A magia das palavras

"O Sorriso

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso. "

Eugénio de Andrade

Lenga lenga

Outra lenga lenga da minha infância


Ana Badana
Roca de cana
Fita vermelha
Rabo de ovelha
Mija no pote
Faz vinagre forte.


A música dos nomes em ana...

Israel, tão distante.

Sou católica e pouco sei da religião Judaica, mas quando era miúda queria ir para Israel ajudar a construir a nova Nação dos Judeus.
Li todos os livros de Leon Uris, li tudo sobre os Kibutz, era apaixonada pela luta e pelas vitórias daquele povo que sofrera o Holocausto.
As mulheres militares, os laranjais a crescer no deserto, a união que faz a força... eram temas que me empolgavam.
No entanto, mal conhecia o terror que o meu país vivia sob a ditadura de Salazar.
Cresci com as palavras do meu pai bem gravadas no meu ouvido de que a política é para os políticos e nós, simples mortais, teríamos de aceitar a nossa sorte calados, para não sofrer as consequências. As paredes tinham ouvidos...
Era o medo instalado anos e anos a fio.
A política não fazia parte da nossa vida e apesar de se viver em democracia há mais de 3 décadas, continua a não fazer parte.
Poucos portugueses conhecem a ideologia dos partidos que traçam o caminho da nossa Nação.
Sabemos alguma coisa pelo que vamos lendo nas letras gordas dos jornais, pelo que vamos ouvindo nos noticiários televisivos, mas não nos empenhamos em aprender, em compreender e principalmente, em ajudar a construir um país melhor.
Não enfrentamos os problemas... não nos comprometemos.
Fazer parte de um grupo que defende a Natureza, que defende um Povo, que luta por alguma coisa que melhore a breve existência do ser humano, dá trabalho, tira tempo, é cansativo e muitas vezes frustrante.
Mas falar, criticar, exigir... é a nossa especialidade. Mesmo sem sabermos o que estamos a dizer!
Quem defende o Homem do poder destruidor do Homem?
Quem nos defende de nós próprios?

Fernando Pessoa

"Deve chamar-se tristeza"

"Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.

Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe estará uma estrela
E ao perto está não a Ter.

Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó."


Poesias inéditas - F. Pessoa

Muro de Berlim

A criatividade do ser humano não tem limites e explode mesmo nas condições mais difíceis.

Para quem tem a liberdade na alma,
não há muro suficientemente alto para evitar que o sonho nasça e se realize.
Para quem tem a esperança no
coração, a tirania dos homens é um muro que eles próprios derrubarão.
O sonho, a força e a paixão levam sempre a melhor... Os que não conseguem ouvir os seus sentimentos, ficarão para trás.

Cisjordânia.


Mas o homem cria outros muros.
Cisjordânia é assim.

São 6 mts de altura para ilustrar o ódio, a raiva, a vingança...

O que ensinamos aos nossos filhos?

Berlim... 20 anos.

Muro de Berlim, Cortina de Ferro, Muro da Vergonha.
Mais de 5000 pessoas foram tentadas a saltá-lo... 200 perderam a vida atrás do seu desejo de ser livre.
Balas, minas, arame farpado, jactos de água...
Como deve ser triste viver a sonhar com uma liberdade que nos negam, só porque têm mais força... mais armas.
Um país derrotado, uma cidade dividida, famílias separadas, sonhos mil vezes adiados.

Caiu, finalmente, o Muro da Vergonha. E em 2 dias, mais de 2 milhões de pessoas atravessaram de Berlim Leste para Berlim Oeste, festejando esse momento tão importante para toda a humanidade.

Foi há 20 anos. Continua a ser festejada.
A festa da liberdade!

Natal...Já?

Já se fala em Natal!
Eu sei que o tempo passa num instante, mas cada vez começa mais cedo esta barafunda nas ruas, nas lojas, nas cabeças das pessoas.
Hoje pensei fazer doce de abóbora e como não tinha açúcar suficiente, nem nozes, fui tomar um café e aproveitei para dar um salto ao supermercado.
Quando entrei, fiquei parada no meio do hall. Não queria acreditar que aquela gente toda estava à espera para fazer embrulhos de Natal!
Acho um pouco demais.
No ano passado, quando no princípio de Dezembro fui às compras normais para casa, fiquei assustada ao ver os carrinhos à minha frente cheios de caixas de chocolates e de garrafas de bebidas.
Primeiro, pensei que me distraíra na data e que já estava na véspera de Natal. Depois fiquei admirada com a quantidade daquelas coisas que as pessoas levavam.
Uns carrinhos tinham dificuldade em equilibrar a montanha de compras, outros eram o transporte de quantidade imensa de caixas de Ferrero Rocher e de garrafas de scotch.
O que ia mesmo junto a mim, levava mais de 30 ou 40 caixas de chocolates e de vinho, apenas.
Pensei na despesa, mas fiquei mais chocada quando vi pagar com recurso ao crédito.
Oferecer o que não temos, fazer vista com o que teremos de pagar durante meses... Não me entra na cabeça!
Não é Natal, é disparate.