Apesar do frio
Apesar do frio, da falta de chuva, dos percalços da bolsa, das explicações looooongas e leeeeentas do responsável pelas Finanças, das manifestações com manifestantes em número incerto entre os 30.000 e os 300.000, apesar dos dias curtos e cheios de Sol e das noites longas e escuras como é usual, apesar de todas essas desgraças, as roseiras começam a rebentar em folhagem brilhante, as cameleiras estão em botão, a magnólia está cheia de flor e todo o jardim mostra que tudo está bem na Natureza. Quem me dera que após um período de ramos despidos e morte aparente, eu pudesse voltar, como elas, a ser viçosa e florir cada ano, ao chegar a Primavera.
Miguel Torga
Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada
"As Farpas" de Eça de Queiroz
“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!”
Isto foi escrito em 1871, por Eça de Queirós, no primeiro número d'As Farpas. Parece mais actual do que nunca!
Castelo de Vide
O acordar dos sentidos
Pela manhã, o acordar dos sentidos:
A vista do nascer do Sol
O tacto da roupa macia
O sabor da torrada
O odor do café
O som do... despertador
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