Sensabedoria e Malsabedoria

Podia simplesmente deixar-te um comentário. E não seria aqui.
Mas a tua coragem não está só por aqui. Coragem - esta é a palavra de que a tua escrita se serve, de que a tua vida se serve quando fazes dela um acto como aquele que te li noutro lugar.
Foi no teu companheiro (des)dramatizar, teu companheiro da arte e da sabedoria. Passei por lá há pouco, no teu companheiro blogue. E vi o preço que por vezes se paga a quem não conhece a arte nem jamais alcançará a sabedoria. O preço que pagam as pessoas que fazem da vida a sua coragem - o preço que pagam àqueles que não sentem nem sabem, só mandam.
O preço que pagam os que têm coragem diante daqueles que jamais serão dignos dela, aqueles que, mesmo mandando, sempre lançam a pedra e escondem a mão - aqueles que são cobardes, mas mandam. Mandam, ignorando que são escravos. Porque quem não sente nem sabe, porque quem não conhece a arte nem jamais alcançará a sabedoria, é o mais mesquinho escravo da mais mesquinha condição da animalidade.
O título do teu artigo, no teu outro companheiro blogue, é "Maldade". Mas acredita que é lisongeiro. A maldade é atributo da humana condição - muito menos mesquinha que o ódio do instinto humanóide.
Quando a tua escrita testemunha o sentir e o saber da Vida, nunca falarás para esses que mais não têm que sensabedoria ou malsabedoria. Quando falares disso, quando falares assim, fala para os teus companheiros, fala aqui.
Por isso é aqui que o meu comentário cabe. Aqui, onde estás entre os teus pares.
Por isso prefiro deixar-te uns versos que apenas são meus pela mesma razão que são de toda a Humanidade, a quem os legou a Sabedoria... palavra que nasceu no grego com o nome de Sophia:
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Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas
* Sophia de Mello Breyner, Pranto pelo Dia de Hoje
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E se algum dia as forças te faltarem, lembra-te da tua obrigação de testemunhar. Lembra-te da lição de Martin Luther King:
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O que mais preocupa
não é o grito dos violentos,
nem dos corruptos,
nem dos desonestos,
nem dos sem-carácter,
nem dos sem-ética.
...... O que mais preocupa
...... é o silêncio dos bons

Maldade
"Janeiro de 2008.
Uma das prendas que resolvi dar às crianças no "Dia Mundial da Criança", foi uma pequena árvore para plantar no pátio da escola e verem crescer com os seus cuidados. Consegui, depois de imensos telefonemas, 10 árvores com 1,20m de altura, de folhagem verde claro lindíssima, todas iguais, a título gratuito, que considerei uma sorte, uma bênção.
Fiz um texto explicando às crianças, que nós queríamos que elas levassem aquela árvore para cuidarem e ajudarem a crescer, pois mais tarde ela lhes daria sombra, acolheria os pássaros e os seus ninhos, daria oxigénio para respirarem ar mais puro e enfeitaria a escola.
Sobraram 2 árvores. Eu perguntei o que pretendiam fazer com elas. Disseram que seriam dadas à Junta de Freguesia para plantar nos jardins da povoação. Concordei. O Presidente da Junta foi ver as árvores e disse... nada. As árvores ficaram uma semana, um mês, 2 meses... à espera de serem plantadas. Eu perguntei-lhe se não as queria... disse-me que não. Plantar 2 árvores?
Então, vendo as pobres plantas a morrer de sede e de abandono, embora as regasse (o vaso em que estavam era muito pequenino e nos fins de semana ficavam fechadas num gabinete sem ar e muito quente) fui sugerir que se plantassem na quinta. Responderam que não.
Pedi que plantássemos uma perto da escola e me dessem a outra, para plantar no meu jardim e ter uma recordação daquele trabalho. Responderam que não.
As árvores foram secando, apesar de eu ir de vez em quando encher de água o saco de plástico em que meti o vaso, perdendo as folhas e a graça. Mesmo assim, eu sentia que ainda era capaz de as ressuscitar, pois o caule estava verde. Talvez com ar, sol, terra e adubo, elas recuperassem. Acreditem. Deixaram que as plantas morressem. Os vasos foram postos fora da janela, 8 meses depois, para irem no lixo. Estavam sem folhas, os caules castanhos da grossura de um dedo indicador, mas direitas, firmes, ainda muito belas. Morreram, mas continuavam de pé e orgulhosas... Amar a Natureza e os nossos semelhantes!!!
Quem fazia a limpeza não as tirava de propósito, sensibilizado com aquela ordem. Nunca houve um gesto, uma palavra, nada que mostrasse que aquilo incomodava quem ia todos os dias ao arquivo onde elas estavam.
Eram superiores a tudo, a todos, à Natureza, a Deus! Com poder da vida e da morte!!! "

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