Rita

Depois da análise de laboratório (nessa altura ainda não havia análises "pronto a usar" à venda nas farmácias e supermercados), que me disseram ter de ser feita numa rã, soube que se confirmavam as minhas suspeitas- estava grávida.
Tinha casado em Maio, na Basílica de Fátima, com uma festa tradicional. Vestido de noiva, véu branco com muitos metros, 2 padres amigos a celebrar a cerimónia religiosa e almoço no Hotel Pax com a família e os amigos mais próximos.
Agora, 6 meses depois, sabia que esperava o meu primeiro bébé e estava confusa. Penso que quase todas as mulheres nas minhas condições (não falo nas que têm de fazer tratamentos e aguardam a gravidez com a incerteza de a conseguir) ficam preocupadas com essa notícia.
Sabemos que com o casamento vêm os filhos, vemos as outras com os ventres estofados e o andar pesado, mas não sabemos como vai ser connosco, o que vai mudar na nossa vida, como vamos passar por tudo até termos um filho no colo. Se fiquei entusiasmada com a novidade, também surgiram dezenas de interrogações, de medos, de angústias.
Estava-se grávida e pronto. Não se faziam exames ao feto, não se previam anomalias, não se sabia nada... nem o sexo do bébé tão pouco.
Os primeiros 3 meses enjoei tudo. Foi horrível. Também não me deram qualquer medicamento que ajudasse nesse ponto. Depois, comecei a ficar melhor, com fome de morrer e a barriga a lembrar-me que não estava doente...
Tinha acabado de fazer o enxoval de noiva e recomeçava com o do "crianço" que vinha a caminho.
Tive de fazer novas roupas para mim, pois a cintura foi a primeira a desaparecer e não havia roupa para grávidas no "pronto a vestir".
Comprava roupinhas brancas, amarelas, azuis e verdes. Não escolhia o rosa, pois podia ser um rapaz e depois não ficaria bem com a cor das meninas.
Comprei a alcofa, o carrinho, a caminha de grades e fiz colchinhas de renda e xalinhos de lã macia.
Vivia o período mais feliz da minha vida...
Era muito mimada pois vinha lá o primeiro filho, o primeiro neto, o primeiro sobrinho!
Eu sentia-me óptima e expunha a minha barriga, que ficava maior a cada dia e me deixava redonda como uma pipa, com muito orgulho. Parecia que só eu tinha conseguido aquela façanha.
Preparei-me para o parto com o curso "O parto psicoprofilático", a que também chamavam "O parto sem dor". Quem lhe deu este nome era homem, de certeza.
Por fim, fiz a mala, arranjei o cabelo e as unhas e fiquei à espera.
Depois de um fim de semana muito comprido, na 2ª feira, dia 17 de Julho, às 11,30 h da manhã, no Hospital Particular de Lisboa, chegou. Era uma menina.
Pesava 3,100 kg e media 49 cm. Tinha o nariz arrebitado e a carinha redonda como uma laranja.
Chorou ao nascer e mamou poucas horas depois.
Foi muito visitada no berçário, onde de nariz encostado ao vidro, toda a família a achava a criança mais linda do mundo. Tinha o cabelo preto, farto e em pé, espetado como se fosse de arame. Muitas vezes ouvi a frase "Tão linda, que pena ter assim o cabelo!"
Até a isso, todos achávamos graça.
O pai disse que ela tinha cara de Ritinha e eu concordei. Foi registada Rita, diminutivo de margarida, flor.
Ao quarto dia, tivemos alta, as duas. Regressámos a casa, o pai e eu, com o nosso maior tesouro na alcofinha e um enorme sorriso de felicidade. Eu tinha de novo uma boneca...
Ontem completou mais um aniversário e também ela, esperando um filho já nos últimos dias, tem a mala pronta para ir a qualquer momento para o Hospital. Só que já leva o enxoval em azul e já escolheu o nome para o meu neto- Tomás.

Parabéns Ritinha, continuas a ser a minha alegria, a minha vida.

Sem comentários: