Nunca

Como pesa o silêncio!
Acumula-se a certeza e alonga-se a ausência.
Diluem-se as formas, os sons, os gestos
Não se preenchem os vazios
Nunca volta a existência.

Fernando Pessoa

"Quero ser o teu amor amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amor amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias..."

Ilusão

O Outono pensou, que podia ser Primavera.
A Lua Cheia sonhou ser chamada de Sol.
As Nuvens quiseram substituir as Estrelas.
Mas o Inverno chegou,
a Lua minguou
e a Chuva caiu.

O recado que me trouxe a Lua

A Lua quis segredar-me alguma coisa ao ouvido.

Eu não percebi. Pensei que estava a fantasiar, pois como era possivel a Lua, tão importante naquele céu imenso e estrelado, lembrar-se de mim e querer dar-me um recado. Recado de quem? Talvez um aviso, mas de quê?

Entretanto as nuvens começaram a cercá-la e mesmo assim, ela fitava-me por uma pequena fresta, que o rendilhado branco deixara, como se quisesse saber se eu percebera.

A Lua já dera tantas voltas que estava tonta, ou então era eu que exagerava no meu querer.

Depois de a ter olhado com o mesmo carinho e admiração das outras noites, ela foi andando no seu percurso directo ao mar e a outro continente.

Eu, um grão de poeira na imensidão do Universo, logo seria escolhida para ter a Lua como carteiro.

O meu coração, apesar disso, ficou sereno.

A imaginação é uma colcha de retalhos da realidade.

As palavras da alma

Só conheço o teu olhar.
Triste e indiferente, perdido nos pensamentos que teimam em voltar, sempre que reages e os afastas, tentando mostrar-te interessado no que te cerca.
Olhos negros e profundos que nada mais deixam transparecer que a tua dor.
Cruzam-se com os meus, mas não se iluminam, como se nem me visses, nem sentisses o que te quero dizer.
Olho pela janela e na rua a vida decorre igual, indiferente à minha solidão e aos teus pensamentos, que gostaria de afugentar.
De novo te fito e espero com um sorriso. Devolves-me o sorriso mais dorido que já conheci.
Sento-me a teu lado e recosto a cabeça no teu ombro. Procuras a minha mão e ficamos calados como se o silêncio nos mostrasse uma solução.
Passas a mão no meu cabelo, sem olhar para mim, como quem diz: Sei que estás aí, que estás comigo e eu também te quero muito. Mas o silêncio perdura.
Eu fecho os olhos e imagino-te com o rosto irradiando alegria, vindo ao meu encontro de braços abertos. Dás-me um abraço apertado e rodas-me no ar, enquanto eu rio, inclinando a cabeça para trás, pela força do rodopiar.
Como se adivinhasses onde pairava a minha fantasia acariciaste a minha mão com um doce gesto do dedo polegar. O teu afago foi leve e passageiro.
Fechaste os olhos também e fez-se noite escura naquele momento, para mim.
Fiquei quieta, respiração suave como se não existisse e o meu coração serenou com o calor da tua mão que continuava a segurar a minha.