A mania dos exageros

Os portugueses têm mesmo a mania das grandezas! Não há nada a fazer.
Volta e meia lá estamos a tentar entrar no livro do guinness com qualquer coisa de graaaande.
E sem aproveitar a ninguém, nem servir para coisa nenhuma, iniciamos as coisas mais espatafúrdias para concorrer ao livro dos recordes. É doentio!
Foi o Pai Natal de Torres Vedras, um monstro com a altura de um prédio, que mal mexia os braços ou as pernas de forma desajeitada, pintado de vermelho e tão alto que as crianças quase caíam de costas para poderem espreitar os contornos do rosto do boneco.
Doutra vez foi uma panela de ferro gigante...
Também o tal cachecol com não sei quantos kilómetros. Era caricato ver a senhora sentada a tricotar e o cachecol crescer em metros e metros aos seus pés. Para quê? Não entendo!
Ah, e o bolo de castanhas com 600 Kgs?A desculpa foi a necessidade de chamar a atenção para o consumo de castanhas, um fruto do Norte do nosso País. E terão vendido mais castanhas depois do bolo enorme que necessitou uma forma adequada e do forno a condizer, para poder constar no tal livro???
Depois foi o assador de castanhas... Levaram um ano a estudar e a fazer o tal assador que levava logo umas centenas de quilos de castanhas de uma só vez. Muito prático!
Foi como a feijoada na ponte sobre o Tejo! E o bolo-rei com não sei quantos metros!
Fez-me lembrar os filmes americanos que nos impingem nos sábados à tarde, em que há sempre um concurso para ver quem come mais bolos, mais ovos ou bebe mais cervejas...
É o livro em que podemos ver o homem mais alto, a mulher mais gorda, a maior quantidade de piercings no mesmo homem, as maiores tatuagens, as unhas mais compridas, os cabelos mais compridos... Valha-me Deus!
Enfim. Por aqui se vê a que damos importância neste pobre país de sonhos tão somenos.

Menu vegetariano

Algumas das minhas colegas gostam de comida vegetariana e de vez em quando falam nisso. Quando combinam ir almoçar ao "Cantinho Saudável"eu arranjo sempre uma forma de me escapar e tenho conseguido convencê-las a ir antes à pizzaria ao lado, que faz uma pizza de ananás que é uma delícia. Mas hoje não consegui, estavam decididas! (O grupo dividiu-se e uma parte preferiu ficar nem que tivesse de comer só uma sopa...)
Como gabaram tanto a quiche de legumes e os bróculos com molho branco gratinado, achei que aquela repulsa podia ser mania minha e resolvi ir experimentar de novo... E lá fomos.
Chegadas ao restaurante, verificámos que não havia quiche, nem bróculos gratinados. Havia almôndegas de cereais, tofu com broa, feijão frade, bróculos cozidos e não sei mais o quê!
Já que estava ali, não iria dar parte de fraca. Na fila para o self-service, só pensava na pizza fofinha com muito queijo derretido a fazer fios até à boca, no ananás doce e sumarento e na mousse de chocolate caseira.
Chegou a minha vez de escolher e sentia que devia ir-me embora enquanto era tempo.
Bom, tinha que ser... estava escrito! Avancei.
Fizeram-me um pratinho com duas almôndegas, o tofu com broa, os bróculos e o feijão. Uma colherzinha de cada. Nem doce, nem bebida, nem nadinha de nada mais. A coragem que tinha angariado não chegava para experimentar o sumo de beterraba!!!
O tamanho do prato era de sobremesa, mas eu adivinhava isso como uma vantagem.
Não me esquecia do queijo derretido a fazer fios, ali duas ruas mais à frente... Uahmm, Uahmmm.
Depois de nos sentarmos com o tabuleiro à frente, tive esperança de que aquele pratinho de alimentos sem molho, sem brilho, sem cheiro, recusando misturar-se uns com os outros, ignorando-se mesmo depois de eu quase entornar tudo, sem cor definida (a não ser os bróculos que pareciam crus), se revelasse uma agradável surpresa de sabores.
Mas não! A esperança desvaneceu-se logo à primeira garfada. As almôndegas tinham na sua massa de flocos de cereais qualquer coisa que me parecia ser cebola. O feijão era mesmo e só feijão. Não tinha azeite, sal, vinagre, nada. Os bróculos sabiam a alho e acho que foi ele que "conversou" com a cebola toda a santa tarde, no meu estômago.
Comi, fiquei tão cheia que parecia ter engolido uma pedra, sem conseguir encontrar explicação para isso. Alimentos naturais, vegetais, sem gorduras, temperos e outros exageros, fizeram uma bola no meu estômago e não se cansaram de tagarelar até à 3ª chávena de chá, que bebi pelas 21h. Senti na língua aquele gosto ácido que não identificava, durante horas, apesar das águas, das tangerinas e das pastilhas elásticas, que mastiguei desesperadamente.
As minhas colegas perguntaram-me se eu tinha gostado.
Eu respondi: Como tenho perdido a memória ultimamente e já não consigo guardar as coisas por mais de mês e meio, podem voltar a convidar daqui a dois meses!
Por uns tempos vou voltar às gorduras, ao sal, à pimenta, aos molhos, ao bife com ovo e batatas fritas, às pataniscas e ao bacalhau com natas, tudo com uma salada de alface, tomate, pepino, cenoura e cebola, para não sentir remorsos, "temperados por um cego e mexidos por um louco".

