A Tradição

"A tradição já não é o que era"
Esta frase concebida, penso eu, pelos especialistas de publicidade, é excelente.
Todos os dias há situações que me fazem repeti-la.
Lembrei-me dela ainda há pouco tempo quando pensei no "adeus" aos funcionários dos nossos serviços, quand são transferidos ou aposentados.
Com dias de antecedência já se organizava o almoço de despedida.
Depois era o alvoroço na hora da saída, todos juntos no cortejo dos carros a caminho do restaurante, as risadas e as conversetas na hora de escolher lugar nas mesas, a sala repleta só com o "nosso" grupo!
Um de nós mandava fazer o ramo das flores com toque especial para oferta, outro escolhia o cartão com cuidado e fazia-o circular para que fosse assinado por todos. Durante o almoço, cuja ementa também merecera alguma atenção, contavam-se as velhas histórias passadas nas horas de trabalho e todos riam, mesmo que já as tivessem ouvido dezenas de vezes.
Depois da sobremesa, era o momento dos brindes e do discurso.
A despesa era dividida por todos sem problemas de orçamento.
Mas parece que a crise já chegou às despedidas.
Até essas são agora a seco!
A tradição já não é o que era, realmente!

"Os narcísicos" de Daniel Sampaio

E agora... a reflexão.
"Portugal anda cheio de chefes narcísicos. Querem dominar tudo e todos e não mostram qualquer empatia pelos problemas dos que os rodeiam.
A principal característica destas pessoas é um sentimento grandioso da sua importância. Hipervalorizam todos os dias as suas capacidades e exageram tudo em que participam, exigindo que os outros dêem o mesmo valor ao que atribuem a si próprios. Embora o disfarcem com cuidado, desvalorizam as realizações alheias, sendo frequentes os comentários de que foram os primeiros a realizar os feitos de que - às vezes - são os únicos a ter orgulho.
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Os comportamentos arrogantes e altivos destes chefes são característicos. Muitas vezes mostram desdém e atitudes de complacência, considerando que os sentimentos dos outros são sinais de fraqueza ou vulnerabilidade, por isso não se detêm no caminho que os levará à glória.
Quando não são servidos como desejam, ou quando alguém ousa uma crítica, respondem com agressividade, como se estivessem a ser atacados.
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Para manterem a ilusão de auto-suficiência (necessária por causa do temor que os afectos positivos possam conduzir à destruição do sentido de si próprios), não se relacionam profundamente com ninguém, porque assim julgam controlar tudo à sua volta e evitar a destruição psíquica da sua (afinal) frágil pessoa.
Estes chefes não são verdadeiros democratas: falta-lhes o sentido do reconhecimento do outro, a partilha e a capacidade de amar que caracteriza os verdadeiros líderes: podem mandar, mas não serão amados, apenas tolerados, mais tarde ou mais cedo cairão do pedestal que construíram para si próprios.

(Nota: Esta crónica contém fragmentos da DSM-IV-R, classificação americana das doenças mentais.)"

Daniel Sampaio

Adeus

Não gosto de despedidas.
Faço os possíveis para me escapar à hora derradeira da despedida com abraços e adeus de olhos molhados.
Mas, se consigo evitá-las, também fico aborrecida, porque aquele momento da separação é importante para continuar em frente sem problemas.
Parece que fico com a ideia de que ainda não houve a separação, que a qualquer momento vou ver de novo quem já partiu.
Por isso, o melhor é mesmo enfrentar o sofrimento e levar um lenço no bolso para não fungar com o pingo da comoção.
Adeus, boa viagem, conduza com cuidado, avise quando chegar. E a seguir... um momento de nostalgia e a saudade a crescer.
Como é que vou ultrapassar mais um momento doloroso de adeus? Fum, fum.
Já começo a pensar na hipótese de o evitar... lá vem o dilema.

Lenga-Lenga

Hoje lembrei-me de uma lenga-lenga que cantava na minha infância e apeteceu-me recordá-la aqui.
Os sons, as imagens e os costumes que me trazem à memória a minha terra, a minha família e principalmente os meus dias de despreocupação , dão-me alento para aguentar tantas tristezas deste meu dia a dia.
Procurei uma imagem que ilustrasse as minhas recordações e hoje, por momentos, voltei a ser a garota de cabelo cortado à rapaz, que subia a Rua da Cale, a saltitar ora numa perna ora noutra e cantava:

Joaninha voa, voa
que o teu pai foi para Lisboa
para comprar uma sardinha
para dar à joaninha.

Um momento de melancolia

A vida tem momentos difíceis de definir.
Não há nada que os mostre diferentes, porque não há tumultos, não há desgraças, não há mudanças, não há nada que os diferencie de todos os outros vividos recentemente, no entanto, nós sentimos mais a solidão, lembramos mais as coisas que nos magoaram, temos menos esperança, não queremos continuar a lutar.
A realidade aparece de repente nua e crua a nossos olhos e instala-se no nosso peito, não nos deixando respirar, consumindo as energias que constantemente renovamos para ultrapassar isso. Faz-nos companhia a tristeza, o silêncio e o desamparo.
Continuar obriga a uma força que não temos e ficar, uma desistência que nos derruba.
Neste momento tudo parece igual à minha volta, mas nada é o que eu quero, o que eu quis ou o que eu sonhei.
Parecia tudo como desejei, mas num instante apenas, a realidade mostra-se e eu sinto-me perdida. Como se este lugar não fosse o meu, nem este presente fosse o que procurei.
A tristeza vem, magoa e vai-se embora a rir-se de mim.

???

Tenho inveja das pessoas que sabem bem o que querem.
Sabem e acreditam mesmo naquilo que escolheram.
Uma pessoa que escolhe para seu clube o Benfica, ou o Sporting, que escolhe o PS ou o PSD, que segue o Reino de Deus ou os Adventistas do Sétimo Dia, que escolhe e luta pela sua escolha com todo o seu entusiasmo, não duvidando nunca que é essa a melhor opção, a única 100% certa, sem qualquer dúvida ou excepção, deixa-me enternecida por tamanha fé, tão forte convicção.
São pessoas que discutem, gritam, zangam-se, espumam e quase dão a vida pelo seu clube, partido ou religião, sem esmorecerem no seu entusiasmo nunca (jamais, como diria o outro).
Fico invejosa das suas decisões e curiosa por saber como conseguiram estudar, analisar, comparar, provar e comprovar, até atingirem o grau de conhecimento que lhes dá essa força.
Ou então será apenas uma escolha de cor, de simpatia, de musicalidade, de moda?
Mas uma opção de cor ou moda, é capaz de fazer assim tanta efervescência?
A verdade é que, seja apenas fé ou antes muito conhecimento, me deixam triste com as minhas interrogações, as minhas hesitações e invejosa com tais certezas.

Bon Jovi




O que é bom, é bom para sempre!

Nada vale a pena...

Sinto que nada do que faça vale a pena.
Muito menos o que sonho.
Um sábio dizia "tudo vale a pena, se a alma não é pequena".
Se assim é, eu tenho a alma pequena!
Cumprir os objectivos não é suficiente. Superá-los, não é relevante.
Ser justo é relativo. Se estás comigo, posso arranjar-te uma justiça. Se não estás, a justiça terá de ser outra, tem lá paciência!
Estudar, avançar... Só interessa a mim mesmo.
Há sucessos por aí, que eu tento compreender e não consigo.
Nem pela qualidade, nem pela originalidade, pela beleza ou outra característica qualquer, se destacam, merecem a atenção que de repente têm. Procuro o segredo, mas ainda não descobri. Sabia-me bem, nem que fosse uma vez por outra.
Não chego lá, por mais que me esforce.
Por isso acho que não vale a pena.
A minha alma é pequena, definitivamente.