"Teorias"

Vão desaparecendo certas "teorias" sobre grávidas e bebés, que as pessoas contavam na minha terra, plenamente convencidas daquilo que defendiam.
Quando uma grávida chegava, logo as outras mulheres se apressavam a adivinhar se estava à espera de rapaz ou de rapariga.
Umas diziam que era o feitio da barriga- redonda para rapariga, bicuda para rapaz.
Outras, adivinhavam o sexo do bebé pela cara da mãe- se tinha a boca inchada e a pele manchada, era menina. Se "estava bonita", era rapaz.
Outras faziam o jogo da agulha. Uma agulha com linha enfiada, fazia pêndulo na mão da futura mamã- se ficava parada (ou se movia em círculo, não sei bem), era menina. Se balançava em movimentos rectos, era rapaz...
Estas teses eram defendidas com ar convicto e diversos exemplos que comprovavam a infalibilidade.
O médico que me assistiu durante a gravidez dos meus filhos, Dr. Kirio Gomes, tinha uma teoria mais simples e acertava sempre.
Dizia à futura mamã que vinha lá um rapaz e escrevia na ficha- menina. Quando o bébé nascia, se a mãe o confrontava com o facto de se ter enganado, mostrava-lhe a ficha e pronto!
Nem se imaginavam os tempos em que basta fazer uma ecografia.
Quando o bébé tinha soluços, arrancavam um borboto da roupa, molhavam-no na boca e colavam-no na testa da pobre criatura! Não seria higiénico, mas resulta sempre, dizem.
Recomendavam que as grávidas não metessem botões, chaves ou outras coisas do género nos bolsos, junto à barriga, porque as crianças nasciam com as marcas desses objectos.
Entretanto as mulheres devem ter-se rebelado contra o "resguardo" de 40 dias depois do parto de um rapaz e 30 dias de uma menina. Era um período de tempo em que a mãe não saía da cama e só comia canja de galinha! Até nisso os rapazes tinham mais regalias!
Coitadas das mulheres que trabalhavam duramente até ao momento de darem à luz e no dia seguinte voltavam ao trabalho com o filho, que deitavam num cesto, aconchegado numa mantinha, debaixo de uma árvore, enquanto apanhavam as batatas ou tratavam das hortas e das vinhas. Dirão que é imaginação minha!
Para os bebés não fazerem hérnias umbilicais, quando choravam muito, punham uma moeda no umbigo.
Diziam também, que cortar o cabelo do bebé antes do ano de idade, fazia com se atrasassem na fala.
E outras coisas engraçadas, que estão a ficar esquecidas, como as consequências dos desejos da mamã.
Se à mãe lhe apetecia qualquer alimento que não comia, fosse qual fosse a razão, diziam que o bébé nascia com a boca aberta ou com os cabelos em pé.
Fui ao Fundão passar o dia de Todos os Santos, dia 1 de Novembro. A minha mãe tinha guardado uma melancia com cuidado, esperando que não apodrecesse antes de irmos lá. Era muito doce e eu comi umas quantas fatias.
Quando voltei para Lisboa, comecei a sentir-me enjoada e soube que estava grávida. Tinha sempre sede e só me lembrava da melancia do Fundão. Todos tentaram encontrar aquele fruto nos mercados ou nas casas de produtos especiais, mas não era época da melancia e eu não pude satisfazer o meu apetite.
O desejo era tão grande, que um dia vi em cima da cómoda alguma coisa que me pareceu ser uma fatia vermelhinha. Mostraram-me depois, um papel que amachucaram e deixaram ali esquecido...
Disseram logo que foi por isso que a Rita nasceu com o cabelo em pé!!!

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