Desistir

Julgava que pouco mais havia para saber das trafulhices que nos levaram a a esta situação de penúria, mas enganei-me. São umas atrás das outras e umas atrás das outras as medidas que nos fazem pagar essas trafulhices. Hoje atingi a saturação. Não quero ver notícias, nem saber de medidas, sejam elas quais forem. Ando triste, preocupada e revoltada. A partir de hoje recuso-me a saber do que se passa nesta terra de mentirosos, incompetentes e oportunistas, já que não adianta de nada. Ler, só romances. Ouvir, só música. Falar, só da Natureza, de Poesia, de Arte. Que se enforquem em contas no estrangeiro, que sufoquem com tantas mordomias, que rebentem de prazer com tantas vigarices. Não queria deixar de torcer pelo meu país, mas é carga demasiado pesada para quem já suportou tanta crise. Fui alimentando a esperança, fui esperando, esperando. Estou cansada. Desisto.

Há 70 anos

Histórico filme de banda desenhada.
Desenhada integralmente à mão pelos cartoonistas de Walt Disney, em 1942, para servir de missão diplomática americana no Brasil, esta Aguarela assinala a chegada do já então universal Donald Duck a terras de Vera Cruz - e, com isso, a criação de um personagem que se juntou ao círculo de amigos do Mickey Mouse e que na profusa produção brasileira de revistas aos quadradinhos, que depois se seguiu, veio a tornar-se também ele mítico no imaginário dos desenhos da Disney: o Zé Carioca.

 Publicado em http://quadratim.blogspot.com 

O próximo

Substituiu-se Deus pelo dinheiro.
Dantes aprendíamos a amar o próximo.
Agora temos de aprender a tirar rendimento do próximo e do não próximo.
Quanto é que isso rende? É a primeira pergunta a fazer.
Os sentimentos ficam para depois.

Fome

Todos os dias aparecem mais crianças com fome nas escolas.
Todos os dias os governantes dizem que os resultados nas cobranças não foram os esperados, pelo que tem de haver mais medidas de austeridade.
Mas que contas andam a fazer os governantes?
E as tais gorduras do Estado, tão apregoadas na campanha do Sr. P. M.?
E a fome das crianças? Que diz o Sr. P. M. agora sobre a fome que alastra na terra que ele governa?

Reduzir


O FMI "sugeriu" a redução dos salários dos funcionários públicos!
Dá que pensar, pois há muitos anos que posso comparar a miséria que ganho, com o que usufruem as pessoas com as mesmas funções, nos restantes países da Europa. Eles devem poder fazer a comparação também e ainda têm a coragem de  "sugerir" essa medida, depois de já nos terem reduzido à situação de mera sobrevivência.

Uma...

Viva!
Uma notícia sobressai na RTP. 
Uma empresa holandesa, em Castelo Branco, deu trabalho a 9 pessoas.
Num país em que "apesar de todos os dias fecharem empresas, o saldo é positivo, pois abrem muitas mais"(Palavras do P. M.), finalmente a notícia duma que abriu.

(Des)acordo

O Acordo Ortográfico tem razões, que a razão desconhece!

Adoro a minha terra



Adoro a minha terra
O seu céu, o seu mar, o seu sol, o seu cheiro, a sua música, adoro tudo o que na vida deu a mão aos meus irmãos, aos meus pais, aos meus amigos.
Adoro esta terra que serviu de berço aos meus filhos e aos meus netos.
Adoro a minha língua, cada letra que a escreve, cada som que a diz.
Choro por vê-la tão perdida, tão ferida, tão hipotecada, sem poder fazer nada para a salvar.

Espólio


Há uma solução para toda esta crise.
Cobrem-nos imposto sobre a mágoa, a tristeza, a preocupação, a desilusão, por cada sonho que nos roubaram, sobre as lágrimas de quem tem de partir, a saudade de quem fica, a vergonha de quem tem de pedir para se alimentar,a fome de quem não tem a quem pedir, a humilhação, a espera, a insónia, o desespero, a dor (não a física, mas a que fica quando morre a esperança)
Levem-nos a casa, o emprego, a auto-estima, mas façam o favor de levar também a inteligência, para não vermos tanta falta de honra.

