ANO NOVO

.
Novo Ano se aproxima e constantemente ouvimos os votos de amigos e conhecidos para mais uma contagem de calendário, que porque apenas recomeça, traz esperança de felicidade.
.
Os votos repetem-se e pouco variam - Saúde, Amor, Dinheiro e Paz. Só vai mudando a ordem conforme a importância que cada um lhes dá.
.
Eu, como tive o meu neto pequenino doente e internado no hospital, tenho pensado muito na saúde, mas na saúde das crianças. Penso nelas de forma dorida, penso no pior que lhes acontece todos os dias e pergunto-me alarmada para onde está a evoluir a sensibilidade dos homens.
.
Quando vemos as notícias parece que tudo é muito longe de nós e que nada tem a ver connosco. Às vezes, olhamos tão indiferentes para as catástrofes relatadas, como se tudo estivesse a acontecer num filme, produto de montagem, ou noutro planeta onde os seres nos são desconhecidos.
.
A Fome. A fome, que é tanta e de tanto tempo, que mata.
.
Uma das medidas de tratamento do meu neto no hospital D.Estefânia em Lisboa, foi a redução ao máximo dos alimentos. Assim, ele que já tomava a dose de 210 de leite no seu biberon, passou a receber apenas 90. Os seus gritos e os olhos suplicantes a seguirem o biberon, faziam-nos tanto mal que não pude deixar de pensar no que se passa em tantos lugares do Mundo em que se morre de fome.
.
Lembrei-me das imagens das crianças de Bogotá, com 4 ou 5 anos no máximo, que às dezenas se escondem nos esgotos da cidade para fugirem aos esquadrões da morte, que as assassinam porque roubam uma peça de fruta ou um pacote de biscoitos.
.
Também em África, vinga a fome que não deixa medrar, que definha, que torna vidrados os olhos dos adultos e tira o choro às crianças.
Nos dias que passei com os meus filhos no Hospital D. Estefânia, esperando voltar a ver o pequeno Tomás com saúde, soube da existência de crianças no sector ao lado, que tinham sido vítimas de maus tratos atrozes. "De doer o coração" dizia-me a enfermeira.
.
A Violência. A violência do gesto, da agressão, da dor, da mutilação, da palavra, do abandono.
.
Parece que tudo acontece em países distantes e com pouca relação com a nossa vida... mas ali estavam, bem perto de mim, crianças que tinham sido agredidas, violentadas e abandonadas no hospital que as tentava salvar.
.
A Guerra. Crianças que têm de acompanhar os pais durante infindáveis caminhos para fugirem à morte, que vêm cair ali ao lado, em mares de destroços e sangue e têm de fugir, sem saber porquê, para onde e com quem, perdidas entre o terror e o cheiro da morte.
.
A Doença. Quantas morrem de doenças que uma simples vacina evitaria?
O acesso a medicamentos, a médicos, a tratamentos, a vacinas, a cuidados de saúde é um luxo. A ciência descobre maravilhas na área da prevenção de doenças e no seu tratamento, no entanto grande parte da humanidade não tem como usufruir delas.
Não têm vacinas, não têm esgotos, não têm água, não têm lugar na vida que o dinheiro compra.
.
O Abandono.Seres que se têm como invisíveis, porque ninguém os vê, por mais que olhem para as suas mãos, para os seus sinais, para os seus gestos. Não têm forma, tamanho ou voz. Ninguém sente o seu frio, a sua dor, o seu pânico, a sua tristeza, o seu olhar, o seu respirar, o seu desistir.
.
A Escravidão.Pequenas mãos que trabalham em minas, em carvão, em pedra, em lixeiras, em poços, em túneis.
São mal alimentados, espancados, humilhados e ignorados como seres humanos. Pequenas criaturas tristes e indiferentes, que se habituaram a obedecer por medo e a suportar tudo porque não sabem como não o fazer. Quem tenta, encontra pior ainda!
.
A Pedofilia. A vergonha, a vergonha! A vergonha de violar a alma de uma criança através da violação do seu corpo!
.
Penso nas crianças que sofrem, porque me enchem o coração os seus risos, os seus abraços, as suas lenga-lengas, os seus jogos. Porque segurar na mão da minha neta, me dá força e coragem. Porque o vê-la dormir sossegada, o ouvi-la falar com as bonecas no seu quarto, o vê-la rir maravilhada com os desenhos animados, o acompanhá-la nos trabalhos da escola e assistir ao seu crescimento, me faz sentir mais humana e ter pena dos adultos que esbanjam tanto e vivem tão virados para si e para os seus bens, que perdem a sensação maravilhosa de ajudar uma criança a crescer.
.
Neste Ano Novo desejo que o muito que uns desperdiçam ou não utilizam, chegue às crianças que vivem em esgotos, que se drogam nas ruas, que vasculham lixeiras, que partem pedra ou carregam carvão, que são agredidas, ignoradas e abandonadas, que sobrevivem em campos de refugiados, que não aprenderam a ler, a escrever, a jogar ou sequer a rir, de forma a que cada um de nós sinta que minorou o sofrimento de uma criança e fez dela um melhor ser humano .
.
Que o sofrimento das crianças, não nos deixe indiferentes, principalmente por comodismo."Ah, aquilo é no Dafur! Nem sei onde fica..." "Em Bogotá? Isso é tão longe!"
.
.
Que o meu supérfluo seja o tesouro de uma delas.
Uma apenas.
Uma que deixe de ser invisível.
.
Bom Ano Novo para os homens de boa vontade.

Benazir Bhutto

Foi assassinada Benazir Bhutto, candidata à presidência do Paquistão e voz da oposição.
Benazir foi 1ª ministra do Paquistão aos 35 anos e a 1ª mulher muçulmana com um cargo tão importante.
Já sofrera um atentado de que escapara ilesa.
O pai tinha sido 1º ministro e fora executado por enforcamento.
Os dois irmãos tinham sido assassinados.
Encontrava-se no exílio há 8 anos e regressara ao seu país há 2 meses para se candidatar.
O seu assassinato parece não ter surpreendido ninguém. Foi uma morte anunciada.
Actos que se tornam habituais, previsíveis, esperados como inevitáveis e predestinados.
O poder é mais viciante que a mais forte das drogas.
E assim se vive o Natal!

Natal...que significado?

O Natal já passou e o Ano Novo já está aí mesmo à porta.
A corrida às lojas encheram as ruas e os centros comerciais. Muito dinheiro se gastou em prendas, em doces, em alimentos fora do habitual. Muito se estragou. Tudo em nome do Natal!
No entanto pouco se fala já do motivo da festa que fazemos-do nascimento de Jesus. Passaram a ser feitas árvores com fitas e bolas de cores brilhantes em vez de presépios com modestos pastores e a Família Sagrada em estábulo escuro e pobre. Abrem-se presentes, em vez de se ir à Missa do Galo.Compram-se lampreias de ovos em vez de se tenderem as filhós de massa finta.
Muito se gasta em lampadas e enfeites para as ruas de todas as cidades. Rolos e rolos de papel de embrulho colorido e fitas sedosas aparecem à venda por todo o lado e desaparecem rapidamente nos primeiros dias de Dezembro.
Fazem-se listas de tudo - de pessoas a convidar, de presentes a escolher, de comidas para fazer, de roupas para estrear - como se o esquecimento do mais pequeno pormenor estragasse tão importante festa.
Emprega-se a palavra Natal a torto e a direito.
Mas continua a imperar na vida do homem a inveja, o ódio, a má vontade, o egoísmo, a vaidade, a prepotência, a incompreensão, a mentira, a violência, a maldade...
Não é lembrada a mensagem de Jesus, apenas crescem os interesses de cada um para alimentar o desejo de poder, de ser, de parecer.
Quando voltará a palavra Natal a ser usada no seu verdadeiro significado?

Idade Média?

“A rapariguinha, completamente nua, é imobilizada na posição de sentada num banco baixo por pelo menos 3 mulheres. Uma delas com os braços, muito apertados, à volta do peito da criança; as outras duas mantêm abertas as pernas da criança à força de modo a abrirem bem a vulva. Os braços da criança são amarrados atrás das costas ou imobilizados por duas outras convidadas.
(...) Em seguida a velha tira a lâmina e extirpa o clítoris. Segue-se a infibulação: a operadora corta com a lâmina o lábio menor de cima a baixo e em seguida raspa a carne do interior do lábio grande. Esta ninfectomia e raspagem são repetidas do outro lado da vulva. A criancinha grita e contorce-se de dor, apesar da força exercida sobre ela para ficar sentada.
A operadora limpa o sangue das feridas e a mãe, assim como as convidadas, “verificam” o seu trabalho, por vezes pondo lá o dedo. A intensidade da raspagem dos lábios grandes depende da habilidade “técnica” da operadora. A abertura que é deixada para a urina e para o sangue menstrual é minúscula.
Depois a operadora aplica uma pasta, assegura-se que a adesão dos lábios grandes fica feita através de um pico de acácia, que fura um lábio passando através deste para o outro. Desta maneira enfia 3 ou 4 na vulva. Estes picos são depois mantidos nesta posição com uma linha de coser ou com crina de cavalo. Volta-se a pôr pasta na ferida.
Mas tudo isto, não é o suficiente para garantir a união dos lábios grandes; por isso a rapariguinha é então atada a partir do pélvis até aos pés: faixas de tecido enroladas como uma corda imobilizam completamente as pernas. Exausta, a rapariguinha é depois vestida e deitada numa cama. A operação dura de 15 a 20 minutos segundo a habilidade da velha e a resistência que a criança oferecer.”
Retirado do livro "Mulheres e Direitos Humanos", publicado pela Amnistia Internacional

Os ponteiros não param...

O tempo passa num instante!
Ainda ontem era Verão e já estamos perto do Natal.
Parece que a Rita esperava o bébé ainda há pouco e o Tomás já fez 4 meses, já come papa e dá gargalhadas.
A Francisca... então a Francisca tem sido vê-la crescer e evoluir com uma velocidade...
Frequenta a 4ª classe, canta no coro da Igreja, dança hip-hop, estuda inglês, tem endereço electrónico. Fez 8 anos!
Nem dou pela passagem rápida dos dias...
Vou adiando para amanhã o passeio que tenho vontade de dar, a visita que quero fazer, o projecto com que tenho sonhado...
Não aproveito para ver lugares, para estar com as pessoas, para gozar as poucas coisas que possuo, para fazer o que mais gosto. Limito-me a ir para o trabalho e quando regresso, ver um pouco de TV, andar pela net e manter a minha casa em ordem.
De 15 em 15 dias vou ao Fundão e de regresso, depois de rever a vida da minha mãe, faço projectos para aproveitar melhor a minha, vivendo mais como gosto. Mas a rotina impôe-se sempre, porque tenho que trabalhar para me sustentar e pagar as minhas despesas.
Depois, pouco tempo resta e pouco dinheiro também...
Sinto-me sempre na mesma, talvez porque sou saudável e me movimento bem, não tomo consciência das mudanças, mas quando encontro alguém da minha idade, admiro-me do efeito dos anos na sua pele, nos seus olhos (como ficam tristes e desiludidos os olhos da maior parte das pessoas, com o passar dos anos!), nas suas feições, no seu corpo.
É então que tento avaliar-me ao espelho com critério mais crítico e consigo ver os estragos. E não são só físicos... muito poderia ter feito que está perdido irremediavelmente.
Mas a rotina é rotina e pouco se altera, apesar das boas intenções, dos muitos planos.
E assim passam os dias, os meses, os anos... a vida.

