Dor

Crianças que sofrem. Penso muito nisso, mas...
Confesso que podia pensar, mas devia fazer mais.
Quantas vezes não me afastei daquelas que pedem esmola junto da porta do supermercado, por estarem sujas e andrajosas?
Quantas vezes passei por aquelas que estão sentadas no chão, no passeio da rua das principais lojas, à volta da mãe, com o irmão mais pequeno dentro duma caixa de papelão e olhei as montras, fingindo não ver as mãos estendidas, os olhos tristes pedindo ajuda.
Quantas vezes me contrariou que viessem pedir-me "uma moeda para matar a fome"?
Quanto esbanjei em roupa que visto raramente, em pares de sapatos que não preciso, em malas, relógios, anéis e outras futilidades, que não servem para nada, que não me tornam melhor, que não me ensinam nada, que não me retribuem nada?
Ah! Dou a roupa que já não quero, para um colégio... que grande avaria! Arranjo lugar nos roupeiros para outras que já penso comprar e ainda alivio a minha consciência.
Dou alguns pacotes de massa ou de arroz para o banco alimentar... e tento esquecer a quantidade de guloseimas que me enchem o carrinho e me vão adoçar os serões, depois de ter jantado tudo o que me apeteceu.
Dou uma moeda ao arrumador, é verdade, para que ele não me risque o carro e resmungo contra o vício que engolirá a moeda no minuto seguinte.
E resmungo porque tenho preconceitos, sem o admitir, contra todos os que são diferentes, os que não conheço, não reconheço ou não pertencem à minha tribo.
Acho que me falta admitir que se for "um diferente", mas filho de alguém famoso, importante, a quem eu reconheça valor, até sou capaz de achar graça. -"Hum, que querido!"
Talvez exagere um pouco, mas sinto que, de uma maneira ou doutra, protejo os meus e ignoro ou evito os estranhos.
Arrepio-me com as fotos das crianças esqueléticas, moribundas, cobertas de moscas, mas nada faço para minorar a fome, já não digo desses milhões de seres que morrem todos os dias de inanição, mas apenas daqueles que me estendem a mão na porta do supermercado.
Sou uma bela moralista, não haja dúvida!

1 comentário:

nuno medon disse...

olá! Infelizmente somos todos assim.....ou felizmente naqueles casos em que sabemos, que o dinheiro não é para as crianças comerem, mas sim para entregarem o dinheiro que ganham a pessoas mais velhas... raramente existe um caso em que as crianças sentem fome! Quando vem alguém a minha casa pedir para comer, seja criança ou pessoa mais velha, vamos á cozinha ( eu ou a minha mãe ) e oferecemos uma saca com uma peça de fruta de casa. Algumas vezes a minha Mãe entrou com uma ou outra criança e lhes ofereceu um croissant simples ou um pão com manteiga....isto quando vai na rua e quando existe uma confeitaria por perto! Mas na maioria dos casos, entregam a pessoas que os usam....familiares deles! beijos e as melhoras! um abraço apertado.