A mania das grandezas

Estadão a qualquer custo!
Fizeram auto-estradas, mas para as pagarmos, não temos dinheiro para as portagens, para o combustível, para os seguros.
Construíram pontes, mas para as pagarmos, não podemos pagar os estudos dos nossos filhos, a sua formação e o seu futuro.
Inauguraram com pompa Centros Culturais de Belém, Casas da Música, Fundações e Afins, mas nem dinheiro ganhamos para poder comprar um livro ou ir a um concerto.
Abriram portas de estádios fantásticos, mas nem a disciplina de desporto os nossos filhos têm na escola.
Optaram por grandes Centros Comerciais onde instalam as marcas milionárias do mundo que não podemos ter, enquanto definham os nossos comerciantes, que acabam por  fechar as portas.
Quiseram mostrar ser de um país rico e equiparar-se aos países que só eles podiam visitar, onde só eles se podiam hospedar, onde só eles se podiam vestir, onde só eles podiam assistir aos espetáculos.
E tomaram o gosto aos lucros das  negociatas!
Sem pudor, deixaram-nos na maior miséria, na maior depressão, na maior infelicidade de não nos considerarem merecedores de Respeito.













Saudades

Tenho saudades do que nunca tive,
Espero quem sei que não vem.
A tristeza chega sem medida
Estrela cadente, nuvem em tarde de Verão
Onda rendada que de leve
Beija a areia dourada.
Ouço quem nada diz,
Sorrio para olhar distante,
Abraço uma lembrança.
Quieta, corro para quem não está,
Tenho saudades de quem nunca tive.