Maternidade na adolescência... Brasil

"Cerca de 20% das crianças que nascem a cada ano no Brasil são filhas de adolescentes. Comparado à década de 70, três vezes mais garotas com menos de 15 anos engravidam hoje em dia.
A maioria não tem condições financeiras nem emocionais para assumir essa maternidade. Acontece em todas as classes sociais mas a incidência é maior e mais grave em populações mais carentes. O rigor religioso e os tabus morais internos à família, a ausência de alternativas de lazer e de orientação sexual específica contribuem para aumentar o problema. Por causa da repressão familiar, algumas adolescentes grávidas fogem de casa. Quase todas abandonam os estudos. Com isso, interrompem seu processo de socialização e abrem mão de sua cidadania.
E a comunidade médica tem alertado que as consequências de uma gravidez na adolescência não se resumem apenas aos factores psicológicos ou sociais.
A gravidez precoce põe em risco de vida tanto a mãe quanto o recém-nascido.
Na faixa dos 14 anos a mulher ainda não tem uma estrutura óssea e muscular adequada para o parto e isso significa uma alta probabilidade de risco para ela e para o feto.
O resultado mais comum em uma gestação precoce é o nascimento de um bebé com peso abaixo do normal o que exige cuidados médicos especiais de acompanhamento do recém-nascido.
Além disso, o medo da gravidez leva muitas adolescentes à solução do aborto clandestino: segundo dados da Organização Mundial de Saúde, dos 4 milhões de abortos praticados por ano no Brasil, 1 milhão ocorrem entre adolescentes; muitas delas ficam estéreis e cerca de 20% morrem em decorrência do aborto."

Música muito bonita

Nascer mulher...Curdistão

"Du'a Khalil, 1989-2007
Foi apedrejada até à morte na cidade iraquiana de Bashika, fora do Curdistão (Du'a era Curda), por se ter convertido ao Islão para casar com um muçulmano. Ela era uma Yazidi.
PAREM a tirania contra as mulheres!
Não se tem a certeza de que ela se tenha convertido ao Islão; alguns relatos dizem que o seu namorado muçulmano negou que ele se tenha convertido.
O incidente teve lugar em Bashika e foi filmado através de telemóveis e distribuído na Internet.
Durante o apedrejamento, que durou cerca de 30 minutos, podemos ver ver Aswad tentando sentar-se e pedindo ajuda, enquanto a multidão a insulta e ,repetidamente, lhe atira grandes pedaços de pedra ou betão para a sua cabeça.
Pode-se, de seguida, ouvir um homem dizer: "Matem-na!" em árabe. Por fim, um indivíduo aproxima-se e mata-a com uma pedra atirada à cara.
Foi depois enterrada junto com os restos mortais de um cão para, supostamente, demonstrar que ela não valia nada. A autópsia revelou que Du'a Khalil Aswad morreu devido a uma fractura no crânio e na coluna.
Em Erbil, capital da região Curda, mulheres e homens juntaram-se para protestar publicamente contra a morte de Du'a. A manifestação foi organizada por 90 ONG's e atraiu protestantes de fora da região Curda.
"O assassinato de Du'a numa prática conhecida como 'crime de honra' é uma tragédia para a sua família e para toda a comunidade no Curdistão. Não há qualquer justificação para este crime"- Governo Regional do Curdistão.
O Supremo Concelho Espiritual Yazidi fez uma declaração a 27 de Abril de 2007, na qual condenou o assassínio de Du'a descrevendo-o como um "acto brutal e abominável"."

Nascer mulher...África

140 Milhões de mulheres foram submetidas à MGF - Mutilação Genital Feminina, na África, Peninsula Arábica e Ásia.
A mutilação genital feminina consiste na remoção do clítoris e dos lábios genitais às meninas pré adolescentes.
Este acto cirúrgico é feito por mulheres velhas, com uma faca, uma navalha, uma lâmina ou um caco de vidro, sem anestesia ou qualquer preocupação de higiene, na criança que é despida e agarrada por outras 3 ou 4 mulheres.
É então cortado o clítoris e os lábios da vagina são cortados também ou cozidos de forma a ficar apenas um pequeno orifício para sair a urina.
Os homens não casam com mulheres incircuncisas.
Acreditam que os orgãos genitais femininos são impuros e a sua remoção desencoraja a promiscuidade feminina, já que a mulher deixa de ter prazer sexual, prazer que só eles têm o direito de sentir. Acreditam que a circuncisão feminina as torna mais férteis e evita a infidelidade conjugal.
Os danos físicos e psicológicos são tantos e de tal forma irreversíveis que as mulheres ficam a sofrer de dores para sempre, além de frigidez e de infertilidade.
Grande quantidade de meninas morre por hemorragia e por infecção provocada por falta de cuidados de higiene e esterelização.
As pessoas movimentam-se por todo o mundo e transportam consigo estas culturas, que praticam onde vivem, podendo estar a acontecer mesmo ao nosso lado.
Esta prática é um dos horrores do Continente Africano e considerado pela Convenção sobre os Direitos da Criança "um acto de tortura e abuso sexual" e pela Organização Mundial de Saúde como "um flagelo de saúde pública".

Nascer mulher...Índia

Um milhão de meninas desaparecem todos os anos na Índia.
Muitas mães, quando fazem ecografia e sabem que vão ter uma filha, abortam logo a seguir.
As meninas que chegam a nascer e não desaparecem, são abandonadas na sua grande maioria à porta de instituições.
Muitas mulheres morrem (uma em cada seis minutos), por praticarem aborto.
Uma filha que nasce é vista como um infortúnio numa família. Desde que vê a luz do dia, essa rapariga sente que não é querida, que o seu futuro é visto como a desgraça para os seus.
Tudo por uma simples razão - para casar uma filha, os pais têm de dar o dote ao noivo.
Para isso, vendem os bens, vendem algum ouro que possuem e ainda ficam endividados para muitos anos.
Se tiverem mais do que uma filha, terão de lhe dar o mesmo dote, sem diferença de um tostão, senão nenhum noivo a aceita.
Mas, por outro lado, para cada 800 meninas, há 1000 rapazes. Nas aldeias de populações mais pobres, os pais não conseguem uma rapariga para casar com o seu filho, que ao permanecer solteiro, fica desonrado e desonra a sua família.
Vão procurar uma noiva para os filhos na idade de casar, a vários milhares de kms de distância e se concretizam esse feito, as raparigas ficam tão longe das suas famílias, que raramente voltam a vê-la.
A infelicidade que acompanha uma menina toda a sua vida, faz com que ela não aceite conceber e transmitir essa herança ao bébé que cresce dentro de si, desejando apenas acabar com a vida que começa a formar-se.
Não há amor que faça os noivos prescindir do dote, nem governante que acabe com esta lei tão injusta e que não deixa que rapazes e raparigas tenham as mesmas oportunidades de viver e serem felizes.

Yepes

Narciso Yepes tocando Enrique Granados
(“Recuerdos de la Alhambra”).
.
.
.
.
Narciso Yepes, um dos ícones da guitarra clássica do séc. XX, nasceu faz hoje 80 anos.
Nasceu em Lorca e viria a morrer em Murcia, em 1997.
Recebeu do pai a sua primeira guitarra aos 4 anos. Aos 20 (em 1947) fez a sua estreia oficial em Madrid, interpretando o Concerto de Aranjuez, de Joaquin Rodrigo.
Com essa mesma obra viria, em 1964, a utilizar pela primeira vez a guitarra de 10 cordas que ele próprio criou, para interpretar mais fielmente a grande música do período barroco.
Nunca mais deixou a sua guitarra de 10 cordas.
Com ela tocou com as mais famosas orquestras do mundo, numa média de 130 recitais por ano. E com ela se tornou num dos grandes músicos do século, para além de importante investigador e redescobridor de inúmeras obras para guitarra dos séculos XVI e XVII.
Pelo seu enorme contributo para a Música, Narciso Yepes recebeu das mãos do rei Juan Carlos a Medalha de Ouro de Distinção das Artes.
Foi-lhe também atribuído o Prémio Nacional da Música, para além de ter sido nomeado Membro da Academia de Afonso X, Doutor Honoris Causa pela Universidade de Múrcia e eleito por unanimidade para a Academia Real das Belas Artes de Espanha.

Doris Lessing

No Jornal da noite anunciavam o Prémio Nobel da Literatura de 2007 e eu olhei, curiosa.
Uma senhora com cerca de 80 anos, vestida com uma roupa simples, de quem estava em casa despreocupada, cabelo branco apanhado em banana, desalinhado, conversava com os jornalistas sentada no degrau do jardim da sua casa.
Explicou que vira aquela gente toda com câmaras, na sua rua, mas não ligou. Era já hábito virem gravar telenovelas ali.
Quando lhe disseram ter sido ela a premiada com o Nobel da Literatura, continuou descontraída.
Uma madeixa de cabelo caíu-lhe sobre os ombros e ela juntou-o ao restante, com gesto que mostrava ser habitual.
Perguntaram-lhe o que pensava do prémio que acabava de lhe ser atribuído e ela respondeu que era preocupante, porque já sabia que iria perder muito tempo e só queria poder escrever os seus livros. Já tinha ganho outros e a sua vida não mudara.
Tinha um sorriso doce e continuava sentada no degrau, mãos no regaço e olhar distante, como se esperasse que se fossem embora depressa, para voltar para as suas histórias.
Nasceu em 1919, escreveu mais de 50 livros e editou o primeiro em 1949.
Parabéns, Lady Doris.

Um olhar

Uma foto linda das paisagens vulcânicas de Masca, Tenerife, onde o António foi vadiar, como ele diz.

Luciano Pavaroti

Adeus a Luciano

Estava a almoçar no restaurante, quando ouvi a notícia de que tinha partido Luciano Pavarotti.
As minhas colegas admiraram-se de eu ficar com lágrimas nos olhos...
Partira o senhor de uma voz maravilhosa e de uma forma de cantar sem igual. Descanse em paz.

