As palavras da alma

Só conheço o teu olhar.
Triste e indiferente, perdido nos pensamentos que teimam em voltar, sempre que reages e os afastas, tentando mostrar-te interessado no que te cerca.
Olhos negros e profundos que nada mais deixam transparecer que a tua dor.
Cruzam-se com os meus, mas não se iluminam, como se nem me visses, nem sentisses o que te quero dizer.
Olho pela janela e na rua a vida decorre igual, indiferente à minha solidão e aos teus pensamentos, que gostaria de afugentar.
De novo te fito e espero com um sorriso. Devolves-me o sorriso mais dorido que já conheci.
Sento-me a teu lado e recosto a cabeça no teu ombro. Procuras a minha mão e ficamos calados como se o silêncio nos mostrasse uma solução.
Passas a mão no meu cabelo, sem olhar para mim, como quem diz: Sei que estás aí, que estás comigo e eu também te quero muito. Mas o silêncio perdura.
Eu fecho os olhos e imagino-te com o rosto irradiando alegria, vindo ao meu encontro de braços abertos. Dás-me um abraço apertado e rodas-me no ar, enquanto eu rio, inclinando a cabeça para trás, pela força do rodopiar.
Como se adivinhasses onde pairava a minha fantasia acariciaste a minha mão com um doce gesto do dedo polegar. O teu afago foi leve e passageiro.
Fechaste os olhos também e fez-se noite escura naquele momento, para mim.
Fiquei quieta, respiração suave como se não existisse e o meu coração serenou com o calor da tua mão que continuava a segurar a minha.

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