Eu, trabalhadora e dona de casa


No fim de um dia de trabalho  e enquanto fazia as tarefas de casa, ouvia o noticiário.
Iam fazer uma ponte que custaria muitos milhões. 
Eu ficava a imaginar, enquanto lavava a loiça, quanto representava aquela quantia e não conseguia ver em cima da minha mesa qualquer coisa parecida.
Passado algum tempo ouvia  que iria ser feito um hospital e que custaria muitos milhões.
Enquanto passava a ferro, depois de um dia cheio no meu serviço, voltava a fazer contas. Meu Deus, quanto dinheiro!
E depois era uma estrada, uma auto estrada, outra auto estrada e ainda outra. "Para desenvolver o nosso país","Para acompanhar o progresso do estrangeiro", diziam.
Depois, outra ponte. Desta vez eu baixava as bainhas das calças dos garotos, que cresciam mais depressa do que eu ganhava para comprar umas calças novas.
Enquanto passava o óleo nos móveis de madeira barata, para lhes dar o brilho que eles nunca teriam, ouvia falar numa Expo que traria mundos e fundos ao nosso país. E mexendo a sopa que iria comer nos próximos dias, quando chegasse do trabalho, via limparem uma parte da cidade, deitarem abaixo edifícios, mudarem de local grandes estruturas, fazerem estradas, construirem pavilhões e restaurantes e prédios e esplanadas e fontes e... Eu fazia cálculos como simples dona de casa, se renderia o suficiente, a tal Expo, para cobrir todas aquelas obras.
Mas se eu falava nessa minha inquietação, havia logo quem me dissesse que tinhamos de dar os passos para o progresso. Eu achava que o governo teria de fazer milagres para arranjar pernas para passos tão largos.
Continuava  a sair cedo para o trabalho, preocupada com o que tinha para pagar, com o frigorífico que se encontrava outra vez sem grande coisa, com os garotos que continuavam a crescer e a ter novas necessidades, com o medicamento que necessitava comprar e me abalava o orçamento. Enquanto isso, aproveitava o descanso de ir sentada no autocarro, embalada pelos solavancos e as entradas e saídas de gente tão pensativa como eu.
E logo falaram  num estádio de futebol novinho em folha, com isto e aquilo, tal como lá fora. Outro estádio e ainda outro. Eu nunca tivera coragem para gastar o dinheiro num bilhete para entrar num estádio, mas sabia que muita gente teria. E também a honra que era termos um evento daqueles!!! E via nascerem enormes estádios de futebol, coloridos, invadindo a paisagem e escurecendo monumentos com séculos, que ficavam com ar humilde e cinzento a seu lado. As luzes ténues que iluminavam o castelo de D. Dinis, pareciam pobres como eu, perante o brilho ofuscante dos projectores do novo estádio.
E eu, enquanto aspirava a sala, pensava onde se ia buscar tanto dinheiro para tanta obra grandiosa. Nenhuma delas ainda tinha alterado a minha vida, a não ser a auto estrada que percorria uma ou duas vezes por ano para ir à terra onde nasci.
Depois falavam noutra ponte, noutras estradas, em centros comerciais, em aeroportos, em comboios de grande velocidade...
Tinha ido um dia a Coimbra num comboio mais rápido e estranhei vê-lo com meia dúzia de passageiros. Um assistente veio perguntar-me se eu precisava de alguma coisa, se estava a fazer boa viagem e fiquei muito atrapalhada com tanta cerimónia. Fiquei a pensar e a sorrir, durante minutos, naquela gentileza para comigo, comigo, que antes de entrar no comboio tivera de deixar a casa arrumada e a comida feita.
O noticiário era um vício para mim. Talvez porque me trazia esperança de que depois de tantas obras, a minha vida mudasse, chegasse a minha vez.
Falavam em conferências a alto nível, em fundações de todo o género, em spread, em juros, em cotações da bolsa, em milhentas coisas que eu não percebia. Concentrava-me na camisola que fazia, em fibra que imitava a lã, por ser mais barata.
Foi então que começaram a falar em falências, em dívidas, em termos gasto mais do que podíamos... Eu parava de passar a ferro e admirava-me. Falavam em cortar o meu vencimento e de tantos outros como eu, porque tinhamos vivido acima das nossas posses. Aumentavam os impostos e avisavam-me que teria de pagar submarinos, centros comerciais, auto estradas, carros de luxo, obras milionárias nos gabinetes dos ministros, computadores para os deputados, viagens ao estrangeiro com comitivas de centenas de pessoas... Comecei a desconfiar que não percebia o locutor, ou que ele falava de outro país.
E a palavra crise era a mais vezes repetida. Crise nacional, crise na Europa, crise mundial, crise na indústria, crise na construção.
Agora, depois de me congelarem a subida na minha profissão, de congelarem o meu vencimento, de reduzirem o meu vencimento, de me tirarem os subsídios com que eu orientava a minha vida duas vezes por ano, de aumentarem tudo, depois disso, ainda dizem que eu nunca trabalhei nada e que posso ser despedida por ter sido incompetente, preguiçosa, ter ganho mais do que merecia e ter vivido acima das minhas possibilades.
Ouço as notícias e vejo os protestos de tantos como eu, enquanto arranjo a sandes e o copo do chá para o almoço, depois de um dia estafante no meu serviço onde se aposentaram mais de metade dos funcionários e tenho de  fazer a minha tarefa e a deles.
Os edifícios da tal Expo são transformados em sucata. O comboio de alta velocidade (que viria ajudar a transportar a meia dúzia de passageiros que eu vi naquele dia que tive de ir a Coimbra) já não se faz, mas tem de se pagar na mesma. Alguns  estádios estão para ser demolidos, pois nem chegaram a ser concluídos. O aeroporto continua congestionado e já foram gastos milhões para decidir se seria feito aqui, ou ali. Nos centros comerciais fecham a maioria das lojas. Os restaurantes fecham, as mercearias fecham, as retrosarias fecham, os mini mercados fecham.
Só persistem os restaurantes de luxo, os stands de automóveis de luxo, os hipermecados, as boutiques de luxo e custa-me a perceber porquê.
Os jovens deixam de poder estudar. Os pais emigram para poderem sustentar a família. As filas de desemprego engrossam todos os dias.
E penso, enquanto colo a sola dos sapatos gastos, como poderia ter trabalhado mais, o que teria feito acima das minhas possibilidades económicas, para que os meus filhos não tivessem futuro.
Então os governantes estudam, falam coisas que ninguém percebe, vão ao estrangeiro e convivem com reis e presidentes, sabem de tudo e não sabem que se comprarem a tv a prestações têm de a pagar, se pedem dinheiro ao banco para ir para o Algarve, têm de pagar as férias a triplicar?
Vejo os protestos e tenho raiva.
Apetecia-me que entre todos decidissemos não pagar, não pagar, não pagar.