Dias depois fui ao médico, ao centro de saúde onde pertenço.
A sala transbordava de idosos que tagarelavam ruidosamente.
Era dia de vacinas contra a gripe.
A dada altura, na tv, começou a ouvir-se a "Ave Maria"de Shubert. Os idosos começaram a fazer silêncio, um a um.
Em segundos, estavam todos com os olhos no ecran e quase não respiravam. Foi comovente.
Dizem que o povo não sabe apreciar arte!

A força da Net

Um jovem, tirou um pouco do seu tempo na net, para me desejar melhoras, num comentário ao post "Fisioterapia".
Este facto surpreendeu-me.
Últimamente tenho conversado muito com a Vanda, minha amiga apesar de ter quase o dobro da sua idade, sobre as relações pouco responsáveis dos jovens e este contacto veio lembrar-me que não devemos tomar a parte pelo todo.
A maioria dos jovens que eu tenho conhecido, ainda que por intermédio de outras pessoas, não olha os seus actos como tendo consequências, nem para si, nem para as pessoas com quem se relacionam.

É preciso viver o dia intensamente, viver tudo hoje.
São as modas, as saídas, os consumos, os relacionamentos.
Nos relacionamentos então é o egoísmo total.
Não se tem pudor em iniciar uma relação, fazer crer essa relação como forte e séria, para desmentir isso no dia seguinte. Só importa a colecção de troféus que cada um expõe e chegam a afirmar que "só tem uma mulher, quem é feio. Quem não é, tem várias, tem as que quiser".
Quem fez esta afirmação há pouco menos de 3 meses, está por aí, convencido do que diz e a fazer estragos em quem está próximo. Sofrem as consequências do seu procedimento, não só as mulheres que ele escolhe, mas os pais, os amigos e os que se vêm envolvidos sem querer.
É instantâneo o conhecer, o sair, o amar... e o descartar.
Quem tem a pouca sorte de sentir de forma diferente, tem de aguentar, recompor-se e fazer das tripas coração para continuar em frente como se nada tivesse acontecido.
"É o viver o momento como nos apetecer, sem compromisso, sem pensar no futuro", palavras de outro que também anda por aí...
Acho que são incapazes de amar a sério, de olhar os outros nos olhos e se colocar no lugar deles, são adoradores de si mesmo.
Ignoram os sentimentos, pura e simplesmente, sabe-se lá bem porquê!
Talvez mostrem amor pelo seu jipe, pela sua prancha de surf, pelos seus 3 telemóveis... Esses são seus servos silenciosos. Mas as pessoas têm o mau hábito de pensar, de agir, de se revoltar contra o seu egoismo e aí... deixam de interessar.
Só tem valor a conquista. Depois, nada já tem interesse.
É desolador ver isso, tanto nos rapazes, como nas raparigas. O narcisismo não tem sexo.
Por causa destas conclusões que temos tirado ultimamente, me surpreendeu o email, a desejar-me melhoras e preocupado em saber como aconteceu o acidente.
O meu novo amigo tem sonhos... alguns antigos, outros mais recentes.
Está à espera de começar formação profissional, pois foi um dos apanhados pelo tufão despedimentos. Enquanto isso, escreve e acaricía o seu sonho antigo.
Fui ler o seu blog e fiquei comovida com o amor que tem pelos outros.
Já sofre e ainda tem a vida toda para viver...
Enviei-lhe uma mensagem que começava assim: O amor é a força que move o ser humano. Amor a um país, a uma profissão, a uma arte, a outro ser humano.
Ter capacidade para amar, amar verdadeiramente, sempre, sem limites, sem dúvidas, sem condições, sem medir sacrifícios, sem contabilizar dádivas, é um sentimento muito belo, muito próximo de Deus.
Nem sempre se é correspondido na mesma força de amar, mas só esse sentir em si nos basta, nos preenche, nos humaniza.
O meu amiguinho sabe amar de verdade.
Saber da sua existência fez-me acreditar de novo no ser humano e nos sentimentos.
É pena que os Nunos sofram por causa dos Gonçalos, dos Paulos e dos Ricardos. Das Renatas, das Alices e das Suzanas...
Uma vez mais fico feliz por ter vivido a tempo de navegar na net. Ela trouxe-me a mensagem tão simples do Nuno, que acabei por conhecer melhor no messenger e de quem começo a ser admiradora.

