A poetisa fala por mim...

"Nunca mais
Caminharás nos caminhos naturais.

Nunca mais te poderás sentir
Invulnerável, real e densa-
Para sempre está perdido
O que mais do que tudo procuraste
A plenitude de cada presença.

E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência."

Sophia de Mello Breyner Andresen

Dor

"Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na luta por um bem definitivo
Em que as coisas de amor se eternizassem."

Sophia de Mello Breyner Andresen

Flores

Com minha mãe também aprendi a amar as flores.
A amar flores pequenas, simples, mas de cores vivas e formas variadas, em mantos pintados no campo ou em ramos mais elaborados de corolas sofisticadas em feitio de taça, de pássaro, de campainha ou de concha em madrepérola, que ela amava e cuidava como ninguém.
Com uma simples rosa, uma camélia dobrada, uma orquídea ou um malmequer azul do meu quintal, ela ficava feliz, querendo mostrar a preciosidade que a filha lhe levara à Irmã Teresa, à Amélia, à tia Fernanda, a quem quer que a visitasse.
Tantas, tantas flores, tão belas, em sua homenagem!
Se as pudesse ver...

Silêncio

Silêncio no quarto onde a minha mãe dormia.
Tristeza ver a cama desfeita e as suas coisas à mercê da vontade dos outros.
Uma dor profunda instala-se no meu peito e a saudade começa a espreitar.
Toda a minha vida passa num filme em câmara lenta, vendo-a receber-me com um sorriso, a cada regresso, a cada reencontro.
O silêncio,a sua ausência,a certeza do definitivo,fez-me olhar o céu e desejar que ela lá estivesse, de mão dada com o meu pai (como sempre andavam)e nos pudesse ver, aos seus filhos, netos e bisnetos, apesar de tão tristes com a sua partida.