Baile das velhas

Tenho pena de estar a envelhecer.
Qualquer pessoa tem, claro, mas não é por ter a pele manchada e engelhada, esquecer constantemente os nomes das pessoas e das coisas e não caber na roupa que mais gosto.
Tenho pena de não ter tempo de experimentar tantas coisas novas que chegam a todo o momento, de não poder fazer o que os jovens hoje têm como usual e que para mim, quando com a sua idade, era impensável.
Posso dar um exemplo simples. Adorava dançar. Não havia discotecas na província e se havia, eram mal afamadas. Se eu tivesse agora 20 anos, estaria numa escola de dança, iria a todas as discotecas e dançaria em tudo o que é festa.
Hoje, nem tenho par, nem tenho coragem de ir sozinha, nem coração para ser esquecida numa cadeira da sala!
Prefiro ficar-me pelo que me é mais cómodo... mesmo que menos agradável.
Há por aí muitas discotecas ou "bailes das velhas" como usam chamar a grandes salões, com música ao vivo, mulheres que entram em grupos e muitos homens sem par.
As senhoras ficam a conversar umas com as outras, assim como quem não quer a coisa.
Os homens encostam-se ao bar e medem-nas da cabeça aos pés.
Olham, uns e outros, também os pares que já dançam. Elas procuram quem saiba dançar e tentam descobrir se o par é para a noite toda. Eles procuram outras coisas, embora saber dançar seja importante.
Depois que a música para e os pares se desfazem, em segundos chegam a conclusões do que interessa e do que não vale a pena. A música recomeça e já as damas trocam ideias com as amigas, despreocupadamente, enquanto os cavalheiros avançam para aquela que coube nas suas medidas.
Um baixar de cabeça e o convite está feito. Um sorriso e está aceite.
(Estou a ver-me abanar a cabeça para recusar o generoso convite e o cavalheiro ir a resmungar pelo caminho de volta ao bar, quem raio penso que sou, para não querer dançar com ele o tango argentino. Humilhado com a minha recusa, roga-me todas as pragas num segundo apenas e deita-me um último olhar que me fulmina e me faz cair ali mesmo, junto à mesa onde espera o meu sumo, que todos julgam estar envenenado.)
Lá vão. Serão 15 minutos a rodopiar no salão, aos encontrões com os pares mais frenéticos ou menos ajeitados, talvez haja uma troca de nome, de naturalidade, de piropos se a "coisa" resultou. Ou apenas a troca de suor das mãos, de perfumes quentes, de "desculpe" a qualquer engano ou pisadela.
Usualmente uma música dura 3 a 4 minutos, mas um Kizomba ao vivo, dura no mínimo um quarto de hora, as voltas são muitas e no final, os bofes estão de fora... quem diz um Kizomba, diz um Tango ou um ChaChaCha.
Calor, ar saturado, caras desconhecidas, mãos quentes e grossas nas nossas costas, bafo de "mini", desodorizante de supermercado, é o que me vem logo à ideia.
Ou na melhor das hipóteses, gente nova, bons dançarinos, after shave de qualidade, mas ficar sentada só a ver, pois serei rotulada de cota, de peça de museu.
Também me lembro da frase duma amiga em relação a esses espaços a que chamam baile das velhas: - Se entrassem ali as mulheres daqueles homens todos, era a maior barafunda, era tabefe que fervia, seria debandada geral!
Por essa razão, bailes, bailes das velhas ou discotecas sem companhia, não são a minha opção.
Se não me apetecer dançar sozinha na sala de jantar, terei de ficar a ver um filme.
E que graça tem dançar sozinha entre a mesa do jantar e o sofá?
É por isso que a roupa que eu gosto não me serve e já vi os filmes todos dos milhentos canais da Cabo.
Cada um tem o que merece, dirá o homem a quem dei uma tampa!

2 comentários:

Li disse...

Gostei desta tua descrição...sabes como caracterizo esse tipo de espaços a que te referes? Um bando de homens e mulheres de meia idade com o cio...pode ser um pouco forte, mas é o que parece pelo que me contam (sim...posso até viver perto do d.pirata mas nunca lá pus os pés...ahahaha). Se fosse um grupo de pessoas que lá vão para se divertir uns com os outros...ou até casais que gostam de dançar e vão lá dar um pezinho de dança, ainda vá, mas irem para lá para deitar o olho a todos(as) os que aparecem à frente...já é demais...parece-me...:)

Mas há uma coisa...tu não és assim tão velha...e que tal te inscreveres numa escola de danças de salão? Sabes que há escolas one não há pares...mesmo que haja casais que se inscrevam juntos eles não dançam sempre juntos. Há trocas de pares...um dia dançam com um e no outro dia já dançam com outro. E assim, os que se inscrevem sozinhos, têm sempre par...:D...vai lá...vais ver que começas a caber nessas roupas num instante. :D

bjitos

nuno medon disse...

olá! Acho que devias de ir dançar, de vez em quando . Iria fazer-te bem! E tu és nova.....de velha não tens nada! Não te apelides de velha! beijos