Amor de sempre


Um dia destes fui às compras e antes de entrar no supermercado, fui espreitar as novidades na livraria.
Andava às voltas entre o expositor dos livros no top e o dos livros de teatro e poesia, quando reparei num rapaz que acabava de entrar.
Penso que não teria 20 anos ainda, alto, magro, vestindo roupa simples e com postura normal de um jovem.
Como os livros que eu procurava se encontravam nas duas prateleiras de baixo, da mais estreita e mal situada estante da loja, já praticamente atrás do balcão, eu era obrigada a ler os títulos quase de cócoras e a interromper constantemente a pesquisa com o "dê-me licença" do empregado.
Assim, entre o dar a licença e o esperar que o empregado passasse, reparei no tal rapaz, que parou a ver os títulos em destaque, depois olhou para o topo das prateleiras (gesto que eu também faço para ler os temas de cada estante) e encaminhou-se para a secção onde eu me encontrava.
Admirava-me quando via que os jovens gastam dinheiro em tudo menos num livro. Raramente encontro um rapaz ou uma rapariga numa livraria.
É mais fácil ver crianças sentadas no chão de volta dos livros que lhes são destinados, enquanto os pais fazem as compras, do que ver os jovens entrar senão para a secção de dvd e jogos de computador.
Hoje, porém, já começo a estranhar mais o facto de eles gostarem de ler e por isso fiquei espantada quando ele passou imenso tempo a folhear os livros de poesia.
Como havia tão pouca oferta, acabou por desistir e passar aos autores portugueses.
Tirava um livro com cuidado, abria-o com carinho e voltava a colocá-lo da mesma forma. Por fim, pegou num livro e dirigiu-se ao balcão. Era uma obra de Aquilino Ribeiro.
Quando foi pagar, o empregado perguntou-lhe se era para oferta e ele respondeu que não.
Saiu da livraria e quando o voltei a olhar através da montra, vi-o parar a apreciar o livro que tirara do saco, mal passara a porta.
Lembrei-me de como eu era quando tinha a sua idade. O meu gosto pela leitura, o meu amor pelos livros, o desgosto que sentia se alguém lhes dobrava uma página ou riscava a capa, a paixão pela escrita, a preferência pelas livrarias.
O livro em si, encanta-me. Numa livraria há sempre um que me escolhe, que se agarra a mim, que me chama, que me deixa saudades, se não o posso comprar.
Nada disto me foi incutido pela família ou pelos professores. Nasceu comigo e nunca esmoreceu. No meu pensamento está sempre qualquer coisa relacionada com a escrita e com os livros.
Tenho pena de não ser capaz de fazer com as letras o que aprecio em tantas obras, mas mesmo assim, esta é a minha vida - amá-las e apreciar aqueles que fazem coisas tão belas com elas.
É a minha vida.

5 comentários:

nuno medon disse...

Olá minha cara Mariazinha! Nem sabes como eu adorei ler este texto. Não é á toa que tens um enorme talento para a escrita. Gostava que um dia editasses um Livro. Quem sabe um conjunto de Estórias num livro! Aposto que terias muitas coisas para contar. És uma grande Mulher! Gostei das palavras e gostei de ler o texto. beijos e continuação de um bom descanso!

nuno medon disse...

Um beijo grande para ti! Hoje é o dia de todas as Mulheres :). Bom Domingo! Espero que te encontres bem. Hoje vou dar uma volta com o meu primo. A ensaboadela no meu espaço fez-lhe bem :).

Li disse...

Concordo inteiramente...adoro livros, adoro o cheiro a novo quando os compro e tenho muito cuidado com eles. Normalmente faço exactamente isso que esse rapaz fez, assim que saio da loja desfolho para apreciar e cheirá-lo. É tão bom...:D
O meu gosto pela leitura é genético, porque o meu pai também é assim...tinha em casa praticamente todas as obras que dei na escola, porque o meu pai já os tinha comprado há muitos anos. Alguns desses livros têm entre 30 e 40 anos. E estão todos impecáveis. :D

bjitos

nuno medon disse...

Olá Fugitiva! tudo bem? tens prémio no meu espaço! beijos e um bom fim de semana! Aproveita o sol!

Anónimo disse...

Um engarrafamento num corredor de uma livraria é coisa que vai sendo rara nos dias que correm.

Abraço...