A nossa casa

A minha mãe tinha mostrado vontade de viver na quinta e o meu pai construiu aí a nossa casa.
Como ficou pronta no mês de Dezembro, fomos lá passar a Noite de Natal.
Fizemos o presépio com musgo que apanhámos nos muros da quinta e pequenas figuras de barro que comprámos nas lojas da Rua da Cale.
Fazíamos rios com pratas de bombons, caminhos com serradura e neve com algodão em rama.
Não tinhamos árvore, bolas, fitas... Mas viviamos o Natal de forma apaixonada.
Já nessa altura tinhamos o hábito de comer ao jantar da véspera de Natal as tradicionais batatas com bacalhau e couve portuguesa. Depois, enquanto esperavamos a hora da Missa do Galo, eu via fritar as filhós ou fazia bonecos com pequenos pedaços de massa que me davam.
À meia-noite saiamos para a Igreja. Os homens ficavam na rua, à volta do madeiro e as mulheres entravam para assistir à Missa. (Os proprietários de terras ofereciam a madeira que iria arder toda a noite à porta da Igreja, o madeiro, à volta da qual os homens se juntavam e cantavam as canções ao Menino Jesus)
Eu, como todas as crianças, fazia um grande esforço para me manter acordada e mesmo assim, nem sempre o conseguia.
No regresso, bebíamos cacau quente e comíamos bolos e filhós antes de irmos dormir.
Pela manhã, na lareira da sala, lá estavam os nossos sapatos com um presente que o Menino Jesus nos tinha trazido.
Nesse ano, depois da consoada, já dormimos na casa que viria a ser o nosso lar até perdermos a sua alma... o nosso pai.

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