A Luta


Fomos esperando que nos ajudassem, que lutassem por nós, que nos dessem a paz, mas o inimigo mostrou-lhes o tesouro e ofereceu-lhes alguns despojos.
Venderam-se e ignoraram-nos.
As contas que nos prestaram, foram mentiras.
As promessas que nos fizeram, não foram cumpridas.
Agora, enquanto seguram o despojo da sua infâmia, querem que continuemos a tratá-los como guerreiros.
O povo, virou-lhes as costas.
Teimam em esconder o que não lhes pertence e convencer-nos que vão lutar por nós.
E nós, o povo, dobra as costas, mas desta vez para apanhar pedras e se defender.

Partiram já tantos!

Começo a contar todos os que viveram e foram famosos durante grande parte da minha vida e fico espantada com tantos que já partiram.
Foram cientistas, actores, músicos, políticos, pintores, escritores, poetas, revolucionários, pessoas sábias, cheias de vontade, persistentes na sua luta pelo que acreditavam, pelo que amavam e queriam conquistar, no entanto, o tempo, umas vezes mais justo, outras mais apressado, acabou por lhes dar o mesmo destino.
Para onde foi a sua sabedoria, o seu talento?
Que sentido tem a vida, se acaba da mesma forma para os heróis e para os cobardes?

O tempo que resta

Dizia hoje a uma pessoa amiga, que sinto pena de estar a envelhecer.
Lembro-me do meu cabelo, dos meus olhos, das minhas mãos serem tão diferentes e por mais que tente, não consigo fazê-los ficar como eram.
Mas se fechar os olhos, sinto como sempre senti, construo os mesmos sonhos, alegro-me e entristeço com as mesmas coisas, sou como sempre fui.
Esqueço-me do que o espelho mostra e espero que alguém me olhe e me veja como eu me sinto. Ainda acredito no amor.
A alma não envelhece, como o nosso corpo.
A alma é sempre jovem e faz-nos sofrer por isso, no tempo que resta.

Sim, mas...


“Eu disse à Troika que Portugal não está no caminho certo, mostrei-lhe os graves problemas que estamos a enfrentar. Não houve qualquer alteração da sua atitude, mas mostrei-lhes as nossas preocupações.”
Esta frase que ouvi hoje nas notícias da manhã, fez-me lembrar um produtor de fruta que conheci no Fundão, quando lutava por obter rendimento da quinta que o meu pai nos deixara e me informava dos mercados possíveis para a fruta que produzia.
Enquanto me queixava do baixo preço que nos ofereciam, esse produtor dizia-me com ar fanfarrão:
“Vendi os meus pomares muito bem vendidos, foi o preço mais alto que já vi por aí. Não me pagaram, mas foram muito bem vendidos!”

Apelo


Ora nos manda emigrar, ora nos manda mudar de vida... Não haverá ninguém que o mande àquela parte?

