Gordura transparente e viscosa.

Eu sentia que não gostava de "mão de vaca", mas toda a gente dizia que apreciava, que era muito bom e acabei por pensar que talvez eu estivesse enganada.
Às vezes, os nossos gostos alimentares mudam com o passar dos anos. Eu convenci-me que talvez aquela relutância, fosse apenas uma mania da infância.
De todas as vezes que iamos almoçar e os meus companheiros de restaurante pediam o conhecido prato, eu pensava no assunto. O aspecto era apetitoso, o molho grosso, o cheiro normal. Mas adiava sempre a prova que me recomendavam.
Hoje fomos todos almoçar. Os pratos do dia eram: Sardinhas assadas e mão de vaca. Sardinhas não como, por causa do cheiro, das espinhas e da estragação que faço... além da fome que me assalta meia hora depois de almoçar.
Todos ficaram alegres com a ideia do grão com mão de vaca. Vieram para a mesa caçarolas de barro com molho a deitar por fora e o frasco do piri-piri.
Picante, detesto.
Deitei um pouco do grão no meio do prato e quando pensei deitar a segunda colherada, reparei que a carne era toda transparente e viscosa, cortada em tiras que se enrolavam nas pontas, sem parecer carne, parecendo antes pele.
Tirei só um bocadinho. Apesar de pequeno, ainda o cortei ao meio.
Levei à boca um grão e outro. Os meus lábios ficaram a colar-se, peganhentos.
Aguentei, sempre a pensar que era mania minha...
Quando arranjei coragem para meter na boca o primeiro pedacinho, já tinha ouvido dez vezes a mesma pergunta: "Então não come?"
Aquela gordura mole e gelatinosa escorregou de um lado para o outro, primeiro no prato, depois, no garfo e por fim, na minha boca. Engoli depressa, para evitar cuspir...
Tive a certeza, ao 3º arrepio, que não gosto mesmo de mão de vaca.
Estive 20 anos sem comer, vou estar outros tantos de novo, se viver!

Adeus a Paul.

No sábado passado, dia 27 de Setembro, desapareceu Paul Newman.
A última vez que o vi representar, foi no filme "As palavras que nunca te direi".
Já mais velho, continuava cheio de classe.
Era um dos meus actores preferidos. Era bonito e tinha um ar muito romântico.
Uma vez fiquei indignada por ler que a mulher, companheira de toda a sua vida, afirmara numa entrevista que as fãs do marido desconheciam como ele ressonava.
Fez-me sonhar com um namorado com o seu aspecto e tornou maravilhosas muitas horas da minha vida.
Foi mais uma vítima de cancro... é um "soma e segue".
Espero que tenha à sua espera uma nuvem bem fofinha, com vista para um lago de águas limpidas, árvores frondosas e verdes relvados, onde possa conversar com os amigos que o precederam.

Gentileza com uma mamã!

Ao ler um artigo sobre a falta de civismo dos portugueses, lembrei-me dum episódio engraçado que se passou comigo, quando estava grávida da minha filha.
Costumava ir de autocarro para o meu trabalho, atravessando uma zona de Lisboa muito movimentada.
As pessoas apertavam-se nos transportes públicos, sendo penoso para todos aquele percurso de pára/arranca, que atirava uns contra os outros, fazendo dores musculares nas pernas para se equilibrarem em pé.
Eu estava no fim da gravidez e já bastante "barril", embora me mexesse muito bem.
Entrei no autocarro cheio e ninguém me deu o lugar. Fiquei em pé, perto do motorista, que quando viu a minha barrigona me perguntou, pelo espelho retrovisor, se eu queria sentar-me.
Eu respondi que não valia a pena, pois sairia daí a 3 ou 4 paragens.
Não houve troca de muitas palavras, apenas de alguns gestos e com a azáfama das entradas e saídas, aquele comentário ficou apenas entre nós dois.
Eu agarrava-me, com quanta força tinha, ao varão perto da porta e mesmo assim era projectada 2 passos para a frente e para trás em cada travagem.
A dada altura, uma pessoa lembrou-se de dizer :
-Há uns lugares reservados para as grávidas, não vêem que a senhora pode bater com a barriguinha ou desequilibrar-se e cair?
Os que ocupavam os lugares destinados a casos como o meu, faziam-se distraídos.
-Se está com pena da senhora, dê-lhe o seu lugar-dizia um homem que ia noutro banco.
-Olha o parvo! Quem lhe pediu opinião? Não vê ali a placa a dizer a quem se devem dar aqueles lugares? Aqueles lugares são para pessoas como esta senhora. Não sabe ler?
-Parva é você! Querem lá ver! Então se está com pena da senhora, levante o rabo e dê-lhe o seu lugar. Coitadas das mulheres da cidade!!! Na minha terra, vão trabalhar para o campo até à hora de terem os filhos e não morrem. No dia seguinte já estão finas.
-Você é um bronco das berças. Que matarroano... Então não vê o perigo que é uma pancada com a barriga no varão?É bronco e estúpido... e mal educado, por se meter nas conversas alheias.
-Você é que é bronca. Está-me a ofender, sua ordinária.
-Ordinária é a sua mãe!
-Ele tem razão, dizia outro, há mulheres que se fartam de trabalhar até ao momento de terem os filhos e têem os garotos na mesma. Estas aqui são muito finas!
-E que tem isso a ver com o que se está aqui a passar? Não vêm o perigo? Cambada de anormais!
-É isso mesmo. Esta cambada que não respeita nada nem ninguém havia de ser posta dos autocarros para fora. Mas só aparecem os fiscais quando não são precisos-apoiava outra mais lá atrás.
-Mas quais cambada, quais quê! Você é muito respeitadora, é... levantar esse traseiro do banco, é que está quieto! Um gajo vê cada uma!
-Olhem para este alarveirão, está habituado a tratar a mulher como se fosse uma mula.
Eu estava calada, o motorista, sempre atento ao trânsito, olhava para mim de vez em quando, mas continuava sem dizer nada e os que iam nos lugares reservados, calados iam.
Todo o restante autocarro era uma guerra de palavras, um arremeço de ofensas e insultos, um subir de tom a cada frase, já não se entendendo nada do que diziam, tal era a gritaria. A cada minuto os "piropos" eram mais criativos e acompanhados de "gafanhotos" que saltavam das bocas a espumar de raiva.
Eu vi que se aproximava a minha paragem e toquei a avisar o motorista. Ele parou e abriu a porta. Eu saí. Ele sorriu e abanou a cabeça, discordando da escaramuça que continuava a crescer lá dentro.
Já o autocarro ía ao fundo da rua e ainda eu via os passageiros gesticular e crescer uns para os outros, em promessa de empurrões, socos e pontapés.
Na rua em que caminhava, as pessoas admiravam-se de me ver rir, indo sozinha.
De certo pensavam que eu estava louca!

O aquecimento do... Planeta


Jogos Paralímpicos







Se todos admirámos as capacidades e o esforço dos atletas nos jogos olímpicos, ficamos agora pregados ao ecran, quando vemos os atletas que vão competir em Pequim.
A alegria, a coragem e a força de vontade vencem todas as limitações físicas.
O esforço e a persistência fazem parte do dia a dia e as vitórias chegam em cada obstáculo ultrapassado.

Quando me queixo e penso desistir por motivos tão somenos, estou a chorar de barriga cheia.
Comovo-me e sinto-me pequena.