Fisioterapia

O médico mandou-me fazer fisioterapia e recomendou-me a FORMAFÍSICA. Aceitei a recomendação.
É uma clínica novinha em folha, ainda por estrear oficialmente, paredes claras e grandes quadros de pintura abstrata. É cheia de luz e cor.
À frente está o casal proprietário, que me acolheu com uma simpatia fora do comum.
Ambos trabalham ali. O Sr. Diamantino, como fisioterapeuta e a D. Maria José, como secretária.
Destaca-se nos dois, no primeiro contacto, a beleza dos olhos. Os dela são castanhos, enormes e acompanham o sorriso escancarado. Os dele são azuis, transparentes e tímidos como o seu riso, como os seus gestos.
Dizem que os olhos são o espelho da alma...
Desde então todos os dias faço ali a recuperação.
Todos os gabinetes têm doentes, mas pelo silêncio, parece que não há lá ninguém. De vez em quando, aquele sossego é interrompido por alguém a suspirar. Ou a ressonar...
Eu não consigo estar de perna estendida e barriga para o ar, em silêncio. Nunca consigo estar calada, quanto mais ali, sem ter com que me entreter, a não ser olhar para as lâmpadas do tecto.
As mãos quentinhas que me tratam, deixam-me bem disposta e fico inspirada. Brinco com o nome do médico que me há-de fazer a ecografia - Dr Tomatas. Conto a história das senhoras que escorregavam na calçada e iam confessar ao padre (a propósito de estar ali outra senhora com o mesmo problema que eu) e rio-me com a D. Elizabete, a assistente.
Digo disparates e ouço risos.
Já reconheço a voz do Sr Acácio e do Sr João, embora não lhes conheça o rosto.
Nestes dias em que me foi recomendado repouso e tenho que estar em casa todo o dia sózinha, ir à Formafísica é uma festa. Tenho tratado o pé e a alma.
É que fazer tratamento a uma maleita física, sem recebermos um sorriso, uma palavra simpática, uma brincadeira, dias a fio, vendo o funcionário aplicar-nos os aparelhos e as pomadas, sem reparar que somos gente, deixa-nos bons da maleita, mas doentes da cabeça.
Já fiz fisioterapia num hospital particular, onde não me lembro de ter ouvido uma palavra da senhora que me aplicava os panos quentes, além do "dispa-se" e "pode vestir-se", em tom seco, talvez profissional em demasia. Nunca gastou um minuto a mais comigo. Não me lembro da cara dela, sequer.
As pessoas estão fragilizadas por estarem doentes e o próprio hospital tem um ambiente soturno e frio. Por vezes, uma palavra afectuosa dá mais resultado que 20 sessões de ultra sons ou raios lazer.
Eu necessito de comunicar, sou faladora e tenho o riso fácil.
A indiferença dos outros faz-me mal.
Desta vez, sinto-me entre amigos.
Rimo-nos dos mergulhaços que ouvimos uma criança dar na piscina terapêutica, em vez de fazer os exercícios, ou da forma como o Sr Diamantino tem de falar com uma paciente dura de ouvido.
Se não tenho como ir para casa, levam-me lá. E não é um caso isolado, pois já vi levarem outros doentes com dificuldade em se deslocarem.
São mesmo gente boa. Gente bonita.
Estão na net com site clinicaformafisica.com
No próximo dia 17 vão fazer a festa de inauguração.
Estou convidada.

O acidente

Em casa desde 12 de Setembro com uma rotura de ligamentos no pé esquerdo, começo a melhorar e a sentir necessidade de não depender dos outros para me deslocar.

Marcaram-me uma ecografia e resolvi ir fazê-la já a conduzir o meu carro.

Fui à fisioterapia e de seguida entrei na auto-estrada.

.

.

Uma camioneta de mercadorias, à minha frente, perde as duas rodas da esquerda.

Consigo escapar à primeira e sou atingida pela segunda.

Saí trémula do embate, mas sem ferimentos.

O mesmo não aconteceu ao meu carro que está na oficina desde esse dia- Dia 28 de Setembro.

Como gelo na escada


A fazer arrumações na minha casa, depois das férias da mãe e do almoço em família, escorreguei nas escadas e pronto... Fiquei estatelada no hall, com dores de morrer e a ver tudo rodar à minha volta.
Arrastei-me até à cozinha e tirei gelo do frigorífico.
Ainda consegui subir as escadas e deitar-me.
.
.
.
.
O meu tornozelo aumentou 3 vezes de tamanho e as dores também triplicaram.
Pedi ajuda e fui para o Hospital.
Nada partido, disse o Raios X.
Um mês de repouso absoluto e fisioterapia, disse o médico.
Duas canadianas e o computador, como companhia...

Fim de férias


No último dia de férias da mãe na minha casa,
fiz um almoço para juntar-lhe os filhos, os netos
e os bisnestos.
A família cresce e renova-se. Fruto do grande amor que viveram os meus pais, a quem só a morte separou.
Os cabelos brancos, os filhos e os netos já adultos.

Aqui, com os filhos - o To-nô, o Manel e euzinha.
E as noras - a São e a Isabel.




Encheu-se a casa de gente bonita.

Transbordou o terraço de alegria, de risos, de brincadeiras e de boa disposição.

Os netos
Frederico, Bernardo e Pedro.
Rita, Bagui e Bébé.







E também os bisnetos Francisca e Tomás.

E os futuros netos Jorge, Carlos e Pêpê.

Todos estivemos muito felizes.

O tronco da árvore... a mãe.

Agosto

O mês de Agosto é o mês da minha mãe.
É tempo de muito calor no Fundão e a minha casa, por estar perto do mar, é mais fresca. Assim, vem passar esse período comigo, para mudar de ares e dar férias às suas empregadas.
Muitos anos e pouca saúde debilitaram-na e está muito dependente, mas continua cheia de classe!
Deixou de usar os seus brincos, colares e anéis. Já não quer usar baton ou verniz.
Quer uma roupa fácil de vestir e macia junto à pele, de resto não tem preferência.
Vive de lembranças, muitas lembranças, pois a sua memória continua jovem. As lágrimas são frequentes... viver da atenção e cuidado dos outros, não permite pensar no futuro e isso deve doer!

