Pai

Não me perdoes, Pai – que ingrato sou!
Para remir a soberba em que me perco
Só por pecos garatujos me acerco
De quem por vida o verbo me doou

Tanto cantei o amor sem perceber
Que em todos os lugares e momentos
Jamais eu disse mais que os sentimentos
Que o teu sentir me deu a conhecer

Dos mundos, vidas, almas que me deste
Recusou-se a abrir mão esta memória
Temendo que ao usá-los os perdesse

Digo-te só que mais faria se tivesse
Engenho para plagiar a história
Que sem papel nem pena escreveste
.
*António Leal Salvado

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