, talento para estudar, fazer teatro e retomar o sonho)

Olhar no espelho

Todos começam 2009 a cumprimentar os familiares e amigos, desejando-lhes um Bom Ano Novo.
Acredito que a maioria é sincera. Mas estou certa que muitos o farão por simples cortesia, utilizando a frase feita, sem pensar, porque é costume, porque faz parte.
E até me resigno com essa ideia, mas fico sempre a pensar.
Desejam que todos sejam felizes, mas ficam-se por isso mesmo, por formular mecanicamente a frase, esperando que só pelo facto de recomeçar a contagem do ano, das estações, dos solestícios e equinócios, das luas cheias e novas, a felicidade chegue e os males acabem.
Eu, incluída.
Embora pense nos sem abrigo, nestas noites tão frias, nunca saí a levar um cobertor a um deles.
Embora me lembre dos doentes internados longe das suas casas, os que são submetidos a tratamentos dolorosos ou que estejam sem forças, sem alegria, sem esperança, nunca visitei nenhum, nestes dias de festa.
Mesmo sabendo que há crianças que sofrem com fome, frio, desamparo e agressões de toda a ordem, nunca socorri, alimentei, amparei ou protegi, senão os meus.
Conhecendo lares de idosos não distantes de onde vivo, nunca minorei a solidão dos que passam os dias todos iguais, nunca lhes ofereci a minha atenção, nunca me dispûs a ouvir as suas histórias, a adoçar-lhes a boca com um caramelo, a escolher uma música alegre para os distrair, a levá-los no meu carro a passear pela rua das montras para verem as luzes de Natal, a ver o mar numa tarde menos cinzenta, a fazê-los rir com uma anedota maliciosa.
Sei que há quem sofra violência doméstica, na maior angústia da vergonha, do silêncio e da revolta, que há quem tenha perdido o emprego e com ele a esperança e a alegria, quem esteja dependente de escravaturas veladas, como a incapacidade de se libertar de um amor frustrante, de uma ligação humilhante, de uma dependência que lhes nega a dignidade e a auto estima, mas nunca me lembro de pedir por eles nas minhas orações.
Ano Novo, para quem? Ano Novo porquê? Novo em quê?
Entre os meus livros, filmes e discos, nas minhas idas ao café, ao supermercado, ao cinema, nas minhas comodidades, sempre tão presentes que nem lhes noto a existência, na banalidade de rodar o botão para ter água quente, para acender a luz, ligar o aquecimento, que nem me lembro do incómodo que seria se não funcionassem, no colocar comida no prato em gesto habitual, no deitar na cama macia, sem novidade, esqueço o que não sofro, ignoro o não me falta, desprezo o que me provoca desconforto.
Aborrece-me o condutor da frente que pára o trânsito sem razão, o vizinho que chega tarde a casa e faz barulho, a chuva que cai há 3 dias, os 80 canais da TV que transmitem o que não me apetece ver.
Bom Ano, desejamos aos outros, continuando a pensar apenas em nós.
Melhor seria que passássemos a dizer: " Bom Ano para mim"

2009, a data.

O tempo caminha sem se deter a olhar a paisagem.
Ainda há pouco estava calor e os dias eram grandes, não porque tivessem mais horas, mas porque o Sol se deitava no horizonte bem depois da hora de jantar.
Ainda há pouco o jardim estava cheio de folhagem verde e flores de todas as cores.
Logo passou a anoitecer mais cedo, a saber bem um casaco e as folhas das roseiras a cairem junto ao seu tronco, na terra macia.
Depressa se ouviu falar em Natal e muito se fez em seu nome.
Iluminações, enfeites, doces, compras, reuniões e votos.
Ano Novo, Ano Novo.
Fogo de artifício e champanhe.
E eis que recomeço o trabalho escrevendo Janeiro de 2009.
Só isso mudou para mim... a data, que escrevo antes da assinatura.

a propósito...

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tempo de sixteen e tempo de sixty
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... e a propósito

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território dos sonhos, lugar das saudades
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