Menu vegetariano

Algumas das minhas colegas gostam de comida vegetariana e de vez em quando falam nisso. Quando combinam ir almoçar ao "Cantinho Saudável"eu arranjo sempre uma forma de me escapar e tenho conseguido convencê-las a ir antes à pizzaria ao lado, que faz uma pizza de ananás que é uma delícia. Mas hoje não consegui, estavam decididas! (O grupo dividiu-se e uma parte preferiu ficar nem que tivesse de comer só uma sopa...)
Como gabaram tanto a quiche de legumes e os bróculos com molho branco gratinado, achei que aquela repulsa podia ser mania minha e resolvi ir experimentar de novo... E lá fomos.
Chegadas ao restaurante, verificámos que não havia quiche, nem bróculos gratinados. Havia almôndegas de cereais, tofu com broa, feijão frade, bróculos cozidos e não sei mais o quê!
Já que estava ali, não iria dar parte de fraca. Na fila para o self-service, só pensava na pizza fofinha com muito queijo derretido a fazer fios até à boca, no ananás doce e sumarento e na mousse de chocolate caseira.
Chegou a minha vez de escolher e sentia que devia ir-me embora enquanto era tempo.
Bom, tinha que ser... estava escrito! Avancei.
Fizeram-me um pratinho com duas almôndegas, o tofu com broa, os bróculos e o feijão. Uma colherzinha de cada. Nem doce, nem bebida, nem nadinha de nada mais. A coragem que tinha angariado não chegava para experimentar o sumo de beterraba!!!
O tamanho do prato era de sobremesa, mas eu adivinhava isso como uma vantagem.
Não me esquecia do queijo derretido a fazer fios, ali duas ruas mais à frente... Uahmm, Uahmmm.
Depois de nos sentarmos com o tabuleiro à frente, tive esperança de que aquele pratinho de alimentos sem molho, sem brilho, sem cheiro, recusando misturar-se uns com os outros, ignorando-se mesmo depois de eu quase entornar tudo, sem cor definida (a não ser os bróculos que pareciam crus), se revelasse uma agradável surpresa de sabores.
Mas não! A esperança desvaneceu-se logo à primeira garfada. As almôndegas tinham na sua massa de flocos de cereais qualquer coisa que me parecia ser cebola. O feijão era mesmo e só feijão. Não tinha azeite, sal, vinagre, nada. Os bróculos sabiam a alho e acho que foi ele que "conversou" com a cebola toda a santa tarde, no meu estômago.
Comi, fiquei tão cheia que parecia ter engolido uma pedra, sem conseguir encontrar explicação para isso. Alimentos naturais, vegetais, sem gorduras, temperos e outros exageros, fizeram uma bola no meu estômago e não se cansaram de tagarelar até à 3ª chávena de chá, que bebi pelas 21h. Senti na língua aquele gosto ácido que não identificava, durante horas, apesar das águas, das tangerinas e das pastilhas elásticas, que mastiguei desesperadamente.
As minhas colegas perguntaram-me se eu tinha gostado.
Eu respondi: Como tenho perdido a memória ultimamente e já não consigo guardar as coisas por mais de mês e meio, podem voltar a convidar daqui a dois meses!
Por uns tempos vou voltar às gorduras, ao sal, à pimenta, aos molhos, ao bife com ovo e batatas fritas, às pataniscas e ao bacalhau com natas, tudo com uma salada de alface, tomate, pepino, cenoura e cebola, para não sentir remorsos, "temperados por um cego e mexidos por um louco".

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