Ainda os tempos de indiferença


Fui confrontada por alguém que leu o meu post na Pegada, querendo saber se eu era contra a ajuda que cada um pode dar para as Instituições que se debatem com dificuldades financeiras.
Não sou contra. Não sou contra o acto de dar, nem contra o acto de receber, nem contra coisa nenhuma que as pessoas queiram fazer.
Sou contra a ideia de que temos que contribuir constantemente para que as Instituições sobrevivam, se arrastem, atinjam minimamente os fins para que foram criadas.
Não aceito que uma corporação de bombeiros tenha de pedir de porta em porta.
Não aceito que uma casa de acolhimento de crianças abandonadas tenha necessidade, para cuidar delas, de fazer peditório nacional.
Não aceito que um hospital não possa comprar medicamentos ou outros materiais e ande na pedincha para poder atender os doentes que ali são tratados.
Trabalho há 40 anos e nunca vi a cor a mais de um quarto do meu vencimento, para poder ter algumas regalias, entre elas a assistência médica. A verdade é que durante anos e anos nem um comprimido gastei e se contabilizar as vezes que adoeci e necessitei de ajuda, meio ano desses descontos cobririam todas as despesas.
De quem é a obrigação de zelar por esse suporte social?
Constantemente, aonde quer que vá, vejo pessoas pedir para os mais diversos fins. São todos conhecidos, são todos idóneos, são todos necessitados, são todos do bem.
Nada neste país funciona?
Acho ridícula esta pedinchice.
No entanto, as pessoas cada vez estão mais afastadas dos seus familiares, dos seus vizinhos, dos seus conterrâneos, fazendo vista grossa às  suas necessidades como seres humanos.
A atenção, a amizade, o carinho não se compram com donativos de porta de supermercado.



Ganância


Já pensaram na publicidade feita ao supermercado que fez a promoção de 50% na venda dos seus produtos no Dia do Trabalhador?
Se fizermos bem as contas, ficou mais barata e teve mais resultados do que feita de forma normal.
Em todas as cidades, as pessoas correram a fazer as compras, gastando o que tinham e talvez, o que não tinham. O dito cujo guardou a sua margem de lucro, ainda que menor.
Os da concorrência vão ficar algum tempo às moscas e a notícia abriu os noticiários na hora nobre, além de encher as redes sociais e os jornais.
Depois, sempre tiveram o prazer de dar uma risada na cara do 1º de Maio...
Acho que a imaginação do homem não tem limites e a sua ganância também não!

Amanhã

"Crescimento, só para o ano!" (Diz o governante)

"Fiado, só amanhã!" (Diz o taberneiro)

Porque é que me lembrei disto? Será que existe em si o mesmo espírito?

Sonhar


Achava que os sonhos tinham a dimensão das posses de cada pessoa.
Se uma pessoa não sabe ler, sonha que poderá, de um momento para o outro, ler o jornal, as legendas do filme da televisão, da bula do último medicamento que lhe receitaram. Esse não será o sonho de quem já não se lembra sequer de ter aprendido a ler.
Eu sempre tive pena de não saber música e sonho constantemente poder sentar-me a um piano e tirar dele música de Mozart ou de Chopin.
Na verdade nunca procurei um professor e tentei aprender.
Sou como aquele que desejava que lhe saísse a sorte grande e nem sequer jogava!
Os sonhos, concluo, têm a dimensão do querer de cada pessoa.

A minha casa é do banco!


Um casal festeja a compra da sua casa e entra nela cheio de ilusões.
Tem a conta para amortizar, mas só pede saúde, pois o esforço de ambos já foi calculado mil vezes e está previsto até ao último cêntimo.
Anos depois, um perde o emprego e o outro não ganha o suficiente para assegurar a alimentação da família, os estudos dos filhos, os seus transportes, a sua saúde e a dívida ao banco.
A casa deixa de poder ser paga e o banco vem resgatá-la sem dó nem piedade.
Num leilão, onde aparece aquele apartamento como um simples T3, onde nada mostra o amor com que foi comprado, como foi transformado em lar de uma família que ia crescendo, como foi testemunho de tantas horas de aflição, é rematado a um licitador, ao som do martelo na mesa nua, cumprindo a missão de não deixar o banco sair a perder.

