Salvador da Baía


Quando visitei a cidade de Salvador, na Baía, revi cada linha dos livros de Jorge Amado, que li aos 16 ou 17 anos e voltei a ler algumas vezes pela vida fora.
O mar e o areal de "Baía de todos os Santos", as ruas apertadas com casas degradadas de "Velhos Marinheiros", o cheiro forte dos restaurantes e "botecos" de "Dona Flor e seus 2 maridos", as mulatas bonitas e os turcos a apregoar as mercadorias de "Gabriela", enfim... tudo parecia exposto para mostrar aos turistas o catálogo feito por Jorge Amado.
Admirei as muitas igrejas, tantas que ficamos a pensar se haveria fiéis que justificasse aquela quantidade, (2 e 3 no mesmo largo), com o traço das nossas igrejas do Minho e da Beira.
Pasmei com os bairros de gente rica, com altos muros a esconder as mansões, as câmaras de vigilância por todo o lado, os portões enormes, como se fossem quartéis de alta segurança, só mostrando o cimo das altas copas das árvores que enfeitam os jardins.
Comi os pratos deliciosos com camarão seco, caju, amendoim, óleo de dendê, leite de coco e peixe fresco, com odor tão agradável e uma cor tão forte, que não apetecia diluir com a mistura da farinha de mandioca.
Vi os praticantes de Capoeira exibirem a sua arte, que pode ser arma mortal, para ganharem uns dólares dos turistas. Eram rapazes altos, esguios, cor de chocolate, ágeis e certeiros, sem sorriso, que assustavam em cada atirar dos pés como se fossem pedras.

Comprei artesanato. Os célebres balangandans que dão sorte, o facão com que desbravam o mato e cortam a cabeça às cobras, bordados em linho e rendas de filé e de bilros.
Por fim, quis ir visitar a Igreja do Senhor do Bom Fim, tão famosa pelas fitinhas coloridas que tanta gente usa atada nos pulsos, para concretizar os pedidos feitos.
A Igreja está ao cimo de um largo e entra-se com o carro pelo lado direito e sai-se pelo esquerdo, como é normal. Logo à entrada da grande praça, estavam dezenas de garotos a vender molhos de fitas com o carimbo de "Lembrança do Senhor do Bom Fim", que atiravam pelas janelas dos carros e corriam para receber o dinheiro.Parei e perguntei o preço. Os 3 ou 4 miúdos que encostaram o nariz ao carro, não tinham sequer a altura da janela e esticavam-se para falar comigo. Um deles fez o preço. Apontou para o chão do carro, para onde eu atirara um saco de plástico transparente, com um resto de sandes e de bolo que não consguira comer, esperando encontrar um caixote do lixo para o deitar fora e pediu-mo.
Ainda lhe disse que era lixo, mas ele insistiu.
Fiquei muito perturbada. As camisolas de algodão que vestiam estavam em farrapos, os pés descalços e o sorriso enorme mostrava com entusiasmo os molhos de fitas.
A Igreja estava fechada e não pude visitá-la. Aproveitei para sair dalí rapidamente, pois o saco que o garoto levou, chamou a atenção dos outros e em dez de 4 eram já 20 ou 30 à volta do carro.
Nunca mais esqueci as caras dos garotos e percebi a poesia que Jorge Amado colocou na seu livro "Os capitães da Areia."

2 comentários:

nuno medon disse...

Pois, eu também já ouvi dizer que os míudos lá andam sempre á procura de migalhas :(! Bem sei que a realidade é assim e os meninos carenciados de Portugal, com quem eu já lidei, á vista deles são uns reizinhos, porque têm comida e têm uma instituição que lhes dá o lanche, que lhes dá almoço e jantar! beijos e bom fim de semana!

Anónimo disse...

Sou bahiana, de perto de salvador e gostaria de lhe dizer que se escreve BAHIA, e não BAÍA, que é um tipo de formação geografica..o nome do estado deriva disto mas é BAHIA