Goethe

HISTÓRIA DE UM POEMA COM FOLHAS DE ÁRVORE-AVENCA

No dia 15 de Setembro de 1815, o poeta alemão Johann Wolfgand von Goethe escreveu um poema para a sua namorada Marianne von Willemer. Inspirou-se numa Árvore-Avenca (Gingko biloba) que viu no jardim do castelo de Heidelberg. No dia 23, encontrou-se com Marianne pela última vez e mostrou-lhe a árvore. No dia 27, enviou-lhe o manuscrito, ao qual juntou... duas folhas dessa árvore.
A árvore tem muitas outras particularidades. É uma das plantas medicinais mais utilizadas e foi a única a resistir aos bombadeamento atómico de Hiroshima. Mas a razão da escolha de Goethe é a forma bifurcada das folhas ('biloba', dois lóbulos), ideal para ilustrar o tema do poeta: a unidade/dualidade.
O poema foi magistralmente traduzido por JOÃO BARRENTO.
O manuscrito original, com as duas folhas coladas pelo próprio Goethe, está no Goethe Museum de Dusseldorf. É a imagem que reproduzimos hoje.


JOHANN WOLFGANG VON GOETHE, in DIVÃ OCIDENTAL-ORIENTAL (1819), in OBRAS ESCOLHIDAS DE GOETHE, vol. VIII POESIA, trad. de JOÃO BARRENTO (Círculo de Leitores, 1992)



GINGKO BILOBA

Esta folha, que o Oriente
Ao meu jardim confiou,
Dá a provar o secreto
Saber que o sábio formou.

É um ser vivo que em si
Mesmo em dois se dividiu?
Ou são dois que se elegeram
E o mundo neles um viu?

Dessas perguntas que fazes
O sentido certo te dou:
Não sentes nos cantos meus
Como eu uno e duplo sou?


(15-9-1815)

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Fotografia: manuscrito do poema original de Goethe (Goethe Museum, Düsseldorf)

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Nota: Esta é a árvore que tenho no meu pequeno jardim e que adoro.

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