Luta desigual


Fico indignada quando ouço dizer que este ou aquele foi tão forte que conseguiu vencer o cancro.

Acho uma tremenda injustiça por aqueles que o cancro derrubou, pois parece que viver ou morrer é uma questão de força de vontade de quem é surpreendido por esta doença.
Lutar, todos lutam. Querer vencer e continuar junto dos seus, todos querem. Só que a doença não dá essa chance a todos.

Apesar do frio


Apesar do frio, da falta de chuva, dos percalços da bolsa, das explicações looooongas e leeeeentas do responsável pelas Finanças, das manifestações com manifestantes em número incerto entre os 30.000 e os 300.000, apesar dos dias curtos e cheios de Sol e das noites longas e escuras como é usual, apesar de todas essas desgraças, as roseiras começam a rebentar em folhagem brilhante, as cameleiras estão em botão, a magnólia está cheia de flor e todo o jardim mostra que tudo está bem na Natureza. Quem me dera que após um período de ramos despidos e morte aparente, eu pudesse voltar, como elas, a ser viçosa e florir cada ano, ao chegar a Primavera.

Miguel Torga


Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,

E que nele posso navegar sem rumo,

Não respondas

Às urgentes perguntas

Que te fiz.

Deixa-me ser feliz

Assim,

Já tão longe de ti como de mim.



Perde-se a vida a desejá-la tanto.

Só soubemos sofrer, enquanto

O nosso amor

Durou.

Mas o tempo passou,

Há calmaria...

Não perturbes a paz que me foi dada.

Ouvir de novo a tua voz seria

Matar a sede com água salgada


Frederico

ESECTV na RTP2: emissão 01 fevereiro 2012 (LGP) from esectv on Vimeo.

Pablo Neruda

SAGRES

John Denver

"As Farpas" de Eça de Queiroz

“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!”
Isto foi escrito em 1871, por Eça de Queirós, no primeiro número d'As Farpas. Parece mais actual do que nunca!

1872...

Castelo de Vide












É bom não perdermos as nossas raízes de vista.
Só assim conservaremos a nossa identidade.
Eu tenho orgulho em ter nascido neste país cheio de Sol, mesmo tão pobrezinho.
A única pobreza que lamento, é a de espírito.

O acordar dos sentidos



Pela manhã, o acordar dos sentidos:


A vista do nascer do Sol
O tacto da roupa macia
O sabor da torrada
O odor do café
O som do... despertador

O espírito





Quando desaparece alguém que admiro pela sua sabedoria, pergunto-me sempre para irá tanto conhecimento.
De que valeu o estudo, se tudo termina quando o corpo envelhece e morre?
Como pode o espírito estar confinado à breve existência do corpo?

Universo



Tantas vezes tentei já encontrar uma relação entre mim, as plantas, as estrelas, as pedras, os animais, a Lua e as outras pessoas.
Demasiado complexo ou simples, afinal?

Dizer


Há formas de falar, sem dizer uma palavra.
A poesia, a música, a imagem, a dança, a prosa, são discursos directos que outros escolheram por nós.

nota

O que mais me dá prazer na escrita, é o que digo nas entrelinhas.

Distraídos

Entretidos que temos andado com os jogos de futebol e a luta das claques, com os pés e joelhos em sangue dos peregrinos de Fátima, com o sexo sem segredo da casa dos segredos, com a quinta das celebridades sem celebridades, com as Júlias, Fátimas e Gouchas super divertidos e bem resolvidos, com o preço certo, que nunca está certo... nem nos demos conta de estarmos a ser depenados pelos políticos que nos vieram salvar doutros políticos, que nos estavam a depenar.