Esperar

Entre um  e outro solavanco, fui sempre acarinhando uma lembrança da  juventude.
Os mais pequenos pormenores dessa  página da minha vida resistiram a dias bons, a dias de  temporal, a momentos de desespero e períodos de mudança, inalterados, como se tivessem sido gravados na pele.
Anos passaram e se a lembrança se mantinha na mesma dimensão, a saudade e a vontade de reviver aquele episódio aumentavam de uma forma que me provocavam cada vez maior sofrimento.
Sentia que o meu tempo era escasso e teria de fazer alguma coisa antes que ele se esgotasse.
Todas as tentativas foram inúteis.
Um dia, num sábado à noite, entretida na rotina que me ajuda a manter indiferente a tudo o que me magoa, essa lembrança tomou forma e concretizou-se perante o meu olhar espantado e incrédulo.
Eu não conseguira encontrar, mas fora encontrada. E se na juventude ficou aquela cicatriz, agora, ela própria se descolava da pele, tomava forma e deixava-me o coração em sobressalto.Como a tatuagem duma borboleta que toma corpo e voa.
Com toda uma vida pelo meio, aquele sentimento renascia e mostrava que continuava vivo, apesar da longa espera.
Parece que sempre soube que esperar era a única forma de poder voltar a viver.

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