Voar, voar, voar...

Hoje apetecia-me ser borboleta e poder voar, voar, voar .
Em casa, com um pé magoado, sem poder movimentar-me àvontade, começo a ficar melancólica.
Não me apetece escrever, ler ou ver tv.
Os poucos passos que posso dar, não saem do mesmo lugar, por má sina minha.
Se eu pudesse voar, não precisava de ser águia ou falcão.
Bastava ser gaivota para andar sobre as ondas do mar, pousar nas rochas com cheiro salgado a algas rosadas e sentir a maresia passar suave e fria.
Podia ser um flamingo também, pois eles equilibram-se bem numa só perna. Alem disso, têm uma plumagem rosa muito bela, são elegantes, altivos e gostam de horizontes largos.

Não queria ser canário, apesar de os achar lindos e de encantarem com os seus trinados.
Nunca vi nenhum em liberdade... vejo-os sempre em gaiolas, saltando de um poleiro para o outro, de olhos fitos nas grades que os prendem. Como podem ter vontade de cantar?
Talvez ser ave migratória, ir para longe e poder voltar, subir alto nos céus e descansar nas escarpas solitárias. (Mas penso que seria uma vida muito cansativa... detesto fazer e desfazer malas.)
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Acho que escolheria mesmo ser borboleta. Nunca conheci nenhuma velha, enrugada, feia, gorda ou mal asada, como dizem no Fundão. São todas de uma beleza estonteante.
Airosas, coloridas, graciosas, ágeis, bailarinas de danças sensuais, vestidas de roupagem de festa, aveludada, quer sejam pequenas e cinzentas, ou garridas e extravagantes.
Andam de flor em flor, misturando com elas as suas cores, as suas formas, fazendo-lhes inveja com a sua dança de sevilhana com saia de mil folhos.
Levam nas patinhas pantufas de pólen doce e perfumado, que oferecem mais adiante às que as recebem com amabilidade nas suas corolas de toque acetinado.
Em cada volteio de dança ritmada, riem em gargalhadas como mulheres escandalosas que soltam os cabelos e estendem os braços até tocar as nuvens.
E depois, renovam-se com a rapidez de raio de luz, como um sopro de madrugada.
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Seria a Corcovado... ou a Gema. Talvez a Prepona, que de tão discreta é a mais enigmática.
Se eu hoje pudesse, sairia em direcção ao mar, pousaria em cada rosa, em cada jasmim, correria nas nuvens para ver o pôr do Sol riscar onde começa o céu e acaba o mar, planaria no suão e tremeria com a nortada, riria da terra, das pedras, das árvores que permanecem no seu lugar, sem gozarem o prazer da liberdade.
Mas como tenho o meu pé doente, só me resta escolher a borboleta mais bela e... sonhar!

1 comentário:

Unknown disse...

Bom dia Maria Susete.
Mesmo com o pé doente continuas a escrever maravilhosamente.
Não é que uma coisa tenha a ver com a outra. Mas acaba por ter, pois o desanimo escurece a alma e leva a inspiração. Força continua em frente. Quem não te conhece, ou porque não deixas ou porque não querem, não sabem o que perdem.
Um beijinho.