Chopin-Etude no. 3 in E major, Op. 10 no. 3, "Tristesse"




Eu disse ao Jorge que adorava a música de Chopin e ele respondeu que a achava muito triste. Sim, ele tinha razão. Hoje identifico-a com a minha tristeza...
- Para si, Jorge e que esteja em paz.

Jorge



O desgosto que sentimos por algo que sabemos ser irreversível, é uma dor que dói a dobrar.

Família

A família que a Leucemia desfez, roubando-lhe num mês, a força, a esperança, a alegria e o coração,

Luto

Quem adoptou o preto para o luto, sentiu ser essa a cor que melhor combinava com a tristeza, com a saudade, com o vazio que fica com o desaparecimento de alguém muito querido.
Eu concordo.
Sinto-me bem na roupa escura que visto, porque é dessa cor que está o meu coração ao olhar para a minha filha e para os meus netos, sabendo a falta que lhes faz o marido e o pai, que tanto amavam e de quem recebiam tanto amor.
É dessa cor que está a minha alma com o desaparecimento de alguém com quem tanto aprendi e de quem tanto recebi.
Embora haja a lembrança, há a ausência, uma ausência que magoa.
O Jorge era como meu filho e o lugar dele na minha casa, na minha vida, pelo homem que era e pelo que fazia pela família, pela minha família, deixou-me de luto, não só no negro que visto, mas também no negro que sinto.

Memória Jorge PT Sapo from NORMAJEAN | Brand Culturing™ on Vimeo.

Balzac

"A estupidez tem duas maneiras de ser: ou se cala ou fala.
A estupidez muda é suportável"


Balzac

A Vírgula

Sobre a Vírgula

Vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere..

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode criar heróis..
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

A vírgula pode condenar ou salvar.
Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo.
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.
Detalhes Adicionais:

COLOQUE UMA VÍRGULA NA SEGUINTE FRASE:

SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.

* Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER...
* Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM...


(texto cedido por minha querida amiga Drª Ana Marques)

Cancro

"Cancro- Tumor que dilacera as partes onde se desenvolve"
O mesmo que Cancer, em Latim, nome dado a constelação e a Trópico.

in Dicionário de Lingua Portuguesa de Cândido de Figueiredo.

Hibernar

Sou diferente dos ursos... Hibernei, mas no Verão.
Muitas novidades, muitas ideias, muitas ocasiões para deixar registos no meu blog, mas também alguma preguiça e muitas dúvidas.
A escrita tem sido a minha única companhia, mas como um casamento de muitos anos, também tem havido saturação e desejo de fazer alguma coisa diferente, que me impolgue, que me rejuvenesça - como um novo amor!
Passado o peíodo de crise, voltamos a sentir-nos bem no sofá velho, nas pantufas moldadas aos nossos pés e nos serões que conhecemos de cor e salteado.
Por isso, aqui estou.
Não descobri amor novo que me entusiasmasse, nem tive paixão assolapada.
Desejei experimentar um caminho diferente, mas a vida não me deu possibilidade para concretizar essa ideia. Foi adiada por um tempo.
Assim, ora alimentando a ideia, ora desistindo, deixei de lado a vinda ao blog.
Mas não me divorciei.
Apenas hibernei.

F. Nietzsche

O que eu preferiria? Amar a Terra como a ama a Lua e de não tocar na sua beleza senão com os olhos.

No 10 de Junho- Deolinda - Movimento Perpétuo Associativo

Português!

Prestes a começar o Mundial de Futebol, no noticiário de hoje, uma jornalista entrevista diversos portugueses a residir na África do Sul e a certa altura uma senhora responde:

-"Eu falo português, não é muito bem, mas desenrosco-me."

(A senhora queria dizer "desenrasco-me", claro. Sem comentários, mas com sorrisos. )

Solidão

Ter passatempos...
Passar algumas horas na cadeira da varanda a ler um livro e à medida que se avança no enredo, nascer a simpatia por um dos personagens, adivinhar as suas reacções, torcer para que descubra a conspiração ou adivinhe os planos que tecem contra ele e quando a história termina, sentir pena da separação enevitável daqueles que viveram connosco tantas horas desde que se iniciou a sua leitura.
Ou ver um filme na TV, no silêncio da casa, vivendo a cada minuto os planos mais próximos, quase sentindo as dores de quem sofre, deixando cair uma lágrima de comoção, rindo com uma cena atrapalhada, suspirando com as lembranças que se associam a cada minuto da história do herói da tela, em que a música é companhia a propósito e o cenário envolvente.
Estar sentado numa esplanada, olhando o infinito como se não existisse mais nada, mas seguindo atentamente os outros, nos seus gestos mais íntimos, sorrindo com as brincadeiras de um cachorro que punha pela roupa de uma criança ou dos namorados que se beijam esquecidos de tudo ao seu redor.
Ver as fotos da revista de excentricidades, enquanto se saboreia um café amargo e quente, desculpa apenas para sair um pouco e ver gente por minutos...
Tudo passa diante dos olhos como um filme, sem que se entre na cena, se sinta o calor do abraço, se receba o sorriso de quem chega, se faça adeus a quem parte.
Estou farta de assistir à vida sem fazer parte dela, de viver a vida no camarote de espectador.

A Vida Ensina

A vida ensina
a esperar, a esperar,
que tudo se altera, tudo se revela,
que acreditar é o primeiro passo
e questionar, o que se lhe segue.
Que as estrelas lá continuam,
mesmo com espessos véus de nuvens
em céus cinzentos de desespero.

A vida ensina
a saber escutar os silêncios,
ler as mensagens escondidas nos gestos
e suportar o peso das ausências.
A encontrar luz no negro profundo,
tristeza no sorriso mais rasgado
e alegria no sal das lágrimas de cristal.

A vida ensina
a avaliar a riqueza da flor,
como jóia que não sabemos lapidar.
E, apesar da força do vento
no seu uivo aterrador,
a saborear a maciez da brisa morna
em fim de tarde prenhe de estios.

A vida ensina
a saber guardar o calor de um sorriso
para encher navios de solidão
e poder navegar
entre suspiros de espuma
e canções de embalar.
(Ou não basta um sorriso de quem amamos,
para nos encher o coração de sonhos?)

A vida ensina,
que uma só migalha pode matar
a fome a um pintassilgo.
E que se o desdém consegue
destruir com a força do terramoto,
basta um raio de Sol nas planícies dos dias,
para fazer renascer a esperança,
como semente após chuva
adormecida em colchões de terra dourada.

A vida ensina-nos

O relógio do mundo

www.poodwaddle.com/clocks2pw.htm

Quem acreditaria?

Se Jesus Cristo viesse ao Mundo nestes tempos modernos, voltaria a ser crucificado.
Quem é que levaria a sério um homem que pregasse a igualdade e o amor ao próximo, o perdão e a misericórdia, sem o apoio das televisões, sem automóvel com vidros à prova de bala, sem guarda-costas, polícias visiveis e secretas, sem cavalaria da GNR, vestes ricas, refeições delicadas e dezenas de motos com luzes azuis a abrir alas, onde foi proibido o trânsito de almas comuns?
O milagre dos peixes ou do vinho... Luís de Matos arranjaria maneira de fazer melhor!
A opulência, a riqueza, o poder...
(Cá para mim, Jesus Cristo nem precisaria de Pôncio Pilatos!)