TLM

O telemóvel é um objecto pelo qual falamos com quem queremos, a qualquer hora, de qualquer lugar. Não se vê por onde se fala, nem por onde se ouve. Não parece um telefone.
Mas todos conhecem, todos têm, todos usam.
Não precisa de estar ligado à corrente, não precisa de antena.
É pequeno, tão pequeno que pode aplicar-se à armação dos óculos, esconder-se na palma da mão ou perder-se no fundo da mala de uma senhora misturado com o baton e a caixa do pó compacto.
Com um pequeno gesto, temos quem queremos do outro lado da linha. É necessário que ela nos queira atender, claro, que não pense como eu.
Também tem os seus inconvenientes.
A todo o momento temos alguém a ligar-nos, para falar de qualquer coisa que esqueceu de dizer ainda há pouco. E o que acontece connosco, acontece com todas as pessoas ao nosso redor, que constantemente respondem ao toque da última música preferida.
E fala-se na rua, a caminho do banco ou do emprego, no supermercado entre a prateleira dos detergentes e das bolachas, na farmácia, no quiosque, na esplanada ou no carro.
Fala toda a gente, em qualquer sítio, ao mesmo tempo e com todos a ouvir.
Se não atendemos, deixam mensagem de voz, mensagem escrita ou accionam o recall.
Não temos como escapar.
O uso do telemóvel deu origem a novas maneiras de falar. Assim, já não se usa o característico "Tou" ou "Tá lá", agora usa-se "Onde estás?".
Se o aparelhinho fôr mais sofisticado, podemos ter a prova através da câmara de filmar... é a 3G.
Se estamos a falar com outra pessoa, fica em espera, sem se cansar. É um tormento!
Dizem-me que é útil na estrada para o caso de termos uma avaria... Mais útil seria um mecânico e não levamos um connosco sempre que viajamos!
Deixámos de ter novidades para contar em casa no fim do dia. Não temos surpresas quando encontramos alguem que já não vemos há algum tempo. Tudo é dito na hora, no minuto em que acontece, por mais distasnte que estejamos.
Toda a gente sabe o que nós sabemos. Não tem piada...
Eu começo a defender-me.
Esqueço-me dele em casa. Se tenho de atender, aviso logo que não tenho carga. Se me pedem para ligar, não tenho saldo. Se estou em casa, não lhe carrego a bateria.
Outra marosca é identificar sempre na nossa lista todos aqueles que não queremos atender.
É que assim vemos quem está a querer falar-nos e pronto... a solução já não é esquecer de anotar o número, a solução é mesmo anotá-lo, não vá acontecer, num momento em que nos sobra alguma boa vontade, carregarmos no verde e pronto, sermos apanhados.
Não podemos ver um filme descansados, parecendo até que adivinham quando estamos com interesse numa cena. Quantas vezes nos distraímos a ver o que nos interessa e somos despertados do lado de lá com "Estás a ouvir?"
Deixamos o jantar arrefecer, ou temos que responder com a boca cheia.
Não escapamos sequer na casa de banho e por vezes e distraídos, até descarregamos o autoclismo!
Para mim o telemóvel tem uma única função... fazer chamadas. Raras, absolutamente necessárias e, se possível, curtas. Também é interessante podermos dizer que estamos no Algarve, sem termos saído de casa ou ao contrário.
Quando desejo muito uma chamada, o que é raro, parece que a outra pessoa pensa como eu... nunca liga! Se ligo eu... ela não atende. Parece bruxedo!
Só atendo um telefone quando quero, no entanto nunca confesso isso a quem diz ter-me telefonado. É uma nova característica destes pequenos sabonetes com teclas- ensinaram-nos a mentir mais.
Toda a gente dá as mesmas desculpas... "Deixei-o no carro", "Tinha-o na mala e não ouvi", "Ia ligar-te mesmo agora", "Só vi a mensagem hoje"...
O modelo que possuímos, também mostra o nosso status. O tamanho, as características, o preço... Há modas para eles, como há para tudo o resto.
Temos, portanto, de os substituir regularmente por outros mais completos, mesmo que nunca consigamos ter tempo para aprender todas as suas funções.
Devemos saber enviar mensagens de olhos fechados, ter cãmara, net, músicas diferentes todas as semanas, toques personalizados para as diferentes categorias de interlocutores, capas de cores metálicas para combinar com o carro ou com a roupa, bolsinha de pele para pendurar no cinto, etc.
Para bem, devemos ter dois, no mínimo.
Podemos esquecer a carteira, as chaves de casa, os óculos, podemos esquecer o filho no colégio, mas nunca, nunca o telemóvel.
Dizem que o uso excessivo frita os miolos... Isso não nos aflige. Vive-se com os miolos fritos, mas sem telemóvel é impensável.
Eu tenho dois, como manda o bom senso. Um é 96 e o outro 91. Mas raramente têm saldo, bateria ou encontro os carregadores. Se, mesmo assim, funcionam, não atendo as chamadas!
Eu sou espírito de contradição.

No palco


A peça foi escrita por dramaturgo desconhecido e todos subimos ao palco para a representar.

Tem um único acto e nela cabem todos os géneros literários, apesar de ser sempre considerada muito curta.

No momento de serem distribuídos os papéis, o acaso entra nas exigências do casting- serão tidos em conta o sobrenome, a cor da pele e dos olhos, a textura do cabelo, a simetria do perfil, a conta bancária, os metros quadrados de terra que se possuem.

Contará também o país de origem, o regime político, a renda per capita, o sistema de saúde, o acesso ao ensino, ao crédito, ao poder. (Muito poucos, contrariando esta regra de selecção, serão protagonistas devido ao seu talento.)
.