Três estações num fim de semana

"O clima está a mudar" é a frase que se ouve a toda a hora e parece que ninguém pára para pensar no significado do que diz.
Na sexta feira estava um frio de morrer. Tiritava nos corredores de cada vez que saía do gabinete. Encolhia os ombros e caminhava depressa para evitar o frio.
Um arzinho gelado cortava-me os rins e deixava-me sem vontade de me levantar da cadeira, onde tostava as canelas no aquecedor.
No sábado, acordei e pensei que o melhor seria ficar em casa e ver um filme, ler um pouco, escrever qualquer coisita, já que o frio me deixa sem vontade de pôr o nariz na rua. Mas não.
Estava um sol maravilhoso, um dia brilhante e quente como poucos na Primavera.
Fui às compras e como não me apetecia voltar para casa, passei pela praia.
O mar estava calmo, com ondas lânguidas que se espreguiçavam na areia entre bocejos suaves. O Sol abria as cores no horizonte e o Céu estava mais azul que nunca.
Regressei com pena de deixar para trás aquele mar e aquele céu pois queria abrir as janelas e encher a minha casa com a energia tão revigorante que aquele calor trazia.
Domingo, mal acordei, pensei ir fazer jardinagem.
Levantei-me entusiasmada com a ideia, já que não fazia nada no jardim há muitos fins de semana.
Mas um ping ping fez-me parar e aguçar o ouvido, de pé, à beira da cama.
Seria mesmo o que eu pensava?
A chuva batia na varanda com uma persistência cadenciada e o sol voltara a desaparecer atrás da cortina cerrada de nuvens.
Passei o dia a podar as roseiras e a fugir das pancadas de água com que era brindada volta e meia. Mudei de roupa por duas vezes e só desisti por ter terminado a poda, pois o esforço não me deixava sentir frio. Também temia ficar doente quando uns pingos mais grossos me acertavam e faziam arrepiar.
Na 6ª feira fora Inverno. No sábado reinara a Primavera. No Domingo lá estava o Outono!

Amores...

Doris Day era considerada uma pessoa com muito bom coração, muito "boazinha".
A sua razão de viver era a defesa dos direitos dos animais.
Uma das histórias que contam para mostrar esse amor da actriz, é aquela em que rodava um filme numa quinta, onde entrava um camião cheio de galinhas.
No fim de cada filmagem, ia verificar se cada galinha estava bem...
Recolhia todos os cães que encontrava ou que lhe deixavam à porta de casa.
Então, um dia, o seu motorista ficou a tomar conta dos 2 pequenos cães que a acompanhavam para todo o lado.
Eles puseram a cabeça de fora da janela e ele, distraído, carregou no botão de fechar a janela.
Nada lhes aconteceu, mas ele foi despedido.
Toda a vida lutou pelos direitos e bem estar dos animais, no entanto despede um motorista por motivo tão fútil.
Conheço muitas pessoas assim, tratam os cães e os gatos com desvelo, mas são incapazes de dar uma moeda a um sem abrigo...
Fazem festas carinhosas e dirigem palavras ternurentas aos cães que encontram a deambular, mas não passam a mão na cabeça de uma criança que esteja suja e peça pão na rua.

À meia dúzia

Um conhecido meu envia-me regularmente pequenos filmes que circulam na net.
Em algumas mensagens, cheguei a contar 40 endereços de senhoras a quem ele enviava o mesmo filme.
Por achar graça à quantidade de correspondentes femininas que tinha, comentei isso a brincar com ele.
Não gostou e respondeu-me que não tinha 40 mulheres, mas "apenas" se correspondia com 6.
Lembrei-me então de tantos homens que toda a minha vida ouvi lamentarem-se da dificuldade que tinham em aturar as mulheres e contei-lhe uma história antiga.
"Um homem tinha dois filhos e o mais velho veio dizer-lhe que queria casar-se com duas mulheres. O pai, não se mostrando surpreendido, respondeu-lhe que estava bem, mas que se casasse primeiro com uma e logo se casaria com a outra. O rapaz aceitou a sugestão.
Passado um tempo, o filho mais novo veio falar com o pai e mostrar a sua vontade de se casar também. O irmão, ao ouvir isto, respondeu: "Queres-te casar? Para quê? A minha mulher chega bem para os dois!"
Este meu conhecido reconhece-se como muito ansioso e impulsivo... Pudera, 6 mulheres esgotam o mais paciente! Isso acredito eu.

Dia primeiro

2008 chegou com Sol e temperatura de Primavera.
Retrata a Esperança de termos deixado o mau tempo em 2007 .

Vamos conseguir finalmente arranjar emprego, ter casa, ter acesso a uma saúde condigna, ter escolas mais perto, mais baratas e interessadas na educação, ver a riquesa ser dividida de forma mais justa, ver desaparecer a violência, o crime, o abandono e a miséria.
Vamos olhar para as crianças com carinho, para os idosos com respeito, para os imigrantes com tolerância, para os diferentes com aceitação e para nós mesmos com exigência.
Vamos ler mais, rir mais, dançar mais, criar mais.
Veremos os olhos uns dos outros, porque nos olharemos de frente.
Saberemos calar-nos, porque só assim poderemos ouvir o que nos dizem.
Seremos capazes de nos colocar no lugar do outro que avaliamos e de tentar ter a medida do que realmente valemos.
Não esqueceremos nunca que a vida pode terminar a cada minuto e por isso a teremos de aproveitar o melhor possível.
Ver-nos-emos como se assistissemos à nossa prestação no Big Brother e justificaremos os erros dos outros como sabemos justificar os nossos.
Iremos reencontrar a nossa alma gémea ou apenas encontrar o amor.
Vamos amar o que fazemos, o que vivemos, o que vemos, o que ouvimos, o que desejamos, o que conseguimos, o que sonhamos.
Vamos apaixonar-nos.
Vai ser um Ano fabuloso, este 2008.