O Papa em Portugal

A nossa TV repete incansável a notícia da hora, seja a vinda do Papa a Portugal, o vulcão no norte da Europa, o tremor de terra na Ásia, o capeonato de futebol ou peregrinação a Fátima.
Se alguém temesse passar ao lado de tão grandes acontecimentos, a antecedência e a insistência com que são noticiadas, descansaria de imediato esse temor.
Papa antes do Papa, durante o Papa e ainda durará muito depois do Papa.
Os aviões onde ele viajará e o seu papamóvel, a decoração especial do quarto onde descansará, as cadeiras feitas em madeira especial, por artesão especial, para sentarem os "simsenhores" especiais, o microfone coberto de película de ouro, as ementas especialíssimas das refeições do velho senhor, a honra imensa de o ver, de o ouvir, de receber a Santa Hóstia da sua santa mão.
Queixam-se os pequenos comerciantes que viram o trânsito cortado nas suas ruas desde domingo, os pais que não têm onde deixar os filhos nos dias de feriado, os motoristas que têm de dar voltas enormes para chegar aos destinos.
Polícia, segurança, protocolo.
A despesa é imensa. O país pára.
Tanta pompa e circunstância para receber o homem que deve fazer apologia ao despojamento, à partilha, à pobreza!
No domingo foi o Benfica. Hoje foi o Papa. Depois será Fátima.
O desemprego, a violência, a desilusão, as fraudes e mais, ficam esquecidos perante "momentos tão emocionantes e vivências tão importantes".
A TV insiste e nós resistimos.
(Nota: A vinda do Papa é uma mensagem de esperança, porque se temos tanto para gastar é porque afinal não estamos assim tão mal!!! Ou será "perdidos por cem... perdidos por mil"?)

Universidade Sénior- Fundão

No fim de semana passado, no Fundão, quando atravessei a avenida para ir tomar um café reparador, não só por um pouco de cafeína, mas também por sair de casa e dar dois dedos de conversa com a minha amiga Teresa, fui surpreendida com o som dos tradicionais bombos de Lavacolhos, uma aldeia do Concelho.
Como gosto de tudo o que é tradicional da minha terra, parei logo para os ver.
Os bombos abriam o cortejo dos finalistas da Universidade Sénior.
Ao mostrar pena de não ter ali a minha máquina fotográfica, a Teresa afundou a mão no imenso saco (os sacos das senhoras são como a farmácia... têm de tudo!) e passou-me a sua.
Com o Sol muito forte, a máquina desconhecida, os meus óculos desaparecidos, quando consegui preparar-me, já o cortejo tinha passado. Mesmo assim, entre fotografar o chão, as paredes e outros objectos não identificáveis, ainda registei algumas imagens que poderão lembrar como na minha terra se vão dando passos em frente para combater o isolamento das cidades do interior, a solidão das pessoas mais velhas e o pouco conhecimento a que tinham acesso.
Os trajes impecáveis, as cabeças já brancas e a serenidade dos rostos, mostravam uma altivez de quem está bem com a vida, de quem está feliz, realizado.
As vozes afinadas acompanhavam os adufes e o cavaquinho nas canções tantas vezes ouvidas na minha infância.
Gostei muito.
Parabéns aos corajosos, que deixam a sua casa confortável e rumam à escola, mostrando que "o aprender, pode ser sempre".

Acordo

A Chuva e o Sol em competição, uma no desejo de prolongar o Inverno e o outro de instalar definitivamente a Primavera, chegaram finalmente a acordo.
O Sol brilha durante o dia e a Chuva cai durante a noite.
A Natureza está feliz!

As duas faces da vida.