São esses os elementos primordiais para que se encontre o protagonista e é ele que recebe os aplausos na boca de cena.

Os actores secundários trabalham para garantir brilho ao espectáculo.

Os outros serão meros figurantes, embora ninguém se reconheça como tal.
.
Todos sonham ouvir o seu nome sobressair dos aplausos ou verem-no destacado em grandes letras nos cartazes, mas raros assumem isso.

Os papéis são escritos todos os dias e ninguém conhece o seu desfecho.
.
.

Podem interpretar personagens diferentes em curtos espaços de tempo, conforme o exijam aqueles com quem contracenam e o próprio cenário.

Quando termina o espectáculo e ficam sozinhos no camarim, tiram a maquilhagem e têm dificuldade em se aceitar sem a caracterização.

Dificilmente conseguem definir-se com verdade, contabilizando em alta as suas qualidades e em baixa os seus defeitos.

Valorizam demais os cenários, os adereços, o guarda-roupa, a caracterização, mas não prescindem do "ponto" para não terem de memorizar textos complexos.
.
.
.
Acham-se insubstituíveis, incomparáveis, a peça chave dos sucessos, mas excluem sempre qualquer culpa nos fracassos.
.
Podem escolher a peça e a personagem, mas preferem deixar essa função ao Destino, para não serem responsabilizados pelas opções erradas.

No palco da vida, todos são actores mas poucos estudaram a arte de representar.

Dançar...

Negro, de rigor. Vermelho, de paixão... A beleza da dança.


A emoção...

A música, como sangue que corre nas veias, dá alma ao Flamenco.

As mãos acompanham o ritmo do bater do coração, com os dedos que estalam.

Os pés marcam a cadência dos gestos, o voltear das ancas, a arrogãncia dos ombros, o movimento nervoso da cabeça.

E todo o conjunto vibra...








O Salero...


Folhos, xaile e franjas.

Violas, castanholas e palmas que marcam o ritmo.

Flamenco é mulher com toda a sua sensualidade.










A elegância...


O negro dos cabelos apanhados, os dedos das mãos como notas em pauta de música, o vestido contornando as formas femininas, o olhar distante e enigmático deixam adivinhar a melodia.





A Expressão
.
.
A beleza da sevilhana, a agressividade dos gestos, a austeridade dos adornos e o preto e branco da belíssima foto, deixam no registo a alma do flamenco.

Os braços formam um coração que contorna o rosto. As mãos, como duas pombas...

É dor e paixão. É arte.

.
.
.
A força...
.
.
O revolucionário do Flamenco, com toda a sua genialidade.
.
A alma cigana.
.
Olé!

Para descontrair, uma pintura deliciosa de Botero

Swan Lake

E os deuses uniram-se...









Pequena nota biográfica:

Margot Fonteyn nasceu em Inglaterra no ano de 1919 com o nome de Margaret Hookham. Passou a sua infância na China, donde veio aos 14 anos. Os seus pais levaram-na a uma audição e o seu primeiro trabalho foi no bailado "Quebra-nozes" como floco de neve. Aos 16 anos era já primeira bailarina do Royal Ballet no Convent Garden, onde fez "O pássaro de fogo", A bela adormecida", "Cinderella", etc. tendo durado a sua carreira 40 anos. Casou com um diplomata do Panamá. Quando já pensava afastar-se dos palcos, fez "Giselle" com o recém chegado Rudolf Nureyev, bailarino russo mais novo 20 anos, com quem dançou durante mais 15 anos. Aposentou-se em 1979 e foi viver para a Argentina, onde tomou conta do marido, paralítico devido a um atentado que sofreu, até 1989, ano em que ficou viúva. Faleceu de Cancer em 1991.

Rudolf Nureyev, Rudolf Kametovich Nureyev, nasceu a 17 de Março de 1938 em Ufa, Basquíria (Irskutsk) na Rússia Soviética. Às escondidas dos pais teve aulas de dança com uma velha bailarina que residia na sua terra. Sem dinheiro, nem apoio de ninguém, foi apresentar-se na Escola de Dança de Leninegrado, que funcionava no Teatro de Kirov e foi aceite como aluno devido ao seu já notório talento. Formou-se em 1958 e foi considerado o maior bailarino clássico.O seu professor foi Aleksandr Pushkin, a quem venerou sempre. Em 17 de Junho de 1961, no aeroporto de Paris onde estava com a companhia de bailado de Kirov, correu por entre os guardas e pediu asilo político, que Paris lhe concedeu. Como par de Margot Fonteyn, protagonizou bailados como "Giselle", Marguerite et Armand", "O lago dos cisnes", "Romeu e Julieta", etc. Faleceu em 1993 em Paris, vítima de Sida.

Margot Fonteyn


Que deuses habitam num simples mortal, que lhe dão força e capacidade para ir tão longe?
.
Anos e anos em pontas... parece ser tão fácil.
.
Quanta beleza!
.
E sempre um sorriso de felicidade, o verdadeiro triunfo!

Rudolf Nureyev




Como é imenso o poder criador...

Que pena vermos desaparecer tanto talento, tanta beleza!

Vieram-me as lágrimas aos olhos ao ver o filme "Les uns et les autres", ainda muito nova, mas já com paixão pela música e pela dança.

O "Bolero" de Ravel, dançado por Nureyev...

Nureyev e Ravel, onde estão agora com toda a sua arte?