Um pensamento

Hoje gostava de poder dizer-lhe como foi importante para mim... como é importante para mim.
Poder ir comprar um presente, um simples objecto que confirmasse, se isso fosse necessário, que não esqueci este dia. Procuraria uma das coisas que nos últimos meses tivesse notado que desejava e voltaria para casa toda contente só de imaginar a sua surpresa e o seu sorriso de satisfação.
Se não pudessemos estar juntos, sentir o seu abraço forte e doce ao mesmo tempo, ver os seus olhos claros e meigos brilharem de alegria, pelo menos ouviria a sua voz nas palavras que me enchiam de mimo, mas também de força para enfrentar este mundo e o outro.
Mas quem trazemos no coração, ouve tudo o que as palavras ainda não disseram, sente tudo o que os gestos ainda não mostraram.
Sabe que continua a ser o meu mestre, a minha inspiração.
A ausência fere e as saudades magoam demais.
Muitas vezes revolto-me por estar a sofrer e não o ter por perto para desabafar, para encontrar a razão que penso ter e que se recusam a dar-me, para ouvir aquelas frases tão sábias que sempre me dizia nos momentos complicados e tinham o dom de me esclarecer, de me fortalecer, de iluminar toda a minha vida num segundo.
Quando me saio bem, sim, quando me saio bem penso logo nos momentos em que dividiamos o entusiasmo, a alegria e em que fazia parte do meu triunfo, o seu sorriso.
Evitava ir contra a sua forma de pensar para não o desapontar e esforçava-me em dobro numa tarefa, para o ver orgulhoso.
Apesar de toda esta distância, estes céus, mares e firmamentos, continua a ser assim.
A sua lembrança está viva e a esperança de o voltar a abraçar dá-me conforto e alento.
Gostava de poder explicar como me encheu a alma encontrar, cuidadosamente guardado como se fosse jóia preciosa, um poema que lhe fizera ainda muito jovem, num dia como o de hoje.
Aquele papel amarelo e frágil, na sua insignificância, continha o maior significado de amor do mundo. O amor de quem fez o pequeno poema e o amor de quem o recebeu e guardou.
Hoje não tenho um presente, nem escrevi um poema, mas lembrei-me de transcrever uma poetisa que soube encontar as palavras onde todos os nossos sentimentos cabem - Sophia de Mello Breyner.
.
"Céu, terra, eternidade das paisagens,
Indiferentes ante o rumor leve,
Que nós sempre lhes somos. Vento breve,
Heróis e deuses, trágicas passagens,
Cuja tragédia mesma nada inscreve
Na perfeição completa das imagens.
.
Todo o nosso tumulto é menos forte
Do que o eterno perfil de uma montanha.
Cala-se a terra ao nosso amor estranha
-Talvez um dia embale a nossa morte."

Hoje é o dia de S. José, o dia do pai, o dia de todos os pais. Eu tive a benção de o ter, meu pai.
Todo o meu imenso amor para si, paizinho.

1 comentário:

nuno medon disse...

Olá! Isso é sinal que tiveste uma infãncia linda e que havia paz na tua casa. Quando os filhos sentem saudades dos Pais é muito bom sinal e o teu Pai era muito especial para ti. Achei lindo, lembrares-te dele no dia do Pai! beijos e um bom fim de semana!