Alvorada

Há algum tempo que prefiro as manhãs, as madrugadas nascendo da noite e fazendo adivinhar o sol.
Se o pôr-do-sol é paixão, é grito, música de mil instrumentos, ópera, vestido de cetim, lâmina de espada silvando no ar, a alvorada é água correndo entre pedras polidas, canção de amor trauteada em surdina, chilreio de aves no ninho, xalinho de seda nos ombros nus.
A cada raio de luz que vai tornando mais claro o horizonte, a vida renova-se e o coração aquieta-se.
Se o sol não quisesse aparecer na sua hora marcada, como sala em que a persiana continua cerrada, como receberíamos essa recusa, como caminharíamos na noite que não acabara ?
Cada manhã, dou as boas vindas ao Sol e fico a observar o seu regresso, morno, sem pressa, entre névoa de tule, aquecendo e brilhando em progressão geométrica.

1 comentário:

Li disse...

O sol é sempre bonito, quer seja a nascer ou a por...:D