Friiio...

Cheguei ao Fundão cansada e muito desanimada com a vida.
Todo o caminho choveu e os mil problemas que trazia no pensamento, resultaram numa condução pouco atenta.
À saída do carro, talvez reacção a 3 horas no ambiente aquecido, o frio fez-se notar.
O ar é cortante e a chuva grossa e lenta.
Quando chove e faz um frio assim, sabemos logo que a neve está a caminho, mas ontem não pensei nela. Aliás, não conseguia pensar grande coisa, com o cansaço e as arrelias acumuladas.
Então, pela manhã, a Natureza brindou-me com uma surpresa muito carinhosa.
A Serra da Estrela está coberta de neve, tão branca como um bolo de noiva.
Do outro lado, a Serra da Gardunha parece um Pão por Deus,polvilhado de açúcar e côco.
Os anjos enfeitaram a minha terra com açucar em pó...
Quem nasceu e foi criado neste clima agreste, reviver esta memória na pele tem um sabor especial. Maravilhoso!

Ajidanha- nota 20 v.

A última peça do grupo, que é capaz de tirar horas ao seu descanso para fazer teatro!
Parabéns à Associação e parabéns a quem a apoia.
Parabéns ao Rui, pai do ainda pequenino César e neto da minha tia Fernanda, que tanto amo e que cedeu o guarda roupa para o Rui fazer uma dama tão charmosa. Ah! O Rui é o mais gordinho e sorridente.
Podem saber mais no blog e em www.freewebs.com/ocidentalpraialusitana
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Teatro Amador- De quem ama...

Num periodo de grande azáfama no meu teatro, procuro solução para os problemas e inspiração no teatro do Rui.
O Rui é um rapaz muito inteligente e da Paz. A caminho de concluir o mestrado, com a mulher e o filhinho a quem dar assistência, com o seu trabalho na Câmara Municipal da Idanha-a-Nova, ainda tem tempo para fazer teatro a sério, maravilhoso.
Como eu gostava de aprender com ele e estou muito longe, regalo-me a ver o seu Blog- http://www.ajidanha.blogspot.com/ e os pequenos filmes que lá guarda.
Parabéns Rui e não te esqueças, que mesmo que haja alguém que não saiba avaliar o teu trabalho excepcional-a maioria prefere ir ao centro comercial, achando até que estas coisas da cultura são só para quem não tem nada que fazer, ou não é bom da cabeça-o que realiza o homem é o que vem do fundo da sua alma, o que faz com amor.
E tu fazes coisas muito belas.

Lembrando ainda Bob Dylan

A minha banda preferida, Gun n´roses, pela sua sonoridade.

Beira-Mar

Mitológica luz da beira-mar
A maré alta sete vezes cresce
Sete vezes decresce o seu inchar
E a métrica de um verso a determina
Crianças brincam nas ondas pequeninas
E com elas em brandíssimo espraiar
Em volutas e crinas brinca o mar



Sophia de Mello Breyner Andresen
Outubro de 1997




Quando a mensagem é boa...

A TV transmitiu a Missa desde Felgueiras e a minha mãe assistiu, como assiste todos os domingos, cheia de devoção.
A minha surpresa foi ouvir a música sucesso de Bob Dylan, cantada pelo coro da igreja.
Quantas estradas terá o homem que percorrer...
A resposta, meu amigo, "is blowing in the wind, is blowing in the wind."

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Quantas estradas tem um homem de percorrer
até se lhe chamar um homem?
Quantos mares tem uma pomba branca de navegar
até dormir na areia?
Sim, quantas vezes terão de voar as balas dos canhões
Antes de serem para sempre banidos?
(...)
Quantos anos têm de viver alguns homens
até lhes ser permitido serem livres?
E quantas vezes pode uma pessoa virar a cabeça
e fingir que simplesmente não vê?
(...)
Quantas vezes terá um homem de olhar para cima
até ser capaz de ver o céu?
E quantos ouvidos terá de ter um homem
até conseguir ouvir gente a chorar?
ARTIGO RELACIONADO / POEMA ORIGINAL INTEGRAL [INQUIETAÇÕES]