No meu serviço, duas amigas vieram ajudar-me a terminar uma tarefa e enquanto o faziamos, tagarelámos depreocupadas.
Houve um momento em que falámos do casamento.
Como já tinhamos, as três, vivido essa experiência sem nos sairmos muito bem, pelo menos tão bem como tinhamos sonhado - o "para sempre" não tinha passado de "alguns anos"- ficámos para ali a compor teorias sobre o tema.
Elas, como mulheres inteligentes, bonitas, independentes e ainda jovens, falavam da disposição para voltar a experimentar o casamento, apesar de tudo.
Eu, como mais velha, dava sugestões (a que geralmente chamam conselhos e como diz o outro, se conselhos fossem de alguma valia, não se davam, vendiam-se) e dizia-lhes que não fechassem o coração a um amor, pois de um momento para o outro poderia aparecer e fazer com que as suas vidas fossem mais felizes.
Concordaram e asseguraram-me que não tinham desistido de envelhecer com um companheiro que as mimasse.
Entre frases mais sérias e algumas graçolas, fomos terminando a nossa tarefa.
Passou cerca de um ano sobre esse dia. Para mim continuou tudo igual, numa rotina calculada.
Para as minhas amigas, não.
A vida guardava-lhes grandes surpresas.
Naquele dia estavam ambas na mesma posição, no mesmo caminho, iam na mesma direcção.
Eram as duas divorciadas, sem namorado, com um filho pequeno, no mesmo emprego, quase a mesma idade, saudáveis e charmosas.
De repente, o destino obrigou-as a um caminho diferente.
Uma encontrou o amor da sua vida e com ele toda a alegria de viver. E como é bonito o sorriso de alguém apaixonado e correspondido!
A outra, sempre preocupada com o exercício físico, com a alimentação saudável, com a escolha da vida bem perto da Natureza, descobriu estar doente e ter de ser operada urgentemente.
Encetou então uma dura luta contra a doença.
E nestes momentos tão inesperados para mim, o que mais me tem impressionado é a forma como ambas têm percorrido o seu novo caminho.
A que está feliz, age discretamente, sem fazer alarde da sua sorte, da sua fortuna, do seu tesouro, evitando exibir o entusiasmo que passou a acompanhar os seus dias. Passa silenciosa no corredor, quase a esconder os sinais da sua felicidade, num pudor ingénuo.
A que luta para reaver a vida que lhe foi roubada por doença intrusa, nunca mostra desânimo ou revolta, nunca se queixa.
Eu fico temerosa por ela, com lágrimas nos olhos perante a volta que a sua vida deu em poucos meses, aflita, antevendo as horas de sofrimento que a esperam. Mas ela não baixa os braços e ainda me anima.
Enquanto uma caminha para tratamentos de consequências dolorosas, a outra goza pequenas férias com o coração cheio de esperança.
No entanto, nem uma exibe a sua felicidade, nem a outra se queixa da sua desdita.
Numa, vejo a simplicidade mesmo quando pisa um caminho atapetado com pétalas de rosa.
Na outra, a imensa coragem de enfrentar o medo e a dúvida, sem queixumes.
Eu, eu fico feliz com a que está bem, sofro as dores da que se debate com a doença e sinto-me muito orgulhosa de as ter como amigas.
Verdadeiras lições de vida todos os dias!

PRIMAVERA


Voltou o Sol.

Tomam rebentos novos as árvores e começam a invadir os campos as pequenas flores de todas as cores.

Os meus amigos passaritos já conversam na minha Gingko, às 6,30h da manhã, em alegre chilreada.

Posso cuidar das minhas plantas ao ar livre, sujando as mãos e molhando os pés.

É Primavera, de novo.

Parar para pensar



Há 6 mil anos, que a guerra agrada aos povos quesilentos, enquanto Deus perde o seu tempo a fazer as flores e as estrelas.