As Graças

Na cidade onde eu nasci, havia 4 senhoras que saíam à rua sempre juntas.
Iam à Missa, à praça, ao mercado semanal, ao café, à esplanada, enfim, a qualquer festa e reunião, sempre na companhia umas das outras.
Eram de idades muito próximas e de um nível social também idêntico.
Vestiam bem e o mesmo género de roupa, tinham a mesma modista, iam à mesma cabeleireira e faziam os penteados parecidos.
Eram educadas, ricas, respeitadas e de famílias muito tradicionais.
Os anos passavam e as senhoras continuavam solteiras e sem qualquer pretendente às suas delicadas mãos.
Apesar de muito prendadas na doçaria tradicional e conventual, habilidosas nos bordados de ponto pé de flor, grilhão e crivo, conhecedoras das mais variadas espécies de bainhas abertas, ajours e pespontos, tapeçaria de meio ponto e de Arraiolos, obras que saíam das suas mãos como se ninguém lhes tivesse tocado, (autênticas mãos de fada), nenhum homem as olhava com enlevo, com as pálpebras descaídas e o peito a arfar de suspiros.
Elas mostravam-se primorosas, delicadas, gentis, suaves, comedidas, angelicais, mas não havia um só gentil homem que as cortejasse.
Então, perante tal espectáculo de mostra e sugere, de passinhos de pintassilgo e pestanejar de actriz do cinema mudo, de chazinhos na mesa da pastelaria e limpar os cantinhos da boca sem danificar o baton encarnado, as pessoas interrogavam-se porque seria que as queridas amigas continuavam a ter de se fazer companhia umas às outras, suspirando pela companhia de alguém com a voz mais grossa, as mãos mais rudes e ainda aquilo que elas não se permitiam conhecer ao vivo, mas que lhes descontrolava o ritmo cardíaco, só de imaginar o aspecto.
Eram feias... coitadas, eram muito feias.
Mas quantas mulheres feias tinham encontrado um parceiro? Quantas?
Gordas, com bigode, quase carecas, sem dotes para a cozinha, para os bordados ou para as paciências com dois baralhos, sem talentos para esposas. Quantas? Muitas, muitíssimas.
Mas elas não tinham mesmo quem as quisesse.
Os pobres, não tinham bastante coragem e os ricos, não tinham suficiente espírito de sacrifício.
Passaram a chamar-lhes "As Graças", pois diziam que uma delas, "Nem de graça", outra, "Só por graça", outra ainda "Nem por graça" e a última "Uma desgraça".
E assim ficaram invictas as primorosas senhoras, que passavam os serões a fazer bordados a cheio e rendas finas para os altares da capela, onde o Sr Padre Coadjutor (ajudante do Prior, novo na cidade, na idade e nas práticas de perdoar os pecados por pensamentos, palavras e obras) treinava as bênçãos e os "ora pro nobis" de forma tão abnegada e de vocação tão iluminada.
O que é que tinham para afastar os cavalheiros de forma tão sistemática, nunca ninguém soube exactamente.
(Contavam que um dia as tinham ouvido comentar enlevadas."-Desde que tomamos conta do Sr. Coadjutor, ele até está mais bonitinho." E outra retorquiu "-Sim, e a pele mais luzidia". Logo outra atalhou "-E mais sorridente!". Por fim, a última rematou com entusiasmo "-E mais pesadinho, mais pesadinho!"Claro, que estas eram más linguas...)

Coração de cereja


Usas as palavras, para te promoveres.
Na primeira pessoa, sempre na primeira pessoa do singular, contas as casas, os carros, as motos, os negócios, as empregadas, as viagens... Aproveitas os anseios dos outros, para te valorizares, para te sentires importante. Rejubilas com a subserviência de quem sonha e vê em ti um modelo, uma heroína. Escondes, atrás da casa no Algarve, do apartamento na cidade e dos negócios que nem são teus, mas de alguém que tu serves, o luto em que vive a tua alma.

Esqueces de dizer que por causa dos cargos, quase não vês quem amas.

Não queres mostrar como as casas são a prisão dos teus sonhos, que vão morrendo todos os dias.
Mascaras a tristeza em que vives, ao seres esquecida, ignorada, deixada para trás.
Falas no espectáculo que foste ver... não da solidão que sentiste! Gabas os passeios que podes dar... não a ausência que te magoa! E em todas as contas que fazes (sim, que eu chamo a isso fazer contas à vida - não tenho isto, mas tenho aquilo!!!) o teu saldo continua negativo. Quem te admira, não é a ti, mas ao que tu dizes ter. Quem te dá razão, não é porque a tenhas, mas porque sente que quem tem tanto, também a terá... Mostras a tua carteira, para que não vejam o teu coração.

E pior... Nem tu sabes se possuis mesmo tudo o que contabilizas, pois já tantas vezes os multiplicaste para tentares encontrar uma compensação, que nem queres saber já, se enganas só os outros, ou a ti também. É embasbacados, que os que nada têm, seguem as parcelas da tua contabilidade e vão cheios de esperança jogar na lotaria, convencidos que a tua sorte os contagiou. E não vêem que levaram apenas o teu luto, a tua má sorte, a tua tristeza camuflada de ilusão.
Legenda ao desenho: "Porque és tan dura la dulzura del corázon de la cereza?" Pablo Neruda

Saudações para os USA

Hoje, no meu mapa de leitores, vi que estou a ser lida em Mountain e em Philadelphia.
Adorei o filme Philadelphia, onde se aborda a problemática da marginalização do homosexual e da sida.
A música de Bruce Springteen, "Streets of Philadelphia"é também uma das minhas preferidas.
Para este leitor e para o de Mountain, na outra costa da América do Norte, no caso de voltarem aqui, as minhas saudações.
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Nota:
Na foto, o Castelo de Leiria, prenda que o Rei D. Dinis ofereceu à esposa, a Rainha Santa Isabel, no dia do seu aniversário.
Enquanto ela visitava os pobres e bordava na varanda lindíssima, que se vê com os arcos, ele ia visitar a sua amante a Monte Real... onde é que já vi isto?