Victor Hugo

Café com companhia

Mesmo sem vontade de sair de casa, quem vive sozinha e precisa de comprar alimentos, tem de o fazer. Estava sem pão, base do pouco que tenho comido ultimamente, desde que ando adoentada. Queria comprar legumes e fruta. Resolvi arranjar-me e lá fui.
Para não vir para casa logo depois de fazer as compras, sentei-me no bar e aproveitei para tomar o pequeno almoço.
Nas mesas à minha frente estavam 5 pessoas que me despertaram a atenção.
Um casal mais idoso, ele sempre sorridente, com um rosto perfeito, com aspecto de ser muito alto e magro, ela muito bem vestida, com um blusão acetinado de penas e uma boina de lã angorá, que deixava aparecer algum cabelo loiro e cuidado, estavam logo ao meu lado.
Duas mulheres, a rondarem os quarenta anos e um homem da mesma idade, vestindo roupa desportiva e de bom gosto estavam à sua frente. Uma ficou no topo da mesa e lia uma revista, a outra falava, enquanto os mais velhos, que deduzi fossem os pais, sorriam.
O homem mais novo alimentava a tagarelice com um ou outro comentário.
A que lia, não respondia e mostrava não prestar atenção ao que diziam.
A outra, em tom bastante alto, confiante, que me permitia ouvir o que dizia, comentava que "alguem com quem trabalhava, mal entrava no serviço tomava café. Daí a pouco já pedia café de novo e até à hora de almoço ainda bebia mais dois ou três, continuando assim todo o dia.
Quando lhe dizia que ele bebia café demais, respondia-lhe que como havia pessoas viciadas em tabaco, ele era viciado em café."
Sorriam e mal faziam um comentário de poucas palavras, ela voltava a dominar as atenções com outro assunto.
De repente, levantou-se para ir às compras. Perguntou à que lia se precisava de alguma coisa. Esta negou com um gesto de cabeça, sem desviar os olhos da revista.
Isso não a fez desistir e nomeou uma lista de coisas, na tentativa de a fazer lembrar de alguma falta. Passou do shampô para o creme das mãos, dos detergentes para os legumes, dos queijos para as bebidas.
Mas, nem resposta, apenas novo acenar de cabeça.
Então, saiu da mesa e desapareceu no meio das pessoas.
A que lia, levantou os olhos para o homem mais novo, passou-lhe a mão no rosto e deu-lhe um jeito no cabelo já bastante grisalho. Ele olhou-a e sorriu.
Lembrei-me da minha família. Do meu pai sempre tão bem posto, com um riso franco em que mostrava os dentes perfeitos, sempre com um ar meigo e bem disposto. Da minha mãe tão vaidosa, com o seu baton, os seus brincos e colares, o seu cabelo muito curtinho, com roupa clássica de boa qualidade. Eu, tagarela, ria de tudo e entusiasmava o meu irmão mais novo a dizer disparates e a rir também.
O meu irmão mais velho não me achava graça, nem tinha paciência para me ouvir.
A minha mãe acabava por me mandar calar, mas era nesses momentos que eu mais tinha vontade de rir.
Então o meu pai dava-me toques com os pés debaixo da mesa e ria também. A minha mãe zangava-se dizendo que ele era o culpado, que era pior do que eu.
O meu coração encheu-se de recordações e de saudades.
A minha solidão tornou-se tão real, que de repente parecia não haver ninguém à minha volta.
Olhei o fundo da chávena, bebi o último golo açucarado em demasia, arrumei o tabuleiro e saí.
O frio da rua pareceu-me uma carícia. Enchi o peito de ar, com força e corri para casa.

Ronan Keating

2010...

Terminou 2009 e... lá tivemos que aceitar 2010.
Nada consegue parar o tempo.
Nem a vontade, nem a necessidade, nem a força do pensamento!
E foi triste o fim de um e o começo do outro.
Temporal, destruição, falta de electricidade, inundações, gripe A, desemprego, serviços de saúde de meter medo para os menos abonados, miséria, crime e injustiça q.b.
No entanto as lojas cheias de gente a comprar roupa como se tivessem 200 corpos, a comprar brinquedos cada vez mais sofisticados e a que as crianças pouco ligam, comida aos montes de todas as espécies e sabores, bibelots, adornos, sei lá eu que mais... enquanto os sem emprego, os sem abrigo, os sem saúde, os sem família, os sem comida, os sem esperança, assistem a todo um desfile de supérfluo com o coração partido.
Tenho visto muita indiferença, muita ambição, muitas atitudes que não gosto.
As pessoas desculpam-se com a crise, mas ela serve apenas de motivo para darem largas ao seu mais profundo egoísmo.
Poderiam contornar a crise de que tanto falam, com menos luxo, com menos ostentação... mas é difícil privarem-se de um pouco que seja, para que os outros se sintam menos infelizes.
Estou triste, como há muito tempo não estava.
Comecei 2010 com o coração apertado, com as lágrimas nos olhos, com uma nuvem sobre o que espero do futuro.
E não é por crise económica nenhuma...
Apenas antevejo o que é a velhice, a falta de sáude, a falta de projectos, as limitações de quem soma anos.
E em 2010 somarei mais um.